Carta à Direção Globo de Jornalismo
Sr. Carlos Henrique Schroder,
É com grande insatisfação que escrevo aqui em nome de quase 500 mil bancários existentes no Brasil.
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que
estamos indignados com o tratamento que os telejornais da Central Globo
de Jornalismo, subordinada a sua Direção Geral de Jornalismo e Esportes
(DGJE), estão dando a nossa greve.
Todos os dias suas reportagens altamente
parciais (sempre do lado dos banqueiros, o capital de vocês) mostram
nossa greve prejudicando clientes, idosos, etc. O que vocês não mostram é
o quanto nós somos prejudicados o ano inteiro.
Sr. Carlos Henrique Schroder, aos 16 anos, quando entrei para a faculdade de jornalismo, eu achava que poderia mudar o mundo.
Aos 20, quando acabei a faculdade, percebi que o mundo é que havia me mudado.
Decidi ser bancária, que por sinal é uma
profissão muito digna, talvez até mais digna do que aquela profissão que
me fez passar quatro anos na universidade.
Sr. Carlos, nós, bancários, trabalhamos
feito robôs. Em minha agência somos 24 funcionários e temos que atender
em média 500 clientes por dia, em seis horas de trabalho, sendo no
máximo 15 minutos para atender cada cliente, o que matematicamente
torna-se uma conta impossível.
Nesses 15 minutos que temos para atender
os clientes, em vez de resolver os problemas deles, temos que oferecer
produtos que eles não precisam. Temos que empurrar seguros de vida a
universitários; temos que vender (com muita dor no coração) títulos de
capitalização e colocar cheque especial na conta de idosos que só ganham
um salário mínimo. Fazemos empréstimos com juros absurdos para
aposentados do INSS que não sabem nem ler. Fazemos tudo isso porque
somos obrigados pela instituição capitalista que paga nosso minguado
salário.
Trabalhamos de seis a oito horas
contratuais fazendo tudo o que podemos para garantir o lucro da nossa
empresa, sem contar as horas extras e também as horas “bestas” (fora do
ponto eletrônico).
Em quantos e quantos meses já perdemos
boa parte do nosso salário para pagar diferenças de caixa provocadas por
dias de pico onde não conseguimos nem almoçar? Isso sem contar que só
temos 15 minutos para engolir a comida e escovar os dentes!!! Em quantos
e quantos dias deixamos de beber um copo de água sequer, ou mesmo
deixamos de ir ao banheiro para necessidades lógicas?
Sr. Carlos, o Banco em que eu trabalho
(BB) teve um lucro de mais de 6 bilhões só no primeiro semestre deste
ano. O Itaú lucrou mais de 7 bilhões e o Bradesco mais de cinco.
Sr. Carlos, todo esse dinheiro daria para
construir dezenas de escolas e hospitais em toda parte do nosso país, e
o Sr. Tem que concordar que o Brasil é muito carente nessas áreas.
Quantos milhões de reais os bancos não
gastam todos os anos com publicidade e propaganda na sua emissora? O Bom
Dia Brasil tem o oferecimento do Banco do Brasil, o Jornal Nacional é
patrocinado pelo Bradesco, fora os outros telejornais e os comerciais
dos outros bancos que sua emissora veicula todos os dias.
Sr. Carlos, os escriturários do BB
recebem R$ 1.400,00 líquidos para sustentar suas famílias. Temos um bom
plano de saúde, graças a Deus, e um auxílio alimentação que dá pra
abastecer uma casa, mas o Sr. Tem que concordar comigo que R$ 1.400,00
não dá pra manter o padrão que os bancários precisam para trabalhar.
Temos que nos vestir bem e ter uma boa
aparência, afinal trabalhamos nas empresas que mais dão lucro no Brasil e
precisamos ter uma boa apresentação.
O que nos deixa mais indignados é que
seus telejornais nos mostram como vilões da sociedade, exterminadores de
benefícios de velhinhos, grevistas baderneiros, como se nós não
quiséssemos trabalhar,
Sr. Carlos Henrique Schroder, nós não
estamos de férias, nós estamos exercendo um direito constitucional que
nos foi dado; passamos em concurso público e nos classificamos entre
milhares de pessoas. Acho que merecemos ganhar um pouco mais pelo que
passamos todos os dias, o Sr. não acha?
Nossa greve não é só por nós, é
principalmente pelos clientes. Os bancos têm estrutura suficiente para
contratar mais funcionários, tirando assim o peso da carga que
carregamos, pois cada um de nós trabalha por cerca de 10 pessoas que não
existem. Com mais funcionários, os clientes ficarão menos tempo nas
filas intermináveis e terão uma qualidade de atendimento muito melhor.
O que queremos é que seus telejornais e
jornalistas prezem aquilo que de mais importante eu aprendi na
universidade: a verdade e a ética jornalística.
Não deixem o capital se sobrepor aos
valores éticos e à verdade nua e crua. Mostrem o que realmente acontece,
não escondam nenhum dos lados.
Não acho correto mostrar apenas o lado
ruim da greve, pois com toda certeza do universo, Sr. Carlos, o lado
negro dessa história não é a greve, não é mesmo! A greve é nossa única
chance cobrar o que nos é direito.
O Sr. sabe que a economia do país teve
uma inflação considerável e nosso aumento real seria de apenas 0,56%, o
que é absurdamente injusto se compararmos com o lucro que nós,
funcionários, proporcionamos aos bancos de 2010 para 2011.
No governo FHC passamos 8 anos sem aumento nenhum, e a inflação cresceu a cada ano. Nosso salário estagnou.
O salário mínimo cresceu mais de 400% de
2002 a 2011, enquanto nosso salário aumenta a passos miúdos. Se
continuar neste ritmo, daqui a uns anos vai valer mais à pena ganhar um
salário mínimo do que trabalhar em um Banco.
Bom, Sr. Carlos, acho que já falei
demais. Eu não o conheço, mas sei que o Sr. tem um currículo que muito
jornalista gostaria de ter e ocupa uma posição respeitável. Quero
parabenizá-lo por isso. Sei também que minha indignação não vai resolver
nada e sei que seus telejornais continuarão parciais por toda vida,
pois isto é política da emissora e não há o que se fazer. Mas desabafei o
que estava engasgado na garganta de milhares de bancários de todo o
país.
Saiba que vendo o que se passa hoje na
televisão brasileira, me orgulho de ter optado por sofrer um pouco sendo
bancária do que ter um pouco mais de dinheiro e não dormir à noite
sendo jornalista da emissora a qual o Sr. faz parte.
Grata pela atenção,Teresa Roberta Soares
Bancária, cidadã brasileira e cliente de banco, que apóia a greve
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