Da Carta Maior - 24/10/2011
Emir Sader*
Todos
os que seguem a situação argentina sabiam, desde pelo menos um ano e
meio, que o governo de Cristina Kirchner havia recuperado grande apoio
popular e teria continuidade, seja na presidência de Nestor, seja na
dela. Só poderia ser “surpresa” para os que foram vítimas dos seus
próprios clichês, denegrindo a imagem da Argentina e do seu governo.
Agora não sabem como explicar uma vitória tão contundente, no primeiro
turno, com uma diferença de mais de 8 milhoes de votos para o segundo
colocado.
A vitória de Cristina tem o mesmo sentido da vitória de Dilma. Pela primeira vez, nos dois países, uma mesma corrente obtém, pelo voto popular, um terceiro mandato. Vitorias fundadas em políticas econômicasque permitiram a retomada do crescimento da economia – depois das recessões provocadas por governos neoliberais, Menem lá, FHC por aqui – articuladas estruturalmente com políticas sociais de distribuição de renda.
No caso argentino, a crise de 2005 aqui, foi a de 2008 lá, com a reação violenta dos produtores rurais ao projeto de lei de elevação do imposto de exportação. Em aliança com a conservadora classe media de Buenos Aires, fizeram com o que o governo perdesse parte substancial do seu apoio e terminasse derrotado na votação do Congresso. Essa derrota se desdobrou numa derrota eleitoral, quando ja se sentiam os efeitos da crise internacional.
Tal como aqui, a oposição acreditou que havia desferido um golpe mortal nos Kirchner e se preparava já para voltar ao governo, em meio a disputas enormes entre todas as suas tendências, unidas na oposição e na ambição de sucedê-los no governo.
Para surpresa da oposição, o governo reagiu positivamente – como aqui – diante dos efeitos da crise, com políticas anticíclicas e renovando suas políticas sociais. Os reflexos não tardaram a surgir e o governo passou a reconquistar apoio popular, até que, a partir do ano passado, tendo recuperado iniciativa, voltou a aparecer como o grande agente nacional contra a crise.
Dois fatores vieram consolidar essa reação. O primeiro, as comemorações do bicentenário da independência argentina, que despertou grande fervor popular, especialmente em amplos setores da juventude, capitalizados evidentemente pelo peronismo, com sua tradicional marca nacionalista.
O outro, foi a súbita morte de Nestor Kirchner, que alguns previram – lá e cá – que seria um golpe definitivo no kirchnerismo. Nesse momento Cristina se assumiu como estadista à altura daquele momento crucial da historia argentina, dado que Nestor era o candidato à sua sucessão e o maior dirigente político do processo que ele mesmo havia iniciado.
Cristina fez daquela perda um momento de afirmação do processo político protagonizado por Nestor e por ela, no bojo da recuperação do apoio popular, que tinha seu fundamento no sucesso das novas iniciativas de políticas sociais – bolsas para a infância, para a terceira idade, para os desempregados, entre outras iniciativas.
Enquanto isso a oposição se digladiava, conforme via a recuperação do prestígio do governo, na disputa pela sucessão presidencial, em um processo suicida, que veio complementar o cenário politico que foi tornando Cristina cada vez mais favorita para triunfar, até mesmo no primeiro turno.
As prévias eleitorais de agosto, finalmente, cristalizaram todas essas tendências, permitindo prever as melhores perspectivas para Cristina, que se confirmaram plenamente nas eleições de ontem. Cristina teve um triunfo esmagador, além de recuperar a maioria na Camara e aumentar no Senado, e eleger oito dos nove governos estaduais em jogo.
Ela triunfa e a oposição, dividida entre vários candidatos, sofre sua maior derrota, deixando o campo aberto para novos e grandes avanços do governo. Lá como aqui, a segunda década do século XXI estende a vigência de um governo que busca alternativas de superação do neoliberalismo, nas condições da herança pesada que ambos receberam, avançando na direção do posneoliberalismo.
