O escritor e jornalista gaúcho Caio Fernando
Abreu acaba de lançar seu mais novo livro, As Frangas (Editora Globo, 48
páginas), sua primeira incursão à literatura infantil, com delicadas e
coloridíssimas ilustrações de Rui de Oliveira. O livrinho revela uma faceta
desconhecida do consagrado autor de Morangos Mofados e Os Dragões Não Conhecem
o Paraíso: sua obsessão por esses pequenos e ciscadores animais penosos – uma das
boas lembranças da infância passada no interior do Rio Grande do Sul. Obsessão
compartilhada com a cultuada amiga Clarice Lispector, uma referência constante.
Aos 40 anos e sem filhos, Caio – radicado em
São Paulo – se diz um otimista, diferente da imagem do escritor que cria
personagens em situações limites, de angústias e conflitos. Quem duvida que
leia As Frangas. Lá, Caio conta causos de suas galinhas de estimação, num
estilo coloquial, engraçado e cheio de poesia. Como sempre. Ele fala dessa sua
aventura no universo infantil, de galinheiro e de coisas de adulto.
O
que você acha da literatura infantil feita hoje, no Brasil?
Na verdade, conheço pouco. Tenho como
parâmetro de literatura infantil o Monteiro Lobato, depois Clarice Lispector, a
quem dedico o livro. Dos autores mais recentes conheço e gosto dos trabalhos de
Ruth Rocha e Ana Maria Machado. Acho que a literatura é boa quando propõe uma
deseducação, ou seja, quando ela não se confunde com a literatura didática ou
dá lições de boas maneiras, mas sim liberta as crianças de preconceitos e
coloca a vida como uma viagem interior ampla.
Por
que um livro para crianças e qual o motivo da escolha das galinhas?
Não foi uma decisão ou uma vontade minha. Escrevi para mim mesmo. Há anos, comecei a ganhar galinhas de presente – de cerâmica, de madeira e de louça – e juntei-as sobre a geladeira. E veio a vontade de escrever histórias, que acabei engavetando. Há algum tempo atrás, a editora Nova Fronteira pediu algo sobre literatura infanto-juvenil e me lembrei de As Frangas, mas o projeto acabou não acontecendo. Saiu finalmente este ano, pela editora Globo. Acho a franga um bicho muito curioso, estranho como um elefante. E Clarice gostava muito de galinhas. Ela escreveu muito sobre galinhas – contos e um livro, A Vida Íntima de Laura. O adulto é um ser muito diverso para a criança. Tento colocar nas frangas defeitos e qualidades de uma pessoa. Nada de maniqueísmo. No fundo a mensagem – detesto esta palavra – do livro é simples: gente pode ser uma coisa muito gostosa.
Não foi uma decisão ou uma vontade minha. Escrevi para mim mesmo. Há anos, comecei a ganhar galinhas de presente – de cerâmica, de madeira e de louça – e juntei-as sobre a geladeira. E veio a vontade de escrever histórias, que acabei engavetando. Há algum tempo atrás, a editora Nova Fronteira pediu algo sobre literatura infanto-juvenil e me lembrei de As Frangas, mas o projeto acabou não acontecendo. Saiu finalmente este ano, pela editora Globo. Acho a franga um bicho muito curioso, estranho como um elefante. E Clarice gostava muito de galinhas. Ela escreveu muito sobre galinhas – contos e um livro, A Vida Íntima de Laura. O adulto é um ser muito diverso para a criança. Tento colocar nas frangas defeitos e qualidades de uma pessoa. Nada de maniqueísmo. No fundo a mensagem – detesto esta palavra – do livro é simples: gente pode ser uma coisa muito gostosa.
Os críticos
consideram sua literatura pessimista, triste e em As Frangas você mostra um
lado poético, cheio de vida e esperança. Como você analisa isto?
No fundo sou um otimista e as pessoas que
classificam minha literatura como negra não entendem que estou querendo mostrar
só um dos lados da vida. Acho que as coisas podem ser simples e boas. Meu
caminho como escritor é procurar isso: a limpeza e a simplicidade.
Você
vê alguma semelhança estilística ou temática na literatura dos escritores da
sua geração?
Sim. Inevitavelmente uma geração que viveu a
pós-adolescência em 64, as mudanças da sociedade brasileira e do mundo, a
construção de Brasília e a transição de um Brasil rural para um Brasil mais
moderno existem algumas semelhanças. Elas aparecem na nossa literatura. Sinto
uma identificação com o João Gilberto Noll – um grande amigo de faculdade – e com
o Sergio Sant’Anna. Como eles, me proponho definir e retratar uma face deste
país tão fragmentado e dividido.
Você
é um premiado autor teatral, mas há muito tempo não escreve nenhuma peça. Você
desistiu do teatro?
A última montagem de uma peça minha foi A
Maldição do Vale Negro, no ano passado, como direção de Luis Artur Nunes.
Inclusive ela tem duas indicações, uma para o Mambembe e outra para o prêmio
Sharp. Mas não tenho mais ligação com o teatro, me envolvi muito com o cinema.
Fui o roteirista do filme romance, do Sergio Bianchi, e agora trabalho no
roteiro de Onde Andará Dulce Veiga?, do Guilherme de Almeida Prado.
Infelizmente, o cinema no Brasil é uma das artes mais carentes. Meu projeto
continua na cabeça e na máquina de escrever.
Pretende
continuar com a literatura infantil?
Caso a resposta do mercado editorial seja
favorável, pretendo lançar uma continuação de As Frangas. Já tenho uma na
cabeça e vai se chamar As Frangas, parte II – A Missão. A missão é de resgate
da Otília, a franga mais vaidosa e egoísta, que por um equívoco da editora não
saiu o seu nome na contracapa.
Por Roni Filgueiras. Jornal
do Brasil, Sábado, 29 de abril de 1989
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