Banca de revista em Buenos Aires
em 27.10.2010 ( observem bem a data )
A
morte do ex-presidente Nestor Kirchner altera completamente o quadro
político da Argentina. Ele era o pré-candidato à presidência da
República na eleição do ano que vem numa alternância combinada com sua
mulher, a presidente Cristina Kirchner.
Na
verdade, altera o quadro de poder na Argentina no momento, porque os
dois governaram juntos no mandato dela, com inclusive preponderância
dele sobre ela. Houve um momento no começo do governo em que ela só
cuidava de questões protocolares, ficando a maior parte do tempo na
Residência de Olivos enquanto ele governava, Kirchner é que comanda a
relação do governo com os sindicatos e o Partido Justicialista.
Para
o bem e para o mal, os dois se misturaram. A tal ponto que ele esteve
envolvido em escândalos do governo e nos projetos mais polêmicos. No La
Nacion de hoje um artigo do jornalista Luis Majul dizia que em 2012 ou
Kirchner estaria na cadeia ou na Casa Rosa.
O
projeto do casal era aumentar o controle sobre a imprensa, para
eliminar críticas, aumentar o crescimento - este ano o país está
crescendo - esconder a inflação através de manipulação dos dados,
intensificar o caráter populista do Partido Justicialista e reelegê-lo
no ano que vem.
Como
será o governo de Cristina sem ele é uma incógnita porque apesar de
ela ter feito uma carreira política prévia ela se deixou eclipsar por
ele. Recentemente aumentaram os rumores de atritos entre os dois, mas a
união deles politica parecia indissolúvel. Até que a morte os separou.
A
Argentina deve aprofundar a crise e a divisão passadas as emoções da
despedida. Hoje é o dia em que os argentinos estavam em feriado
nacional para ajudar o trabalho do Censo. Uma pesquisa que - parece
incrível vendo da perspectiva do censo brasileiro - estava sendo
considerada suspeita de ser usada para manipular os dados para a
eleição do ano que vem, e por isso é objeto de campanha de boicote.
Assim,
dividida, fragmentada, em delicado momento político, a Argentina perde
o ex-presidente que a tirou da última e devastadora crise de
2001/2002. Sem ele, acaba o Kirchnerismo.
Do Grupo Beatrice.
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