Consolida-se o campo progressista latino-americano, confirmando que essa é a vida das forcas populares para a superação das desigualdades e injustiças, para o fortalecimento da integração regional e para a afirmação de uma América Latina soberana.
A vitória de Cristina tem o mesmo sentido da vitória de Dilma. Pela primeira vez, nos dois países, uma mesma corrente obtém, pelo voto popular, um terceiro mandato. Vitorias fundadas em políticas econômicasque permitiram a retomada do crescimento da economia – depois das recessões provocadas por governos neoliberais, Menem lá, FHC por aqui – articuladas estruturalmente com políticas sociais de distribuição de renda.
No caso argentino, a crise de 2005 aqui, foi a de 2008 lá, com a reação violenta dos produtores rurais ao projeto de lei de elevação do imposto de exportação. Em aliança com a conservadora classe media de Buenos Aires, fizeram com o que o governo perdesse parte substancial do seu apoio e terminasse derrotado na votação do Congresso. Essa derrota se desdobrou numa derrota eleitoral, quando ja se sentiam os efeitos da crise internacional.
Tal como aqui, a oposição acreditou que havia desferido um golpe mortal nos Kirchner e se preparava já para voltar ao governo, em meio a disputas enormes entre todas as suas tendências, unidas na oposição e na ambição de sucedê-los no governo.
Para surpresa da oposição, o governo reagiu positivamente – como aqui – diante dos efeitos da crise, com políticas anticíclicas e renovando suas políticas sociais. Os reflexos não tardaram a surgir e o governo passou a reconquistar apoio popular, até que, a partir do ano passado, tendo recuperado iniciativa, voltou a aparecer como o grande agente nacional contra a crise.
Dois fatores vieram consolidar essa reação. O primeiro, as comemorações do bicentenário da independência argentina, que despertou grande fervor popular, especialmente em amplos setores da juventude, capitalizados evidentemente pelo peronismo, com sua tradicional marca nacionalista.
O outro, foi a súbita morte de Nestor Kirchner, que alguns previram – lá e cá – que seria um golpe definitivo no kirchnerismo. Nesse momento Cristina se assumiu como estadista à altura daquele momento crucial da historia argentina, dado que Nestor era o candidato à sua sucessão e o maior dirigente político do processo que ele mesmo havia iniciado.
Cristina fez daquela perda um momento de afirmação do processo político protagonizado por Nestor e por ela, no bojo da recuperação do apoio popular, que tinha seu fundamento no sucesso das novas iniciativas de políticas sociais – bolsas para a infância, para a terceira idade, para os desempregados, entre outras iniciativas.
Enquanto isso a oposição se digladiava, conforme via a recuperação do prestígio do governo, na disputa pela sucessão presidencial, em um processo suicida, que veio complementar o cenário politico que foi tornando Cristina cada vez mais favorita para triunfar, até mesmo no primeiro turno.
As prévias eleitorais de agosto, finalmente, cristalizaram todas essas tendências, permitindo prever as melhores perspectivas para Cristina, que se confirmaram plenamente nas eleições de ontem. Cristina teve um triunfo esmagador, além de recuperar a maioria na Camara e aumentar no Senado, e eleger oito dos nove governos estaduais em jogo.
Ela triunfa e a oposição, dividida entre vários candidatos, sofre sua maior derrota, deixando o campo aberto para novos e grandes avanços do governo. Lá como aqui, a segunda década do século XXI estende a vigência de um governo que busca alternativas de superação do neoliberalismo, nas condições da herança pesada que ambos receberam, avançando na direção do posneoliberalismo.
Consolida-se o campo progressista latino-americano, confirmando que essa é a vida das forcas populares para a superação das desigualdades e injustiças, para o fortalecimento da integração regional e para a afirmação de uma América Latina soberana.
*Emir Sader. Sociólogo e cientista político.
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