Do Diario do Centro do Mundo - 14/03/2013
Paulo Nogueira
O
grande editor Joseph Pulitzer dizia que jornalista não podia ter amigo;
no Brasil tem — e o pior é que entre as amizades estão juízes.
Já falei de Mensalão, o livro de Merval.
Volto ao assunto, depois de ver fotos do lançamento em Brasília. Figuras
eméritas da Justiça Nacional correram, sorridentes, a prestigiar a
cerimônia..
O pudor, se não a lei, deveria
impedir este tipo de cena. Veja as expressões de contentamento e
cumplicidade. Que isenção se pode esperar da Justiça brasileira em casos
relevantes que porventura envolvam Merval e, mais ainda, a Globo?
Merval, com Gilmar Mendes e Ayres de Britto no lançamento do livro
Mas o pudor se perdeu há muito tempo. Em outra passagem imoral desse
interesseiro caso de amor entre mídia e justiça, o ministro Gilmar
Mendes compareceu sorridente, em pleno julgamento do Mensalão, ao
lançamento de um livro de Reinaldo Azevedo em que os réus eram
massacrados.
Ali estava já a sentença de Gilmar.
O grande editor Joseph Pulitzer escreveu, numa frase célebre, que
“jornalista não tem amigo”. Ele próprio viveu em reclusão para evitar
que amizades influenciassem os rumos do jornal que comandou.
Para que você tenha uma ideia da estatura de Pulitzer, foi ele quem
rompeu com a tradição de publicar as notícias na ordem cronológica. Ele
estabeleceu a hierarquia no noticiário. Estava inventada a manchete,
bem como a primeira página.
Era um idealista. “Acima do conhecimento, acima das notícias, acima da
inteligência, o coração e a alma do jornal reside em sua coragem, em sua
integridade, sua humanidade, sua simpatia pelos oprimidos, sua
independência, sua devoção ao bem estar público, sua ansiedade em servir
à sociedade”, escreveu.
Tinha uma frase que me tem sido particularmente cara na carreira: “Jornalista não tem amigo.”
Como a “Deusa Cega da Justiça”, afirmava Pulitzer, ele ficava ao largo
das inevitáveis influências que amizades com poderosos trazem. “O World
[seu jornal], por isso, é absolutamente imparcial e independente.”
Merval tem muitos amigos, como se vê na foto deste artigo. Não é bom
para o jornalismo que ele faz. E pior ainda é que ele é correspondido no
topo da Justiça brasileira.
Juízes, como os jornalistas, não deveriam ter amigos, como pregou Pulitzer. Pelas mesmas razões.
Os nossos têm, e parecem se orgulhar disso, como se vê na foto acima.
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