O PT pretende nacionalizar o escândalo das fraudese propinas milionárias em
licitações dos contratos das estatais Metrô e Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), que se estenderam por mais de uma década
nas gestões tucanas no governo de São Paulo - desde meados dos anos 1990
até 2008. Para isso, concentrará forças na instalação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito no Congresso, onde o partido conta com a base
aliada do governo Dilma Rousseff. Até ontem à noite, ainda não estava
definido se a comissão será mista, englobando as duas casas
legislativas, ou acontecerá apenas na Câmara. O deputado Paulo Teixeira
(PT-SP), articulador da comissão, ainda estava concluindo os principais
pontos do requerimento.
Já a abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo (Alesp) enfrenta mais dificuldades. Esbarra no fato de o PT e
demais partidos de oposição contarem com a assinatura de apenas 26
parlamentares. Eles precisam do apoio de 32 de um total de 94 deputados
da Alesp. Ou seja, de seis assinaturas de deputados de apoio ao governo
Geraldo Alckmin, que está no olho do furacão. Apesar das dificuldades, o
líder da bancada do PT na assembleia, Luiz Claudio Marcolino, está
tentando convencer alguns parlamentares rebeldes da base governista a
apoiar a instalação da CPI. Por isso, o partido aposta numa CPI de
âmbito nacional no Congresso, em Brasília.
Já o PSDB quer manter o assunto na esfera estadual, apesar das poucas
chances de a CPI sair na Alesp. Foi o recado dado pelo líder do partido
no Senado, Alvaro Dias (PR). "Uma CPI na assembleia paulista seria,
certamente, oportuna, já que se trata de uma obra estadual no âmbito do
governo de São Paulo", defendeu Dias, em discurso no plenário ontem. O
senador Humberto Costa (PT-PE) rebateu, alegando ser "um assunto que
interessa ao Congresso porque envolve também recursos públicos
federais". Ele completou lembrando que a base de apoio do governador
Geraldo Alckmin atuou para derrubar o pedido na Alesp.
Tapete
Embora ainda não tenha uma posição da bancada, peemedebistas que
integram a base da presidente Dilma Rousseff no Congresso, adiantam que
apoiarão a criação da CPI para investigar o escândalo da propina em São
Paulo. "Acho que está na hora de passar o país a limpo. Não se pode
jogar tudo para debaixo do tapete", diz o deputado Lúcio Vieira Lima
(PMDB-BA), acrescentando que é preciso apontar quem são os corruptos
para que a população não generalize a classe política. É o mesmo
discurso do deputado Danilo Forte (PMDB-CE). "Onde há dinheiro público
deve ter uma análise sobre denúncias", defendeu.
Parlamentares da oposição são mais cautelosos. O líder do DEM na
Câmara, Ronaldo Caiado (GO), diz que é preciso ter algum fato que motive
uma investigação nacional sobre o assunto. "Já vai ter uma CPI no
estado. Vamos ver o que o PT vai alegar para que haja outra investigação
no Congresso. Então, definiremos a nossa posição", disse. O presidente
nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), garantiu que apoiará a
instalação de CPI do cartel paulista no Congresso, porém, sem muita
convicção. "É preciso que o PT se lembre da CPI do Cachoeira. O
ex-presidente Lula mandou criar e depois se arrependeu. Deu no que deu",
alfinetou.
Delação
O escândalo das fraudes milionárias em licitações dos contratos das
estatais paulistas Metrô e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM) veio à tona em 2009. Alguns dos 60 inquéritos abertos, no
entanto, foram arquivados pelo Ministério Público do Estado de São
Paulo, sob a alegação de falta de provas.
Agora, com o acordo de leniência firmado, em maio deste ano, pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) com a multinacional
Siemens, que concordou em delatar todo o esquema, os promotores
informaram que os processos serão desarquivados. Alegam que há
informações e documentos novos nas investigações do órgão do Ministério
da Justiça, que fiscaliza a livre concorrência no mercado. O
ex-governador José Serra negou ontem qualquer envolvimento nas fraudes e
disse que sua gestão atuou no combate ao esquema. "Nós fizemos uma luta
anticartel", afirmou a jornalistas, após uma palestra na Associação
Comercial de São Paulo.
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