Por Luís Nassif
Dilma vai para a Europa e faz recomendações aos governos nacionais. Em editorial, o Estadão critica
sua postura professoral. Aí, o senador Álvaro Dias ecoa as críticas no
Senado, sem mencionar a fonte. E o mesmo faz José Serra no Twitter. Na
entrevista de Aécio Neves ao Estadão, a falta absoluta de ideias.
E
só. Consultem os jornais, rádios, as últimas declarações de políticos e
lideranças tucanas. Resumem-se a isso, críticas pontuais, em geral
pautadas pela mídia.
Há
dois tipos de políticos que aspiram à presidência. Aquele que traz
novas ideias que mudam primeiro seu partido, depois o país; ou aquele
que reflete as ideias e valores de determinados grupos e, especialmente,
de seu partido político.
Obviamente
Aécio não é gerador de ideias próprias. Mas e o PSDB? Como solta assim
no ar o balão do seu candidato, sem sequer ter se dado ao trabalho de
costurar um programa, um conjunto mínimo de ideias que fosse? Cadê seus
pensadores, seus estrategistas? Como é que se monta um discurso oco em
cima de uma mera pesquisa de opinião?
Ouso supor que o partido está em um beco sem saída.
O
núcleo financista do partido – hoje em dia encastelado na Casa das
Garças – tem interesses próprios. O PSDB foi apenas a escada para se
lançarem ao poder. Embarcaram de carona na onda neoliberal, traduziram
os bordões e o jogo de interesses para o português, usaram o partido
que tinham à mão. E nada mais.
O
núcleo desenvolvimentista sumiu. Os irmãos Mendonça de Barros
resolveram aderir ao mercadismo do dia-a-dia e núcleo FGV-SP – de
Bresser-Pereira e Nakano- está fora do barco faz tempo.
De
seu lado, Serra conseguiu transformar seu entorno no mais puro esgoto
político. Jogou pelo ralo as ideias de um grupo de técnicos
respeitáveis, assumiu sua própria ignorância
econômico-político-administrativo, passou a exigir dos seguidores provas
seguidas de vilania e trouxe à tona a cara de um partido que já não
tinha ideias para oferecer. Nem o DEM, na fase mais iracunda, conseguiu
chegar perto da imagem medieval que Serra conferiu ao PSDB.
Sempre
torci para que o PSDB conseguisse se refundar, apresentar-se como uma
oposição legitima e civilizada, exorcizando os fantasmas da última
eleição. Seria o amadurecimento final do modelo político brasileiro.
Apostei
em Aécio como uma alternativa do partido ao cenário de trevas
representado pelo Serra, muito mais pela concepção administrativa que
seu governo desenvolveu. Não tem fôlego para se impor. A sorte do país é
que, com Aécio ou sem Aécio, também não há retorno para Serra.
A
cada dia que passa, fica cada vez mais claro que o partido entrou em
um caminho sem futuro. Perdeu massa crítica de pensadores. Com Serra,
perdeu legitimidade junto aos meios intelectuais e à opinião pública
esclarecida. Os sociólogos e cientistas políticos da USP desempenham
apenas papel de viúvas de FHC, sem conseguir entender ou elaborar o
novo. O próprio FHC recolheu-se à uma merecida aposentadoria. Faltava
apenas o reconhecimento de fora para aplacar suas angústias. Dilma
forneceu-lhe o reconhecimento.
Cumprir-se-á o vaticínio de José Sarney que, em 2009, previu que a oposição sairia do seio das forças coligadas à situação.
Jogo de xadrez
Passados mais de 20 anos da primeira eleição direta do país pós-64, é interessante notar como se deu o xadrez político.
Fernando
Collor surgiu com o discurso novo, que mudou o país. Não colheu os
frutos por ser um desastre político. FHC herdou o discurso modernizante
de Collor, e atraiu – meramente pelo efeito imã do poder – as melhores
ideias acumuladas ao longo dos dez anos anteriores.
Havia um genuíno sentimento centro-esquerda em curso, aspirando à modernização, mas com responsabilidade social.
Fosse
um político de visão, FHC teria avançado nas privatizações, mas, ao
mesmo tempo, fechado o campo para a oposição, entrando decididamente na
área social. Tinha quadros, novas ideias amadurecidas pelo país e uma
grande conselheira em casa, dona Ruth.
Mas
limitou-se a entrar na onda financista mundial. Recebeu as ideias de
mão beijada e não teve fôlego para elaborar em cima delas.
Não
teve nem visão para perceber a armadilha cambial, montada pelo lado
financista, nem sensibilidade para entender que a chave para os vinte
anos de poder – ambicionados por Sérgio Motta – estava em dona Ruth,
não nos Bachas da vida.
Como nunca teve visão apurada dos grandes Estadistas, deixou uma avenida aberta para o discurso social do PT.
Eleito,
Lula deu as cabeçadas iniciais previstas. Mas a bandeira social foi
tão forte que o ajudou a resistir ao episódio do “mensalão”.
Depois,
consolidou-se mapeando todos os diferenciais apregoados pela oposição e
ocupando o espaço. Com sua intuição, fez o que FHC deveria ter feito
no seu governo, para não abrir espaço para a oposição.
Com
o Banco Central de Meirelles aplacou a oposição mercadista. Com as
políticas sociais não populistas, consagrou-se mundialmente como o
homem da inclusão. Com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)
levantou a bandeira da gestão dos investimentos públicos. Absorveu os
movimentos sociais, trouxe o PT mais para o centro e foi jogando
gradativamente o PSDB para a direita.
Esvaziou a campanha sistemática dos que o apontavam como ameaça à democracia, golpista etc.
Finalmente,
indicou para a presidência uma candidata com todas as características
apontadas pelos seus próprios críticos – características acessórias,
que não mudavam a essência do governo. Uma presidenta sem arroubos
oratórios, classe média, estudada, mais comedida na política
internacional, com mais gestão (em cima das bases plantadas), sem entrar
em guerra com a mídia e encarnando a figura da “faxina” e pragmatismo
nas questões de concessão e privatização.
Entende-se a sinuca de bico do PSDB.
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