domingo, 30 de junho de 2013

Alguns pitacos sobre a manifestação de ontem no Rio

manifestação_rj
Houve manifestações no Brasil inteiro. Foto: Uol
Por Cid Benjamin(*)
1. O aumento das passagens de ônibus foi o detonador de uma insatisfação represada com o governo estadual e a prefeitura. Coisas como as maracutaias vinculadas à Copa do Mundo, a entrega da cidade às odebrechts e eikes da vida, os serviços públicos de péssima qualidade, a sensação de que Cabral e Paes enriquecem fazendo negócios no governo, tudo isso acabou explodindo quando do aumento das passagens. Lembremo-nos de que o processo que culminou na passeata dos Cem Mil, em 1968, começou com a luta na universidade por mais verbas para o ensino público (na época ainda não havia isso de o governo financiar faculdades privadas, comprando bolsas de estudo). A repressão policial ajudou a politizar o movimento, num quadro em que a insatisfação com a ditadura já era intensa.
2. É ridículo a imprensa falar em mil ou dois mil manifestantes ontem. Embora estivesse na passeata, não tive uma visão de conjunto dela, mas é evidente que havia entre cinco e dez mil pessoas quando o cortejo chegou à Cinelândia.
3. A manifestação foi organizada à revelia dos partidos políticos e, muito mais ainda, das entidades que tradicionalmente organizam as lutas dos jovens. Aliás, me pareceu patético que a UNE, transformada numa entidade chapa-branca, tenha estendido, no fim da passeata, uma faixa na escadaria do Teatro Municipal em apoio ao movimento. Ela é inteiramente aparelhada por um partido que apóia integralmente Paes e Cabral, e ocupa cargos de importância em seus governos. Aliás, penso que, se a UNE continuar nesse processo de apelegamento, vai ser inevitável o surgimento de outras entidades de representação estudantil, a exemplo do que ocorre no movimento sindical.
4. Foi um erro grave parte da manifestação ter seguido até a Alerj. Ao chegar à Cinelândia, o recado tinha sido dado, com sucesso absoluto e sem qualquer problema com a polícia. Alguém no carro-de-som, certamente empolgado com o sucesso, pôs em votação a esticada da passeata. A proposta venceu, mas mesmo quem votou nela não prosseguiu. No grupo menor que continuou, os provocadores (que, a serviço ou não de órgãos policiais, estavam desde o início, mas até então não tinham tido espaço para agir) cometeram vandalismos. Era o que a PM queria para reprimir e o que os jornais esperavam para dar destaque nas matérias de hoje. Basta ver a edição de hoje do Globo.
5. O movimento está crescendo e comporta um desdobramento semana que vem. Acho que outra manifestação lá para o meio da semana pode levar às ruas mais de dez mil pessoas. Mas penso que é preciso uma proposta clara para ser apresentada à prefeitura. Algo como, por exemplo, a suspensão do aumento e a abertura da contas das empresas de ônibus para que seja feita uma auditoria independente, que apresente seus resultados em, digamos, 60 dias.
*Cid Benjamin é jornalista e foi preso político durante a ditadura.

Do Blog Quem tem medo da democracia?

Nenhum comentário: