terça-feira, 18 de outubro de 2011

Antônio T. , um mexicano. Os coyotes e a Polícia Federal


Agora é da esquerda para a direita
Antônio T. é motorista de taxi exclusivo de um hotel americano em Guadalajara.

- Por que você não foi trabalhar nos Estados Unidos ? , pergunto.

- Porque lá já não há mais emprego.

- Quanto ganhava um trabalhador mexicano no México em comparação com o que ganhava um mexicano nos Estados Unidos ?

- Você ganhava lá  num dia o que ganhava numa semana no México.

- E agora não vai mais gente para lá …

- Não, agora o pessoal volta de lá para ca.

- Mas, é só por causa da falta do emprego ?

- Não, é porque passaram a perseguir mais os “molhados”.

- Molhados ?

- Sim, os que entram sem papel e tem que entrar nadando pelos rios.

- E se te pegam sem papel ?

- No Arizona te metem na cadeia, seis, oito meses.

- E na Califórnia ?

- Te mandam de volta, mas não te prendem.

- Quanto cobrava o coyote para te atravessar para os Estados Unidos?

- Mil e duzentos dólares só para atravessar. Porta a porta, 1.500.

- O que é porta a porta ?

- O coyote te deixa na casa do teu parente, na casa em que você vai morar.

- E como é essa casa ?

- Moram uns dez, doze num sala e quarto.

- Você pode pagar o coyote em prestações ?

- Sim, metade antes de entrar e metade depois de um mês de trabalho.

- E se você  não pagar a segunda metade.

- Não se brinca com isso, senhor.

Chegamos ao aeroporto.

Peço para esperar com o carro o mais perto possível da porta de saída.

Diz que é proibido.

Mas, ele vê um carro da Polícia Federal estacionado, com dois policiais dentro.

Antônio T. salta. Conversa e volta logo. Apanha alguma coisa no porta-luvas, volta ao carro da Polícia e regressa com um sorriso nos lábios.

- O que você fez ?, pergunto.

- Fui agradecer.

- Como você agradeceu ?

- Com 100 pesos. 50 para cada um.

- E então ?

- Vamos estacionar onde o senhor queira.


Paulo Henrique Amorim

Do Blog CONVERSA AFIADA.

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