A Importância da voz Rouca das Ruas
Do Direto da Redação - 26/06/2013
Mário Augusto Jakobskind
Muito importante o Brasil ter uma presidenta atenta à voz rouca das
ruas e dialogar com representantes dos movimentos sociais. Faz parte do
jogo democrático, mas só que Dilma Rousseff já poderia ter feito isso
desde o início do governo. Não foi o que aconteceu, segundo admitem as
lideranças.
Mas tudo bem, antes tarde do que nunca. Para começar a decodificar a
voz das ruas urge que o governo federal se empenhe no sentido de
pressionar os executivos estaduais e municipais a abrirem as contas das
empresas que exploram os serviços de transporte coletivo.
Essas mesmas empresas tinham recebido isenção fiscal por parte do
governo Dilma Rousseff e ainda por cima os prefeitos e governadores
aumentaram o preço das passagens, que acabaram reduzindo, mas sem
informar por quanto tempo e se as empresas serão subvencionadas pelo
Estado para cobrir a redução.
No Rio de Janeiro, empresários do setor de transportes coletivos
financiam campanhas de candidatos, que ao serem eleitos retribuem os
favores concedidos. Conhecedores do setor acusam prefeitos e
governadores, não só os atuais, como anteriores, de nomearem secretários
de transportes indicados pelos empresários dos transportes.
Promiscuidade total.
A voz rouca das ruas está dando outros recados. Da indecorosa
privatização do Maracanã ao sucateamento dos hospitais, isso em todo o
país, passando pela repressão indiscriminada em determinadas áreas.
Violência rotineira - Sobre este último item, o povo das áreas
carentes do Rio há tempos conhece a truculência da PM, sob total
silêncio da mídia de mercado. Agora, ao reprimir as legítimas e
pacíficas manifestações dos jovens, os batalhões de choque cumprem a voz
de comando, leia-se Sergio Cabral. A classe média sentiu de perto a
truculência rotineira nas áreas carentes, prática habitual do tempo da
ditadura.
Marginais e agentes provocadores do gênero pitbull não fizeram parte
das manifestações. Pegaram carona, no caso dos agentes provocadores,
para disseminar o pânico e mesmo agredir militantes de partidos. Há
denúncias até de que além de estimulados, alguns receberam ajuda de
custo para fazer o que fizeram.
Em Brasília foi claríssima a ação de agentes provocadores no prédio
do Itamaraty e na Catedral. Manifestante na acepção da palavra não faz
isso. Há indícios de incitamento por parte de grupos extremistas
descontentes com as denúncias que a Comissão da Verdade vem divulgando e
a discussão sobre a revisão da lei da anistia. É gente que tem culpa no
cartório e teme a verdade.
Quanto à marginalidade no Rio, a Polícia Militar não estava presente
durante a ação do setor, tanto que as depredações ocorreram sem
obstáculos sob o olhar, muitas vezes exclusivo, das câmeras da Globo.
A Rede Globo, por sinal, entrou de sola nas manifestações. Com a
soberbia de sempre, tentou pautar os acontecimentos. Aproveitou ao
máximo as imagens dos quebra-quebras para disseminar o temor e mesmo o
pânico a quem não esteve nas manifestações dos jovens, na prática
tentando convencer a opinião pública que o melhor para o país deve ser o
que a mídia de mercado sempre defendeu, ou seja, a paz dos cemitérios.
Depois de criminalizar o movimento dos jovens, prática rotineira
contra os movimentos sociais, a mídia de mercado teve de mudar de
enfoque na cobertura diante do crescimento dos protestos e da ação
truculenta da PM contra jornalistas. Mesmo assim, os meios de
comunicação de mercado priorizaram os quebra-quebras relegando as
manifestações propriamente ditas a segundo plano. Ou seja, na batalha da
opinião pública o papel da mídia de mercado foi o de sempre.
Voz de comando - Não adianta apenas falar sobre o despreparo
policial, pois os soldados e oficiais obedecem a voz do comando de
Sergio Cabral, um governador que não está a altura da importância do
mandato, como comprova até a afirmação do mentiroso Secretário de
Segurança, Mariano Beltrame, ao admitir que a PM perdeu o controle da
situação, não descartando inclusive a possiblidade de convocação do
Exército em próximas manifestações. A PM não perdeu o controle, ela
simplesmente deixou correr em certos momentos. Só reprimiu
indiscriminadamente e covardemente os verdadeiros manifestantes.
Beltrame estava numa sala informatizada da Secretaria de Segurança
acompanhando a movimentação na cidade. Dava ordens para reprimir e agora
posa de bonzinho. Os covardes não assumem o que fazem em matéria de
truculência.
Outro recado que a Presidenta deve considerar: a representação
popular não pode estar sujeita aos lobies empresariais, muito menos a
campanhas milionárias financiadas por grupos econômicos que vão cobrar a
fatura depois das eleições.
Reforma política para valer - A reforma política que se faz
necessária para aprimorar a democracia precisa levar isso em conta.
Presidenta, por que não baixar um decreto, ou encaminhar ao Congresso,
projeto impedindo que empresas financiadoras de campanhas eleitorais
sejam impedidas de realizar obras públicas?
Para tudo isso acontecer é necessário que o povo seja informado de
forma plural e não ficar sujeito ao esquema do pensamento único a
serviço de interesses econômicos dos mais variados matizes. Dilma
Rousseff, ouça a voz dos que pedem a democratização dos meios de
comunicação e não ceda às pressões da mídia de mercado.
Mário Augusto Jakobskind. É
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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Um comentário:
Acho q o Cabral esta muito mais interessado em manter a ordem e proteger o patrimônio do q estimular truculência policial contra manifestantes
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