Enquanto não surgir coisa mais avançada, as pesquisas de opinião
continuarão a ser a melhor maneira de saber o que pensa a população a
respeito das questões coletivas.
Sem elas, ficamos com o que acha cada individuo ou dizem os grupos mais
organizados e loquazes. Os sentimentos e atitudes da maioria permanecem
ignorados. É como se não existissem.
Mas as pesquisas estão aí, permitindo que compreendamos os juízos e as
expectativas dos que não se expressam, não mandam cartas ou postam
comentários na internet. Há outras formas de fazê-lo, mas nenhuma mais
confiável.
Realizá-las não é extravagância ou privilégio. Sequer custam tanto que
um partido político poderoso, como, por exemplo, o PSDB, não possa
encomendar as suas. Ou que um jornal fique pobre se tiver que contratar
alguma.
Por que, então, as oposições brasileiras as usam tão parcimoniosamente?
Por que, se é simples conhecê-la, os partidos e a mídia oposicionista
desconsideram a opinião pública?
Tome-se a velha ideia de que as três derrotas sucessivas dos tucanos
para o PT teriam sido causadas pela insuficiente defesa da “herança de
Fernando Henrique”. Sabe-se lá o porquê, é uma hipótese que volta e meia
reaparece, como se fosse uma espécie de verdade profunda e houvesse
evidências que a sustentassem.
Nas últimas semanas, ela retornou ao primeiríssimo plano. Em seu
discurso inaugural como presidente nacional do PSDB, o senador Aécio
Neves (MG) disse que seu partido se equivocou ao não valorizar o
“legado” das duas administrações de FHC. Em suas palavras: “Erramos por
não ter defendido, juntos, todo o partido, com vigor e convicção, a
grande obra realizada pelo PSDB”.
Salvo uma ou outra manifestação de cautela, a mídia conservadora
aplaudiu o pronunciamento. Os “grandes jornais” gostaram de Aécio ter
assumido uma tese com a qual sempre concordaram. Faltava-lhes um
paladino e o mineiro se ofereceu para o posto.
E as pessoas comuns, o que pensam desse “legado”?
Em pesquisa recente de âmbito nacional, a Vox Populi tratou do assunto.
Ao invés de subscrever (ou atacar) a tese, apenas identificou o que a
população pensa a respeito.
Os entrevistados foram solicitados a avaliar quinze áreas de atuação do
governo Dilma. Depois, a comparar o desempenho de cada uma nos governos
dela e de Lula com o que apresentavam quando Fernando Henrique era
presidente.
As avaliações de todas as políticas nos governos petistas são
superiores. Em nenhuma se poderia dizer que, para a população, as coisas
estavam melhores no período tucano.
Consideremos algumas: na geração de empregos, 7% dos entrevistados
disseram que FHC atuou melhor, enquanto 75% responderam que Lula e Dilma
o superaram; na habitação, 3% para FHC e 75% para Lula e Dilma; nos
programas para erradicar a pobreza, 4% ficaram com FHC e 73% com os
petistas; na educação, FHC foi defendido por 5% e Lula e Dilma por 63%;
na política econômica, em geral, FHC foi avaliado como melhor por 8% e
os petistas por 71% dos entrevistados.
No controle da inflação, FHC teve seu melhor resultado: 10% acharam que
foi melhor que os sucessores, mas 65% responderam que Lula e Dilma é que
agiram ou agem melhor.
Na saúde e na segurança, os petistas tiveram as menores taxas de
aprovação, mas mantiveram-se bem à frente do tucano: na primeira, Lula e
Dilma foram considerados melhores por 46% dos entrevistados; na
segurança, por 45%. FHC, por sua vez, por 7% e 6%.
No combate à corrupção, FHC teria atuado melhor que seus sucessores para
8%, enquanto 48% dos entrevistados afirmaram que Lula e Dilma foram-lhe
superiores.
Os políticos (e as empresas jornalísticas) são livres para crer no que
quiserem. Enéas Carneiro era a favor da bomba atômica. Levi Fidelix é
obcecado pela ideia de espalhar aerotrens pelo Brasil. Os partidos de
extrema esquerda lutam pelo comunismo. Há quem queira recriar a velha
Arena da ditadura.
Ancorar uma campanha presidencial na “defesa do legado de FHC” é um
suicídio político, que nem Serra, nem Alckmin quiseram praticar. Não foi
por não fazê-la que perderam. Seu problema nunca foi estar distantes
demais dos anos FHC, mas de menos.
Resta ver como se comportará, na prática, Aécio. E o que dirão seus
apoiadores, quando perceberam que também ele procurará fazer o possível
para se afastar do tal “legado”.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Nenhum comentário:
Postar um comentário