Prejudicar manifestações de interesse público seria manifestar-se também, mas em marcha a ré
Se as arruaças de marginais forem motivo para opor-se à continuação das
manifestações pacíficas, como se começa a perceber, estará dada aos
governos e suas polícias a solução mais fácil contra os protestos e
reivindicações. É só incentivar baderneiros. Ou, ainda mais simples, não
os reprimir.
Os ataques a bens públicos e a quebradeira são revoltantes. Mas fazem
parte da movimentação de protesto em sociedades com presença grande de
marginalidade e delinquência. No Brasil temos vários outros casos de
oportunismo arruaceiro na violência de torcidas violentas, em festas de
massa como a Virada Cultural paulistana e mais. Nem por isso se acabaram
os eventos.
As manifestações provocadas pelas passagens de ônibus já trouxeram
resultados muito além de sua motivação. A partir dos R$ 0,20 nas
passagens, estamos discutindo questões institucionais complexas. Seja o
que for que daí resulte, esses temas não terão recuo, deles só se irá
adiante, mais cedo ou mais tarde.
É difícil controlar as arruaças. Mas prejudicar, por isso, manifestações
de interesse público seria manifestar-se também, mas em marcha a ré.
A Correria
Uma gloriosa exibição de cinismo coletivo ─ assim se define a repentina
eficiência da Câmara e do Senado, demonstrada até na quantidade de horas
de atividade parlamentar, além das aprovações de projetos já amarelados
pelo tempo e pela perversão política.
As duas Casas do Congresso cumprem o seu dever de ouvir as ruas, dizem
os dirigentes do Senado e da Câmara, com ares de pessoas ocupadas. Nos
plenários, amplíssimas maiorias aprovam o que frearam ou recusaram, como
no episódio inigualável dos ruralistas dando votos favoráveis ao
projeto, que os levava à ira, contra o trabalho análogo à escravidão no
campo.
Até quando trabalha, o atual conjunto de congressistas é a negação de um Congresso ao menos minimamente respeitável.
O Bom-Senso
Quatro helicópteros, inúmeros carros e motos da PM, contingentes de
repórteres e fotógrafos, todos acompanhando metro a metro a passeata de
moradores da Rocinha à moradia de Sérgio Cabral, na praia do Leblon.
Tudo preparado pela certeza de uma baderna daquelas.
A PM não deixou que a passeata se aproximasse do acampamento montado, e
permitido, por um grupo da classe média diante do prédio de Cabral.
Agora, na certa viria o choque. Outra frustração: a passeata apenas
tomou o caminho de volta, sob a mesma vigilância. Se alguma coisa foi
quebrada, nos dois percursos, é o pé de quem pisou em um dos buracos da
avenida Niemeyer recém-recapeada.
A Rocinha perdeu a viagem, mas quem não estava na passeata perdeu muito
mais. A mensagem levada a Cabral era uma demonstração prática, e
fundamental, da distância entre as alturas políticas e a realidade
social: "Não precisamos de teleférico, use esse dinheiro para o
saneamento de que nós precisamos". O planejado pelos governos estadual e
federal é assim: no alto o bondinho suspenso, embaixo os valões de
esgoto aberto entre as casas.
Não houve a baderna, logo, ninguém se interessou pelo que merecia interesse.
Janio de FreitasNo fAlha
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