Ruas e redes sociais rompem a blindagem
Publicados em páginas diferentes e com manchetes distintas, certos fatos
aparentam não ter muito em comum. Mas têm tudo a ver. A gangorra nas
pesquisas eleitorais tem, óbvio, a ver com as ruas de junho e julho. E
as ruas têm relação com má gestão. E com noticiário sobre corrupção.
A internet tem 94 milhões de usuários no Brasil; 52 milhões são usuários
ativos. E foi assim que se rompeu a blindagem. Não dá mais para se
escalar qual é a instituição ou o partido malvadinho da ocasião.
Não dá mais para fazer de conta que um partido é sujinho e outro é
limpinho. Os fatos estão aí. Sempre estiveram. Não viu, ou não noticiou,
quem não quis.
O PT, que até chegar ao poder era juiz dos crimes alheios, cometeu
crimes. Alega que os crimes foram outros, e não os que levaram à
condenação de vários dos seus, mas fato é que cometeu.
Assim como PMDB, DEM, PTB, PV, PL, PDT, PP… e o grande acusador dos últimos anos, o PSDB, cometeram seus crimes.
O que se tenta agora é embaralhar trilhos no rastro do escândalo do
Trenzão; ação em que governos do PSDB paulista são acusados de produzir
um superfaturamento de R$ 425 milhões. Com direito a propinas
milionárias.
Há novidade nisso? Em parte há. Em troca de um acordo que deixa empresa e
dirigentes limpos, a multinacional Siemens está entregando. Entrega ao
Conselho Administrativo de Defesa Economica, CADE, a história do cartel
de 20 anos na área de metrôs e trens, em especial em São Paulo e
Brasília.
A história nasce de uma mega-investigação no exterior. Lá a Siemens e a
francesa Alstom já têm demitidos e presos. Aqui os tucanos dizem não ter
acesso às informações levantadas no processo do CADE. Isso é conversa
mole.
Desde 1995 o ministério público de São Paulo arquivou 15 inquéritos
sobre o tema. Com documentos, a revista ISTO É desta semana prova: em
2008, 2009 e 2010 o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado
alertaram para vícios e irregularidades nos contratos.
E em agosto de 2009 a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi
ordenou o sequestro de bens de Robson Marinho, conselheiro do Tribunal
de Contas. Marinho, tucano de primeira hora, acusado de receber propina
da Alstom.
Como se surpreender se, apesar da blindagem, Robson Marinho e Alstom já
eram notícia há 4 anos? Agora se fala em propinas de US$ 20 milhões para
partidos e em contas na Suíça. Como simular que o assunto é
novidadeiro?
Quem se espantará se isso tiver a ver com o pagamento de campanhas
eleitorais? E não apenas. E como dizer que a trilha dos paraísos fiscais
é desconhecida?
Recordemos estudo feito por James Henry, ex-economista-chefe da
consultoria McKinsey. Estudo esse encomendado pela Tax Justice Network e
publicado há um ano.
Henry mostra que, só até 2010, os super-ricos brasileiros tinham cerca
de US$ 520 bilhões em paraísos fiscais. Isso dá R$ 1,196 trilhão. Pouco
mais de 27% do PIB do Brasil.
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