Blog Balaio do Kotscho
Na cacofonia provocada durante a campanha eleitoral pelas conversas
de motoristas de táxi misturadas ao som das análises do sociólogo
Fernando Henrique Cardoso, revela-se também como nossa sociedade é
bipolar, ao defender uma coisa e praticar exatamente o seu oposto.
Quem percebeu isso foi minha filha Mariana Kotscho, também veterana
Reproduzo abaixo o que escreveu Mariana:
"Tem gente que reclama da criminalidade, mas compra drogas e assim alimenta o crime...
Tem gente que reclama da falta de água mas continua lavando a calçada com mangueira...
Tem gente que reclama da corrupção, mas não perde a oportunidade de comprar a carteira de motorista...
Tem gente que não trabalha, vive de renda, de herança, e diz que o bolsa família é que sustenta vagabundo...
Tem gente que fala em respeito, mas não perde a oportunidade de agredir o outro ou fazer piada racista...
Tem gente que diz que a vida dela tá péssima, mas mora em casa
própria, frequenta as melhores escolas e os melhores hospitais e viaja
pro exterior pelo menos duas vezes por ano...
E tem gente que em rede social fala que ama o povo nordestino, que
somos todos brasileiros e, em grupos privados de whatsapp, manda um
monte de vídeo acabando com o nordeste...
Tem gente que faz doação pra ajudar famílias pobres, mas se incomoda demais quando tem que se sentar ao lado delas no avião...
Ou seja, tem todo tipo de gente por aí...
E você, tem mais algum exemplo da bipolaridade da nossa sociedade?"
Volto eu. Desde pequena, Mariana me surpreende e comove com o que
fala e escreve, principalmente por seu agudo senso de justiça. Digo
sempre que é uma prova da evolução da espécie... Também conheço um
montão de gente desta sociedade bipolar, mas nunca tinha me dado conta
da dimensão desta doença, que se alastra pelo país.
É isso que explica porque, aqui em São Paulo, a maioria dos eleitores
quer não apenas derrotar Dilma e o PT nas urnas, mas também degolar a
presidente e, se possível, acabar com o seu partido.
Quer dizer, a sociedade bipolar quer é "acabar com esta raça", como
já dizia o grande democrata Jorge Bornhausen, aliado de Marina Silva e,
agora, também de Aécio Neves.
Embora nesse meio seja comum a prática de sonegar impostos, há uma
justificativa: "Não vou dar meu dinheiro para o governo alimentar estes
vagabundos do Bolsa Família", cansei de ouvir nos últimos agitados dias
da campanha eleitoral.
Contribui muito para isso também a revolta das madames com os
direitos conquistados pelos empregados domésticos. Reclamam que ficou
difícil arrumar empregadas e, quando conseguem, elas pedem mil coisas,
além do salário mínimo. A criadagem agora exige um monte de direitos,
até o pagamento de horas extras, imaginem só...
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