Classe C quer chamar o xerife
André Singer
ANDRÉ SINGER, 54, é professor do departamento de Ciência Política da USP e autor de "Os Sentidos do Lulismo"
André Singer
Completando-se hoje a primeira metade da propaganda eleitoral gratuita, a
surpresa da disputa paulistana é a persistência de Celso Russomanno na
ponta, com 35% das intenções de voto. Mesmo que venha a cair a partir de
agora, o candidato do PRB parece ter-se consolidado como opção para
cerca de um quarto do eleitorado, habilitando-o a disputar vaga no
segundo turno.
Sem estrutura partidária (mas com uma rede religiosa), aparentemente sem
dinheiro e pouco tempo de TV, a ascensão de Russomanno, que esteve no
PP de Maluf até recentemente, lembra outros fenômenos de populismo
conservador.
Misturado no meio da massa, o líder não propõe programas de governo, mas
sim a confiança na sua capacidade individual de impor aos poderosos a
vontade legítima dos pequenos.
Assim como Jânio era o tostão contra o milhão, e Collor, o caçador
solitário de marajás, o patrulheiro do consumidor se apresenta como o
defensor dos humildes compradores em um mundo dominado pela
impessoalidade do capital e da grande política.
A chave do sucesso populista é a ideia de resolução direta dos
problemas, por meio da intervenção de um personagem que vem do alto em
socorro da massa desvalida.
A organização de movimentos democráticos de baixo para cima inexiste nesse esquema.
É, também, próprio do populismo bagunçar os parâmetros estabelecidos.
Por isso, tudo pode acontecer, tanto no primeiro quanto no segundo turno
paulistano.
Seja como for, vale reter o recado do momento:
parcela da classe C, habitando entre a última periferia, que deverá
caminhar com Haddad, e os bairros da classe média tradicional, que se
inclinam por Serra, anseia pela presença de um xerife amigo na
prefeitura.
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