Adivinhe quem trouxe Jânio Quadros para votar?
Por Paulo Moreira Leite
Por Paulo Moreira Leite
Existe coisa mais antiga do que "socialista" que não acredita em "socialismo" e não sai de perto de banqueiro?
Não vamos nos enganar: a mesma elite econômica que fez o possível para
sustentar Aécio Neves até aqui prepara seu embarque na campanha de
Marina Silva. É uma questão que se resolve na próxima pesquisa.
É constrangedor mas é verdade.
Os editoriais de jornal, o tom de crítica leve, as advertências e
conselhos dirigidos a Marina traduzem um movimento de quem prepara o
terreno para fazer uma virada mudança em suas opções políticas e negocia
cada passo.
O esvaziamento notório de Aécio, quinze dias depois da morte de Eduardo
Campos, ajuda a revelar o caráter superficial dos compromissos políticos
de seus aliados de véspera. Sua campanha nunca se apoiou num pacto
político em profundidade mas numa aliança puramente instrumental, de
quem contrata um serviço e define uma tarefa.
A prioridade, vamos deixar claro, é vencer Dilma. Sem isso, o candidato
do PSDB não tem serventia. Não estamos falando de ideias, de um projeto
de país, de luta ideológica e tantas palavras nobres que se costuma
citar para maldizer a política brasileira. É poder e poder.
Depois de passar os últimos anos tratando Marina Silva como uma
concorrente despreparada, dogmática, candidata a transformar o exercício
da presidência num desastre permanente, aquilo que nossos sociólogos
chamam de elite porque o termo “burguesia” ou “ classe dominante” fica
pesado demais num discurso liberal, é obrigada a engolir o que disse. A
pergunta que interessa é saber quem está melhor preparado para
interromper 12 anos de governos Lula-Dilma.
A vantagem comparativa de Marina sobre Aécio é a falta absoluta de compromissos reais. Cabe tudo em sua caravana.
Através dela, a política brasileira regride em direção a Jânio Quadros. É
a candidata que condena a “velha política” mas não consegue explicar-se
sobre um simples avião de campanha. Mantém com o PSB relações típicas
de um partido de aluguel – que usará enquanto lhe for conveniente — mas
agora mostra-se como o “novo.”
Existe coisa mais antiga do que “socialista” que não acredita em “socialismo” e não sai de perto de banqueiro?
Lembram-se de Fernando Collor, o caçador de marajás que promoveu um
furacão sem partido, apoiado pela turma dos negócios & do poder
porque era o melhor para vencer o Brizola?
Para empregar uma linguagem típica de seus aliados, o universo de Marina
é o populismo que não tem referências claras, cresce nas emoções e na
confusão política. Por isso se fala em governar com FHC e Lula.
Isso sempre acontece quando o conservadorismo disputa uma eleição na qual não pode mostrar a própria face.
Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também
autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em
Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época.
Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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