domingo, 5 de outubro de 2014

Nicolelis: “Nunca o Brasil foi melhor do que está hoje”

Do Viomundo - publicado em 4 de outubro de 2014 às 19:03

Nicolelis twitter 3Nicolelis e Lula 2 Nicolelis - twitter 1
por Conceição Lemes
No domingo passado 28, o neurocientista Miguel Nicolelis declarou no twitter o seu apoio à reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Nicolelis é professor da Universidade de Duke, nos EUA, e criador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, (RN). É o coordenador do projeto “Andar de Novo”, que reúne cientistas de 25 países. É um dos maiores neurocientistas do mundo. E um dos poucos que assumem ser de esquerda. 

Nicolelis justifica o apoio à Dilma: “Eu estou apoiando um projeto de Brasil, um projeto de nação. Eu pessoalmente vi os resultados das mudanças nas universidades brasileiras, na qualidade de vida da população mais humilde do Nordeste, que eu conheço bem, pois viajo para as cidades do interior”.
Em 2010, preocupado com a campanha obscurantista e de ódio promovida por José Serra, então candidato à presidência pelo PSDB, Nicolelis fez questão de vir ao Brasil e declarar o seu apoio à eleição de Dilma.

Ele escreveu um documento, que o Viomundo publicou, manifestando o seu apoio a Dilma contra a campanha de ódio que Serra estava fazendo naquele instante.

Imediatamente Nicolelis passou a ser alvo de uma campanha de difamação.

O seu artigo publicado no Viomundo foi traduzido para o inglês e jogado em sites de extremistas religiosos nos EUA. Naquela semana, Nicolelis tinha sido nomeado para a Academia de Ciências do Vaticano. Desde então, espera tomar posse.

A campanha de difamação e agressões não pararam mais.

“Eu publico trabalhos científicos nas maiores revistas científicas do mundo. Às vezes, aqui eles são diminuídos não pelo conteúdo, mas por ser quem eu sou”.

“Tanto que colunistas de Folha, Estadão e Veja, quando falam dos meus trabalhos científicos, me introduzem como petista e palmeirense”.

“O fato de eu ser torcedor de um time de futebol e apoiar um partido político – eu não sou filiado ao PT — não tem absolutamente nada a ver com a minha caracterização científica. É um direito meu como cidadão ter uma opção política”.

“Isso é feito propositalmente para desqualificar o meu trabalho como cientista, já que hoje em dia a grande mídia relaciona o petismo como algo demoníaco”.

“Eu apoio um programa, que, na minha opinião, é o melhor para o país, mesmo com as limitações que ocorreram em alguns instantes”.

“É um programa melhor não só no aspecto científico e educacional. Também no aspecto de saúde pública, economia, desenvolvimento, de visão do futuro”.

“Eu apoio a redução da miséria, como ela ocorreu. Eu apoio a redução da desigualdade. E apoio, ao mesmo tempo, uma economia de inovação científica e tecnológica, tendo o homem como o centro do universo literalmente. Essas ideias que são absolutamente naturais”.

“Se eu fosse um puxa-saco do Serra ou do Fernando Henrique, por exemplo, eu seria um herói para essa mídia que tenta me detonar. Para mim está muito claro: se eu apoiasse outro partido, eu não teria sofrido a campanha que sofri nesses quatro anos”.

Sobre a repercussão no exterior e no Brasil do chute inaugural da Copa do Mundo dado por um jovem paraplégico, usando roupa robótica, Nicolelis conta:

“Nos últimos três meses, eu corri o mundo, dando palestras, contando a história do projeto “Andar de Novo”.

“Falei em vários países da Europa, como Suíça e França. Falei no Caribe, em Trinidad Tobago. Falei em várias universidades americanas”.

“Lá fora, todo mundo ressaltou a importância do gesto simbólico do chute”.

“Todo mundo entendeu que a questão das imagens não estava sob o meu controle. O fato de a TV Fifa ter decidido só mostrar 8 segundos dos 30 previstos não era da minha alçada. Eu não controlava essa variável”.

“O fato mais importante é que a gente cumpriu o que havia proposto. Estávamos lá”.

“Tanto que diversos projetos iguais estão explodindo agora em todo mundo. Só que nenhum ainda tem a capacidade que a gente conseguiu criar em 18 meses”.

“Nós ficamos internados em são Paulo de 4 de março até 12 de junho. Não houve folga. Vieram cientistas do mundo inteiro para cá, para trabalhar no projeto, que aliás, continua.

“Os meus colegas americanos e europeus ficaram impressionados, abismados, com a tentativa de sabotagem do projeto pela Folha, Estadão e Veja”.

