Na última década, o Brasil percorreu tão rapidamente caminhos
desconhecidos em sua história que ainda não se deu conta de que uma nova
geração já perdeu a referência do passado. Antes, a realidade desse
país deprimido por um histórico complexo de vira-latas era caracterizada
por desigualdade social crônica, inserção na política internacional
nula e, sobretudo, desambição e um ceticismo em relação ao futuro.
O brasileiro jovem já incorporou à sua vida a educação superior, o
direito ao emprego formal, a possibilidade de ascensão social e,
sobretudo, uma vida sem fome. A maioria das crianças cujas famílias
ascenderam das classes mais miseráveis nesses dez anos nunca passou por
uma realidade de fome como a vivida por seus pais. E a maioria dos
jovens que hoje ocupa os bancos das universidades superou uma situação
de miséria na tenra infância e terá a oportunidade de dar aos seus
filhos uma infância muito melhor que a que teve.
Dez anos após o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1o de
janeiro de 2013, a inteligência brasileira de esquerda vive também um
momento único: o de refletir sobre o que deu certo nesse período. O
outro dado novo na vida desse segmento do pensamento brasileiro é o de
que ele se debruça sobre os desafios do futuro com a perspectiva de uma
segunda década de continuidade de gestões progressistas, conquistadas
pelo voto direto e secreto. Neste momento histórico, também a via
democrática, opção feita pelas esquerdas brasileiras na década de 1980,
está em debate depois de uma década de grandes acertos viabilizados por
uma trajetória de luta, é certo, mas fundamentalmente pela intuição e
pragmatismo do presidente eleito por essas forças.
Este livro se inicia com uma entrevista com o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e reúne reflexões de alguns dos melhores pensadores
brasileiros. É uma proposta de aprofundamento das discussões sobre os
governos Lula e Dilma Rousseff pela ótica progressista e pela
perspectiva da continuidade.
O debate é fundamental para o futuro. Como diz Lula no primeiro
capítulo, “não se muda gerações de equívocos em apenas uma geração”.
Isso requer ainda muita reflexão e muito trabalho.
Maria Inês Nassif
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