1) A presença exuberante e renovadora de Luciana Genro
Com seu sotaque gaúcho, com suas melenas encaracoladas e com sua
sinceridade desconcertante, ela dinamizou o debate político ao trazer à
cena temas como a criminalização da homofobia, a legalização do aborto e
a regulação da mídia.
Em um de seus momentos supremos, mandou que Aécio baixasse o dedo esticado para ela no debate da Globo. Aécio obedeceu.
2) Os memes de Eduardo Jorge
Os internautas fizeram uma festa com frases e fotos de Eduardo Jorge depois do primeiro debate entre os candidatos, na Band.
“Finalmente descobri o que é meme”, escreveu Eduardo Jorge em sua conta divertida e concorrida no Twitter.
Logo as pessoas descobririam que EJ não é apenas folclórico. É um homem
de conteúdo, e o mais capacitado defensor de uma economia
ambientalmente saudável.
Mas não se limitou ao meio ambiente. Foi ele que informou vigorosamente
aos brasileiros que 800 000 mulheres são criminalizadas anualmente no
país por conta de uma anacrônica legislação de aborto.
Ao lado de Luciana Genro, virou uma estrela entre os jovens que sonham com um Brasil melhor.
3) A morte de Eduardo Campos
O país chorou a queda do avião que matou Eduardo Campos e seu sonho de ser uma alternativa à polarização entre o PT e o PSDB.
Uma foto recente da viúva Renata com os filhos — todos sorridentes, num
cartaz de apoio a Marina — trouxe satisfação a todos os que se
comoveram com a tragédia de Campos.
4) As entrevistas do Jornal Nacional
Bonner e Patrícia Poeta, para surpresa geral, se dedicaram a dar pancadas indiscrimidamente nos candidatos que entrevistaram.
Interrompiam respostas seguidamente, e por instantes pareceram ser mais
que dois leitores de notícias de um telejornal cuja audiência
despencou na Era Digital para a casa dos 20% — uma ninharia para quem,
anos atrás, tinha 60%.
Uma segunda surpresa viria logo depois. A primeira vítima das
entrevistas do JN foi Patrícia Poeta. Uma das versões é que ela não
bateu o suficiente, mas é mais fácil crer que a real razão de sua saída
do JN foi o vazamento da informação de que ela está comprando um
apartamento de 12 milhões de dólares.
5) A Marinamania
Marina chegou bombando, em substituição a Eduardo Campos. A cada
pesquisa subia, e por alguns dias pareceu a franca favorita para a
vitória.
Mas havia em seu caminho Silas Malafaia. Quatro tuítes de Malafaia, pode-se dizer hoje, destruíram a Marinamania.
Neles, Malafaia ameaçava tirar o apoio de Marina caso fosse mantido o texto pró-comunidade LGBT de seu programa.
Marina piscou. Começou ali seu declínio. Ficou fácil, para os
adversários, colarem nela a marca de uma pessoa hesitante e errática.
6) A ressurreição de Aécio
No auge da Marinamania, Aécio virou coadjuvante, espremido entre Dilma e
Marina. Aliados já começavam a flertar com Marina, e a plateias no
exterior FHC reconhecia que as coisas estavam realmente feias para seu
candidato.
Só uma pessoa parecia acreditar em Aécio: o próprio Aécio.
Graças a essa fé cega em si mesmo, e também por conta das vacilações em
série de Marina, Aécio chegou ao 5 de outubro com reais chances de ir
para o segundo turno.
O morto estava vivo.
7) A estupidez homofóbica de Levy
Levy Fidelix era uma piada até se converter numa infâmia no debate da
Record ao fazer um discurso grotesco contra os homossexuais.
Num mundo menos imperfeito, ele sairia da Record algemado.
O lado bom de uma situação horrorosa é que involuntariamente Levy
contribuiu para que a questão da criminalização da homofobia ganhasse
destaque no final da campanha.
8) O ganho de confiança de Dilma
Nas primeiras sabatinas, Dilma pareceu frequentemente tropeçar nas palavras e no tempo de resposta.
Mas depois foi se afirmando e acabou a campanha muito melhor do que começou.
Numa passagem memorável, perguntou a um jornalista do Globo — que pedia
que falasse menos — quem, afinal, estava sendo entrevistado.
Foi notável, também, a maneira engenhosa como ela virou a seu favor o debate sobre corrupção.
Antes, no governo FHC, um “engavetador” geral da República tratava de
colocar as denúncias na gaveta. Agora, elas são investigadas.
Da defesa, ela saiu para o ataque — e mudou a natureza do debate no
país sobre a corrupção, uma arma sempre usada cinicamente pela direita
contra governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.
Paulo Nogueira
No DCM
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário