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Quem abandonou as metas
de inflação?
Fernando Brito, via Projeto
Nacional
É
muito curioso o comportamento de nossa imprensa. Mesmo que as previsões do
mercado financeiro estejam corretas e a inflação fique em 6,52%, “estourando” a
expetativa superior da meta estabelecida pelo Banco Central, 0,02% a mais é, no
mínimo, uma valor insignificante para dizer que a inflação escapou ao controle.
E é possível que nem isso ocorra, bastando que o IPCA dos três últimos meses do
ano não ultrapasse 0,5% mensais de variação.
Mas não me recordo de ter
havido este escândalo quando o governo Fernando Henrique estourou duas vezes o
teto da meta de inflação, adotada em 1999. Vejam bem, duas vezes, em quatro
anos, a meta estourou, e ninguém disse que o BC havia abandonado o regime de
metas de inflação. E olha que não estourou pouquinho, não: em 2001 foram 7,7% de
IPCA para uma meta de 6% no teto e em 2002, nada menos que 12,5% para um teto de
5,5%!
Repare o gráfico,
elaborado pelo Banco Central e atualizado para 2011 pelas expectativas de
mercado e confira o que está sendo afirmado.
Mas, quando se quer,
acha-se o impossível.
Em
sua coluna de sábado, dia 8, antes de entrar em férias, a colunista Miriam
Leitão traçou mais um de seus cenários apocalíticos. Chegou ao cúmulo de
arranjar um dirigente de associação de hospitais para dizer que, com a alta do
dólar, os exames e tratamentos ficariam muito mais caros, pelo uso de materiais
e equipamentos importados. Tenho certeza de que o caro leitor viu estes preços,
nos primeiros meses do ano, baixar, acompanhando a desvalorização do dólar, não
foi mesmo?
Um
amigo, ironizando, brinca dizendo que é pelas férias de Miriam Leitão que o
presidente do Banco Central e o mercado financeiro também estejam fazendo
prognósticos de inflação mais baixa este mês.
Mas sai Miriam, entra a
recém-chegada de férias Eliane Cantanhede, que ficou conhecida por chamar os
tucanos de “massa cheirosa” e, invocando sua empregada, a dona Mira, como
referência para o “espanto popular” com a inflação. E argumenta que “o IPCA,
principal índice de preços do País, mostra que a inflação aumentou 7,31% nos
últimos 12 meses”.
Mas a dona Cantanhede,
para cobrir as férias da Miriam Leitão como apregoadora do apocalipse, tem de
prestar um pouco mais de atenção nos índices. O IPCA mede os gastos dos que
ganham até 40 salários mínimos, faixa de renda próxima à da nova analista de
economia.
Para a dona Mira, o
índice mais verdadeiro é outro, o INPC, também do IBGE, que registra os preços
da cesta de consumo de quem ganha até seis salários mínimos, valor no qual dona
Mira não deve chegar.
Ele está muito alto, sim,
mas sua elevação se deu mais fortemente no final do ano passado e início deste
ano, como você pode ver no gráfico abaixo.
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E
vai baixar, como já indicam as variações nos preços dos
alimentos.
Embora a torcida seja
grande, dona Cantanhede pode avisar a dona Mira que não apenas os preços vão
subir muito mais lentamente como, também, que ela se prepare, porque vem
reajuste forte no salário mínimo em janeiro, bem acima da
inflação.
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