Na hora da votação, a última tentativa para impedir vitória de Dilma, a frente em todas as pesquisas
Os 140 milhões de eleitores brasileiros sairão de casa, hoje, para
escolher quem irá governar o país pelos próximos quatro anos. Deveria
ser um dia de festa. Não será e todos nós sabemos por que.
A vontade da maioria está sob ataque.
A vontade da maioria está sob ataque.
O pais vota em pleno curso de um golpe midiático, num esforço sem
paralelo para interferir no resultado das eleições desde a
democratização.
É preciso retornar a 1989, quando vários golpes sujos — inclusive o
depoimento comprado de uma ex-namorada — e um rumor absurdo e criminoso,
divulgado nos últimos dias — a participação de petistas no sequestro
do empresário Abílio Diniz — para se chegar a um exemplo semelhante.
Não custa recordar: empossado sem a legimitidade necessária, num país
indignado após tamanha trapaça com seus direitos mais sagrados, o
candidato vitorioso naquele pleito, sem base social real, sem apoio
político consistente, foi afastado do cargo por impeachment, dois anos
depois.
Imagine quantos compromissos obscuros, quantos acertos sob a mesa
precisava esconder, quantos favores pode cobrar pelo serviço prestado de
impedir uma vitoria de Luiz Inácio Lula da Silva na primeira eleição
direta após o fim da ditadura.
O golpe de 2014 envolve cuidados mais profissionais, porém. Estamos
falando hoje de um país onde os trabalhadores e a população pobre, que
formam sua maioria, conquistaram o direito de colocar um representante
de seus interesses no Planalto, coisa que raramente aconteceu em 500
anos de história, jamais por 12 anos consecutivos.
A revista de maior circulação do país divulga uma denuncia que seus
repórteres, os editores, o próprio delator admitem que não são capazes
de provar — e que o advogado de quem acusa desmente. Se em 1989 apareceu
uma camiseta do PT em interrogatórios conduzidos sob tortura mais
bárbara, 25 anos mais tarde o que se emprega é a delação premiada, a
promessa de tirar da cadeia um doleiro que já mentiu outras vez,
ameaçado de penas que somam 100 anos. É pegar ou largar, você sabe, todo
mundo entende — mas, quando é necessário, os interessados fecham os
olhos. Não querem a verdade. Não querem apurar nem conferir. Querem um
“ouvir dizer” que possa dar uma manchete, possa ganhar votos pela
confusão, pelo medo. Não é preciso revelar fatos. Como nas piores
ditaduras — isso vem da Inquisição — basta uma confissão simulada.
Por isso mesmo o caso é divulgado com grande estardalhaço pelos
principais veículos de informação, que há anos se empenham,
assumidamente, declaradamente, em proteger uma oposição ”fraquinha”
como disse uma de suas lideranças mais expressivas, em 2010, falando em
nome da Associação dos Jornais.
Institutos de pesquisa de credibilidade duvidosa soltam números sem
menor relação com qualquer critério cientifico, aferível, ajudando a
criar o clima de incerteza e dúvida. Sua função é alimentar o discurso
”contra as pesquisas” necessário nessas horas.
Oscilações naturais em levantamentos desse tipo são superdimensionadas.
Decisões da Justiça são afrontadas. Ao acusado não se garantiu nem se
garante qualquer coisa que seja comparável ao direito de se defender. O
direito de resposta demora a ser reconhecido e é publicado sem os
devidos cuidados.
Os anais da democratização registram uma campanha na qual um pequeno
jornal de periferia divulgou a tese de que Fernando Henrique Cardoso era
“maconheiro.” O titular do jornal era conhecido pelo apelido de
Marronzinho. FHC foi acusado de maconheiro porque havia admitido, em
entrevista a revista Playboy, que havia experimentado fumar maconha, uma
vez. O material foi apreendido — em clima de grande indignação por
causa da acusação sem prova contra um político considerado tão digno,
tão educado, tão culto, que não podia ser tratado como um drogado. Não
podia perder votos por causa de uma baforada, mesmo com uma mercadoria
ilegal. Você entendeu, né?
Em 26 de outubro de 2014 o Brasil assiste à “guerra,” à “batalha
final” pelo controle da sétima maior economia do mundo, por um “mercado
de 200 milhões de almas”, para reproduzir as palavras em tom imperial do
Financial Times. Vale-tudo mesmo para o pensamento imperial, que abriu
caminho pela História com fuzis, balas de canhão e planos de colonização
economica, não é mesmo?
O radicalismo conservador, seu ódio, cumprem este papel, alimentam o medo.
Querem convencer espíritos frágeis de que derrota de Dilma só serviria
para acalmar o monstro. Por isso batem e ameaçam bater. Divulgam
mentiras que todos sabem que são mentiras — para claro que não tem
escrúpulo algum, não se constrangem diante de nada.
É exatamente isso que o monstro quer. Não consegue vencer pelo debate democrático. Quer ganhar pelo terror.
Já emplacou um congresso com a maior fatia conservadora em décadas.
Imagine o que vai sobrar do país, se a mesma orientação chegar a
presidência. Não teremos nem destroços.
O que está em jogo não é minha opção política, nem a sua. É saber se a
vontade da maioria será respeitada. A comparação com o golpe midiático
que ajudou a eleger Collor tem limites, porém.
Há 25 anos, Lula não havia chegado a liderar nenhuma pesquisa de opinião. Ficara próximo de um empate, no máximo.
Em 2014, o condomínio de poder que chegou ao Planalto com Lula, em 2002,
caminha democraticamente para sua quarta vitória consecutiva. Lula é o
presidente mais popular da história e a aprovação a gestão Dilma subiu
nos últimos dias da campanha. Ela foi melhor em todos os debates do
segundo turno. Lidera a campanha além da margem de erro ou, após o golpe
midiático, em seu limite máximo — estatiscamente irrelevante.
Desmobilizado e de guarda baixa nos últimos anos, ao contrário do que
ocorria há um quarto de século, o Partido dos Trabalhadores colocou-se
de pé nas últimas semanas. Recuperou o voto de grandes parcelas da
juventude.
Essa situação cobra uma desfaçatez maior de quem pretende dobrar a
vontade da maioria por meios ilegítimos e ilícitos, como sustentam
vários advogados, inclusive em artigo publicado aqui neste espaço. Exige
mais truculência. Um grau maior de cinismo. Apoio cúmplice e muitos
olhos fechados.
Dilma liderou a campanha presidencial por todo o tempo, salvo breves
intervalos onde ocorriam eventos típicos de arrumação de toda disputa
eleitoral — como a aparição de Marina Silva após a morte de Eduardo
Campos, a subida de Aécio Neves no início do segundo turno, depois de
ter amargado um humilhante terceiro lugar por meses.
No dia 26 de outubro 2014, a eleição será disputada voto a voto, urna a
urna, como já perceberam milhares de cidadãos que, convencidos da trama
que se constrói nos últimos dias e resolveram reagir, como se viu nas
dezenas de atos em apoio a Dilma nos últimos dias.
A lei do silencio pré-eleitoral devolveu o país ao seu assombroso
sistema de pensamento único da mídia, essa forma de ditadura civil que
permite operações à sombra e tramas invisíveis contra a soberania
popular.
Essa é a “guerra”, “a batalha final”, de hoje.
Também do Blog CONTEXTO LIVRE.
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