E da “Bolsa Rico” ? A Globo não reclama ?
O
Conversa Afiada reproduz post do
Tijolaço, de Brizola Neto:
O jornal Valor Econômico traz
hoje um levantamento do número de famílias que deixaram de receber, por
elevação da renda, os benefícios do Bolsa-Família. São 2,227 milhões, o
que equivale a cerca de 10 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza
extrema. E este número pode ser ainda muito maior se cosideramos de nos
outros 3,6 milhões de benefícios cancelados, muitos deles têm a
melhoria da situação como motivo pelo desinteresse em comprovar o
cumprimento das condicionalidades em educação e saúde ou mesmo de
participar dos recadastramentos.
Por mais que sejam importantes
os cursos de qualificação oferecidos aos beneficiários, o cerne desse
fenômeno é o crescimento da economia e, com ela, do emprego.
Dez milhões de pessoas saírem
de um estado de semi-indigência já teria valido o investimento. Mas ele
rendeu mais, embora continue sendo atacado de forma obtusa por quem
procura encobrir sua insensibilidade debaixo de razões contábeis.
Ontem, o jornal O Globo
deu manchete para um “escândalo”: os programas de transferência de
renda somam o dobro dos recursos orçamentários previstos para
investimentos públicos.Ou R$ 114 bilhões, contra R$ 44,6 bilhões.
A conta não se sustenta para quem não tem uma obtusa “cabeça de planilha”, como diz o jornalista Luís Nassif.
A primeira e fundamental
diferença entre um e outro gastos é simples: as transferências de renda
se convertem, imediatamente, em consumo e este em impostos. E consumo de
pobre, já se mostrou aqui, paga muito imposto: mais de 40%, segundo o Ipea, para famílias de até dois salários mínimos de renda.
Portanto, mais de 40% destes
recursos voltam para os cofres públicos da União, Estados e Municípios
quase que de imediato, ao contrário do que ocorre com os investimentos,
que retornam em escala menor e mais lenta aos cofres públicos.
Mas o jornal não toca nem de leve no xis da questão quando se fala na falta de recursos para investimentos públicos.
Porque isso mexe com um “santo” do altar neoliberal: os juros.
O país vai pagar, este ano, R$
240 bilhões em juros e serviço da dívida pública. Talvez um pouco menos,
se o Copom, esta semana, baixar um pouco mais a taxa Selic, porque cada
ponto percentual dela vale a bagatela de R$ 17 bilhões. Fora outros R$
110 bilhões que os juros tiram das pessoas e empresas.
Em termos proporcionais, isso
representa 36% do Orçamento, contra 17% dos programas de transferência
de renda para os pobres e 7% de investimentos.
Mas essa rubrica, a mais pesada de todo o Orçamento é intocável, não é?
Aliás, no , o presidente da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas, Luiz Aubert Neto, usa
uma frase perfeita para definir o que é a política de endividamento e
juros altos que o Brasil segue – e é prisioneiro dela, em boa parte –
desde o início do governo FHC:
- A política de juros altos dos
últimos 17 anos representa a maior transferência de renda da história
do capitalismo neste planeta.
Transferência de renda para os ricos, claro. Esta não escandaliza O Globo.
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