Ilustraçao de Katie Zhuang |
O estudo publicado hoje na Nature
demonstra com macacos que é possível recriar a sensação de textura
através de microestimulação no córtex cerebral. Pode explicar como isso
funcionaria em seres humanos?
A ideia é criar um sexto
sentido. Ele vai possibilitar que o paciente recobre a sensação táctil
ao usar uma veste robótica, podendo identificar o tipo de terreno que
está pisando ou a textura de um objeto que segura com uma mão biônica.
Nós treinamos o cérebro de dois macacos a aprender um novo código, para
reconhecer texturas.
Como a nova descoberta será integrada à veste robótica que pode possibilitar que quadriplégicos voltem a andar?
A veste terá sensores de pressão
que criarão um padrão, e esse padrão será traduzido em um estímulo
elétrico proporcional a textura dos terrenos ou objetos. Tudo isso é
entregue ao cérebro, que funciona como um reconhecedor de padrões e
associa a nova sensação. Partindo da mesma lógica, outras pesquisas
podem levar identificação da temperatura, por exemplo, tornando as
próteses biônicas mais sensíveis.
O nosso experimento provou pela
primeira vez que é possível criar uma interface cérebro-máquina-cérebro,
possibilitando que criemos um exoesqueleto robótico para que pacientes
paralisados possam receber feedbacks do mundo exterior e com isso
recobrarem a sensação táctil através de sensores. Já havíamos feito uma
previsão teórica de que isso era possível, mas ainda não havíamos feito
uma demonstração que provasse, e isso muda com o estudo publicado na
Nature. Vencemos um grande desafio tecnológico: os estímulos são
enviados ao cérebro ao mesmo tempo em que registramos a atividade
elétrica do córtex. Ao mesmo tempo que os sinais elétricos do cérebro
podem ser usados para controlar o avatar do corpo, o órgão pode receber
um feedback do que esse avatar encontra no espaço virtual.
Na pesquisa, os macacos
controlaram com os sinais elétricos dos seus cérebros um cursor em um
tela, que movimentaram e usaram para indicar padrões de textura. Houve
algum estranhamento dos animais na interação direta com o computador?
Pelo contrário. Agora nós temos a
evidência de que os animais assumem esses corpos virtuais como se fosse
o corpo deles. Em poucos minutos eles já sentem que estão habitando
esse novo corpo. Eles conseguiram identificar os padrões muito
rapidamente, por isso acreditamos que seres humanos devem ter uma
resposta ainda mais rápida. O cérebro gera um modelo que incorpora todas
as ferramentas que ele usa e molda o corpo que é reconhecido como sendo
próprio. Temos a confirmação disso com esse estudo, pois o animal passa
a usar o corpo virtual realmente como se fosse o deles.
O que tudo isso muda no projeto Walk Again e no plano de fazer um tetraplégico dar o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014?
Estou propondo ao governo e
tenho sinalização de eles querem participar de um projeto de seis anos
para demonstrar o projeto Walk Again para o mundo, envolvendo a Copa do
Mundo e as Olimpíadas a ser realizadas aqui no Brasil. Queremos fazer
demonstrações gradualmente mais complexas do exoesqueleto robótico
desenvolvido no Walk Again e que fará um tetraplégico voltar a andar.
Quais os próximos passos para a concretização do projeto?
O governo federal deve anunciar
nos próximos dias um apoio para trazermos o projeto para Natal, para
Campus do Cérebro. Lá nós já temos um avatar realístico do corpo
completo de um macaco, agora teremos que criar um modelo igual para o
ser humano. Com ele poderemos e treinar os pacientes quadriplégicos a
interagir com um avatar do corpo. Será como o 'Flight Simulator' (jogo
de simulação e treino para pilotos de avião) do avatar que será usado
depois pela pessoa.
http://bcove.me/xtlx60t2
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