sábado, 1 de outubro de 2011

Trolls descarregam frustações na internet

Na internet, as pessoas fazem um rebaixamento de sua autocensura. Isso permite que suas frustrações e questões mal resolvidas venham à tona. Simplificando, os internautas deixam de lado o bom-senso e partem para a agressividade gratuita, ou seja, a “trollagem”. O adepto da prática é o “troll”.

- Por Vinicius Aguiari, INFO Online


São Paulo - Quando publicou o videoclipe da música “Friday” no YouTube, em fevereiro deste ano, a adolescente americana Rebecca Black não imaginava que seria vítima da maior “trollada” já realizada na internet até então.

Duas semanas após explodir na web, o vídeo atingiu a marca de 37 milhões de visualizações. Porém, “Friday” foi apontada pelos usuários como a pior música já publicada no site de vídeos.

Mas o que justificava tamanha ira dos internautas, que dedicaram centenas de comentários negativos contra a música da jovem de apenas 13 anos?

Para a professora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, Rosa Farah, a interação sem a necessidade de presença física proporcionada pela web abre as portas para esse tipo de comportamento.

“Na internet, as pessoas fazem um rebaixamento de sua autocensura. Isso permite que suas frustrações e questões mal resolvidas venham à tona”, explica ela. Simplificando, os internautas deixam de lado o bom-senso e partem para a agressividade gratuita, ou seja, a “trollagem”. O adepto da prática é o “troll”.

A palavra “troll” ainda não foi incorporada por dicionários de línguas como o Merriam-Webster, que já incluiu “twit” e “social media” entre os seus verbetes. De acordo com o Urban Dictionary, que agrega gírias das ruas e do mundo online, “troll” é o usuário que “posta uma série de mensagens provocativas ou depreciativas em um grupo de discussão ou comunidade a fim de causar o maior nível de perturbação possível”.

“Eu faço por diversão. Gosto de ver a reação dos autores da publicação e a forma que outros usuários reagem nos comentários”, diz o estudante de engenharia cartográfica A. F., de 22 anos.

Porém, internautas como ele precisam ficar atento à tênue linha que separa a trollagem do ciberbullying. Segundo uma pesquisa da universidade britânica Anglia Ruskin, 18,4% dos jovens do país, com idade entre 11 e 19 anos, afirmaram já terem sofrido algum tipo de coerção na rede.

De toda forma, a vítima de um troll vai precisar encontrar uma forma de se proteger. Em alguns casos, o usuário pode se defender por meio da argumentação. Em outros mais sérios, o melhor é fazer uma denúncia à polícia ou ao ministério público.

No caso de Rebecca, ela se manteve indiferente, os usuários do YouTube continuaram a trollar e o vídeo de “Friday” chegou a marca de 167 milhões de visualizações.

Foi quando a produtora da cantora, a Ark Music Factory, especializada em produzir webhits, decidiu retirar o clipe do ar. Em seguida, ele voltou no Vevo, braço do YouTube que paga os artistas por suas canções. Para a Rebecca, a trollagem serviu apenas como um “falem bem ou mal, mas falem de mim” a caminho do sucesso.

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