Aproveitei e perguntei sobre a celeuma em torno do método usado para o jovem paraplégico andar. Folha, Estadão e Veja bateram na mesma tecla: Nicolelis sempre usou nos seus experimentos métodos invasivos, mas na Copa recorreu a um método não-invasivo. Resposta dele:

“Engraçado que afora esses veículos, ninguém, em lugar nenhum do mundo, questionou isso. Porque o método não invasivo é, sem dúvida, a primeira opção. É a melhor opção sempre. Nós estávamos vendo o limite da técnica, para saber o que vai ser preciso fazer com método invasivo que ainda não está pronto para ser humano”.

Sobre os vários exoesqueletos lançados nos últimos tempos, Nicolelis explica:

“Nenhum tem a capacidade de controle cerebral, como o nosso”.

“Por exemplo, na semana passada, reportagens mostraram a imagem de um senhor que se levantou da cadeira de rodas no casamento da filha. Ele não fez nada. Foi o robô que o carregou. O robô foi o veículo”.

“Nós não queríamos um veículo. Nós queremos dar ao paciente o controle da máquina”.

“Nos exoesqueletos que existem, o paciente tem que fazer força com os braços para manter-se em pé e caminhar. Só que é preciso muita força e o paciente não consegue mais do que alguns minutos. Os que conseguem são exceções. Além disso, o esforço físico causa efeitos colaterais que não são desejáveis. Por isso, nós estamos levando o nosso para um sistema completamente diferente”.

Voltamos a falar das agressões. Dizem que o senhor apoia a reeleição da presidenta Dilma, porque recebe verba do governo brasileiro. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

“Uma minoria confunde as coisas. Primeiro, não é porque o Brasil pagou parte da pesquisa do exoesqueleto que eu não posso ser a favor desse governo. No mundo inteiro, as pesquisas são pagas pelo poder público. Segundo, em todos os projetos que eu desenvolvo no Brasil, eu trabalho de graça.
É o caso do projeto “Andar de Novo”. Também da escola e do centro de saúde em Macaíba, no Rio Grande do Norte.

“Se o governo brasileiro investiu no nosso projeto em Natal é porque viu nele benefícios para a população brasileira que está sendo atendida. Na periferia de Natal, não tem outra clínica materno-infantil a não ser a quer faz parte do nosso projeto.

Nós atendemos 13 mil mulheres este ano. E vamos atender 26 mil em 2015. Quem vai cuidar delas?
 Quem vai cuidar das 1.500 crianças que nós cuidamos e que serão 3 mil em 2015? Quem optou por fazer ciência de alto nível lá em Macaíba? Ninguém, a não ser nós. Então qual a benesse que recebo? Eu não recebo benesse nenhuma”.

Sobre a candidata Marina, Nicolelis salienta:

“Para começar, Marina não tem convicções firmes de que o estado laico deva ser protegido. Além disso, uma candidata que nega a teoria da evolução, os preceitos mínimos da ciência moderna, que acha que a Terra só tem 4 mil anos, não é a pessoa condizente para gerir uma das maiores economias do mundo no século XXI”.

Nicolelis vive nos Estados Unidos há 30 anos. Por conta das contingências da sua vida, é a primeira vez que vai votar. Está vibrando:

“Eu era estudante de estudante de Medicina quando participei, em 1984, do comício das Diretas, em São Paulo”.

“Aquilo que eu imaginava quando era moleque está acontecendo agora”.

“Eu imaginava um Brasil onde a potencialidade humana pudesse aflorar e melhorar as condições de vida da população, estabilizar a democracia brasileira, ampliar o papel do governo brasileiro na melhoria da felicidade humana do país. Também que as pessoas sentissem que fazem parte dele e não só uma camada da população”.

“Meu pai tem 80 anos. Ele não é petista e nem chega perto. Outro dia ele vira para mim e fala: “Nunca o Brasil foi melhor do que está hoje”.

“Pergunte para o seu vizinho, pergunte para qualquer pessoa na rua se a vida está melhor hoje”.

“O Brasil tem problemas? Tem. Todo país tem problemas, tem coisas que não estão sendo feitas corretamente. O Brasil tem corrupção? Tem. Só que pela primeira vez na história a corrupção sendo desenterrada do chão e colocada na sala de estar. Nós sabemos que lá atrás, quando metade das empresas brasileiras foi privatizada, houve falcatruas. Nós sabemos inclusive quem foram os responsáveis. Só que isso continua enterrado no chão”

“Por isso, a pergunta que eu faria a todo mundo na hora de votar seria esta: “A sua vida está melhor hoje do que em 2002, quando a oposição estava no comando do Brasil?”

“ Se de alguma maneira a sua vida melhorou é porque o Brasil está melhor. Se o Brasil está melhor é porque o projeto de país que está aí é melhor do que o que existia antes”.


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