4 de outubro de 2014 | 23:31 Autor: Fernando Brito
Não tenho – e ninguém tem – condições de prever se haverá ou não segundo turno.
Os intervalos para os quais todas as pesquisas refluíram mostram um quadro bem definido em suas direções, mas com intervalos tão pequenos até a definição de uma maioria absoluta para Dilma que depende de detalhes que fugiriam a levantamentos feitos sem qualquer suspeita de distorção.
Explico: estes 50% são como aqueles jogos que, no futebol, chamamos de “jogo de seis pontos”, que ocorrem quando dois times disputam uma mesma vaga. Um por cento que se ganha, se é ganho dos adversários, vale 2%, porque se tira do “bolo” que forma a soma dos adversários.
Assim, na eleição passada, por exemplo, os 3,08% que faltaram a Dilma para fechar na primeira rodada significariam ela ganhar 1,54% desde que isso fosse retirado dos adversários.
Eu tenho – e não o oculto – lado e torcida, paixão mesmo.
Mas não deixo que isso transtorne meu raciocínio, tanto quanto penso conseguir.
Por que esta euforia da direita com a possibilidade de Aécio enfrentar Dilma num segundo turno?
Como, se numa análise fria ele apenas conseguiu voltar aos patamares que tinha antes do acidente que matou Eduardo Campos, algo em torno de 23 ou 24 por cento dos votos válidos?
Ainda que chegue a 28 ou até a 30%, terá tido um resultado inferior ao que teve José Serra com Marina pouco mais ou menos no patamar de 2010.
Mas não é só isso.
Será um candidato que perdeu onde não poderia perder: Minas Gerais.
E feio, feio.
Num segundo turno, a solidariedade mineira a que poderia aspirar é aquela que Otto Lara Resende, certa vez, definiu de forma mórbida.
Aécio pode ganhar em três ou quatro estados. Ou em nenhum, pois seus números nas pesquisas de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Brasília não permitem assegurar que isso vá acontecer.
No resto, perde longe ou muito longe.
E mesmo ali, quanto o caro amigo e a querida amiga apostaria na solidariedade de um Geraldo Alckmin já eleito e de um Serra ressuscitado como Senador?
Nem vamos falar da capacidade intelectual, dos negócios familiares e da imagem moral do personagem, não é?
Não apenas por isso, mas porque Marina se adonou de um eleitorado que nada tem a ver com a elite paulista, porque aquele que se identifica com este pensamento já migrou de volta para Aécio ou migrará amanhã, à medida em que a ex-senadora deixa de ser uma candidata viável para a continuação do sonho de derrubar o projeto lulista para o Brasil.
Embora ideológica e organicamente mais próxima da direita em 2014, a expressão eleitoral de Marina Silva terminará em patamar quase idêntico aos 20% que teve em 2010, quando também cumpriu a missão de evitar uma vitória de Dilma no primeiro turno.
Então, quem será o adversário para valer, forte e poderoso que Dilma Rousseff enfrentará no segundo turno, já que Aécio é um fraco adversário e Marina muito provavelmente se imobilizará num emaranhado de falta de organicidade e as contradições – e até ressentimentos, rancorosa como é – que carrega?
Está claro que será a mídia e sua já sem limites capacidade de ser partidarizar da pior forma possível: a de construir um noticiário montado sobre intrigas, acusações e, numa palavra, mentiras?
É por isso que venho insistindo aqui que as pesquisas sobre este possível segundo turno são irrelevantes.
O adversário, o partido a ser batido é a mídia, não o cambaleante PSDB que sai das urnas, no qual há mesmo grupos que não desejam que seus adversários internos “corram o risco” de ganhar uma eleição presidencial.
Aécio é apenas o candidato, não o adversário de verdade.
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