sábado, 29 de junho de 2013

O povo quer decisão. E quer decidir. Já!


29 de Jun de 2013 | 09:39
Haja ou não manipulações na pesquisa Datafolha divulgada hoje, seria hipocrisia dizer que ela não revela tendências e nos obriga à ação.
É fora de dúvida que as manifestações de rua minguaram, mas a pressão da opinião pública – tanto a opinião que se publica quanto a dos sentimentos do povão, que não saem no jornal – está querendo que o Governo cumpra seu papel de governar.
E governar é dirigir.
Só os direitistas mais empedernidos, capazes de ver intenções totalitárias em qualquer coisa que cheire a povo podem colocar em dúvida o espírito de tolerância e de respeito às liberdades com que o Governo Dilma vem agindo diante de manifestações que, quase todos os dias, nas suas franjas mais irresponsáveis, desbordam para o vandalismo e a depredação e infernizam o dia a dia de milhões de pessoas nos centros urbanos e nas estradas.
Qualquer grupo de 200 ou 300 pessoas já se sente legítimo para interromper as vias mais vitais para o fluxo de milhões de pessoas, roubando-lhes horas e a paciência preciosas.
Não deve haver, portanto, vacilações no governo por temor a ser acusado de antidemocrático.
Mas deve haver preocupação, e muita, por ser visto como omisso e fraco.
Já se passaram mais de três semanas de crise, com a TV martelando 24 horas por dia um clima de caos e insatisfação generalizados.
Nessas três semanas, três também foram as oportunidades que teve o povo brasileiro de ver sua governante. E, apenas na última delas, já lá se vão cinco dias, para apresentar um plano de ação concreto.
Exatamente aquele que a população quer e precisa: ações na educação, na saúde, nos transportes públicos, responsabilidade fiscal (leia-se, austeridade nos gastos públicos) e uma reforma política na Constituição, para resolver a crise de representatividade que entupiu, faz tempo, os canais de expressão da vontade popular e, inclusive, bloqueia e sabota a ação de um governo popular.
Foi, indubitavelmente, uma operação vitoriosa, que devolveu à Presidente a liderança da situação.
Mas vitória onde não se ocupa o território conquistado não se sustenta.
A mídia, rapidamente, passou a transformar o espírito democrático da Presidente em vacilação, medo, inércia.
A mesma pesquisa, porém, indica que sete em dez brasileiros apóiam um plebiscito para reformar as instituições políticas, o mesmo plebiscito que provoca crises de nervos na oposição e na mídia.
Provoca, porque pressentem que ele pode legitimar posições verdadeiramente transformadoras num sistema representativo que gera corrupção, patrimonialismo, fisiologismo, paroquialismo e despolitização parlamentar.
E que um parlamento assim é uma trincheira anti-reformista e conservadora, que obstaculiza – como sempre ocorreu – os governos progressistas neste país.
Vejam: mesmo com uma oposição formal agonizante pela falta de voto popular, o Governo Dilma se vê, permanentemente, presa de uma oposição real no Congresso que ultrapassa em muito a minoria eleita para cumprir este papel.
O povo, na sua sabedoria coletiva, viu na proposta da Presidenta muito mais do que uma possibilidade de fortalecê-la. Viu a possibilidade de libertar-se e a nosso país de uma deformação antidemocrática que nos está atando, contendo e, pior, ameaçando a caminhada  do Brasil para a soberania, o desenvolvimento e a justiça social.
Não passou a hora de ouvir, porque a hora de ouvir é toda hora, sempre.
Mas já passou da hora de falar.
Líder que permanece em silêncio confunde e desesperança seus liderados.
O rei fraco, escreveu Camões, faz fraca a forte gente.
A hora, agora, é de agir concretamente. De dizer ao povo: estas são as decisões que cada um de vocês, brasileiros, terão de tomar.
O povo quer decisão, e quer decidir.
O papel de nosso Governo é usar o poder legítimo que tem para reafirmar o sentido da democracia.
Qualquer plano de reforma na educação, na saúde, nos transportes e na moralização do uso dos recursos públicos só prosperará se tivermos estruturas políticas comprometidas em debater e cooperar, honrada e representativamente, com um Governo reformador.
O plebiscito que o povo brasileiro tem de ser concreto, decisivo, deve conter uma mudança clara e compreensível a todos.
O corte na hipertrofia do Parlamento é aquela que mais claramente pode traduzir este sentimento.
Se ficar em questões de indagação sociológica, como o voto distrital, só servirá à decepção e, com isso, à direita.
O corte na hipertrofia parlamentar é a decisão que mais claramente traduz a decisão de mudar.
Não podemos ter medo de desagradar, reformando-as, as estruturas das quais o povo brasileiro pouco ou nada espera.
Mas espera muito, ao contrario, do Governo que elegeu, com o projeto e o sentido de continuar as mudanças que com Lula este povo começou.
Por: Fernando Brito

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