domingo, 5 de outubro de 2014

A crônica do derretimento de Marina

Marina desabou na pior hora: quando as chances de recuperação são mínimas, dado o limite do tempo.

Ela
É como levar um gol no finalzinho do jogo.

Caso se confirme sua derrota, ela poderá encontrar consolo num pensamento caro aos que creem: Deus não quis.

Longo do plano divino, Marina começou a cair quando piscou diante de quatro tuítes de Malafaia.

Malafaia manifestou revolta contra os termos do programa de Marina em relação à comunidade LGBT.

Ameaçou tirar o apoio.

Rapidamente, com uma explicação que não convenceu ninguém, o programa de Marina foi alterado para agradar Malafaia.

Foi um gesto fatal.

Ali Marina mostrou um traço de personalidade que seria explorado com sucesso tanto por Dilma quanto por Aécio: a instabilidade, a hesitação, a dificuldade em lidar com pressão.

O leitor percebeu.

Com Malafaia, foi a primeira de uma série de fraquejadas que confirmariam a impressão inicial de tibieza.

A empreendedores, Marina falou em atualizar a legislação trabalhista, o que significa subtrair direitos.

Diante da reação negativa, ela foi se desdizendo até chegar ao contrário do que afirmara. No debate da Globo, já desesperada, ela prometeu dar direitos a quem não está registrado pela CLT.

Também num gesto de quem pressente o abismo, ela disse que daria um 13º aos beneficiários do Bolsa Família.

Nos dois últimos debates, Marina estava claramente exaurida mental e fisicamente. Parecia torcer que para que tudo acabasse o mais rápido possível.

Sumira a autoconfiança de quem disparara nas pesquisas com o refrão da “nova política”, em oposição ao PT e ao PSDB.

E assim Aécio, que parecia morto a poucos dias da eleição, chega ao 5 de outubro com chances concretas de ir ao segundo turno.

Não foi ele que cresceu. Foi Marina que diminuiu.

Para o PT, a derrocada de Marina é uma semivitória. Os petistas sempre preferiram enfrentar Aécio num eventual segundo turno, em vez de Marina.

Os eleitores de Aécio migrariam maciçamente para Marina, em nome do antipetismo.

Quanto aos eleitores de Marina, a maior parte tem sérias restrições a Aécio e ao PSDB.

De certa forma, caso se confirma a tendência que as pesquisas mostram na véspera das eleições, é a repetição do quadro das três últimas eleições, 2002, 2006 e 2010. PT versus PSDB.

Em todas elas, o PT venceu.

Exatamente por isso, num último espasmo, Marina está dizendo que só ela pode bater o PT porque o PSDB está acostumado a perder.

São meras palavras, com impacto infinitamente menor do que o recuo de Marina diante dos tuítes de Malafaia.

Ali começava a morrer a Marinamania.

Paulo Nogueira
No DCM


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