Por Ana Helena Tavares(*),
Certa vez, o então presidente do STF,
ministro Gilmar Mendes, proferiu a célebre frase: “Não se dá
independência ao juiz para ele ficar ouvindo o sujeito da esquina”. Ora,
quem é o “sujeito da esquina”? É aquele que pega ônibus, trem, é aquele
que precisa da saúde e da educação públicas e de qualidade.
Juiz não ganha independência para
ouvi-los. A independência é dada aos juízes para ouvirem os
especialistas da Globonews e andarem com a capa da Veja debaixo do
braço.
É isso o que o Brasil tem presenciado
nos últimos anos: uma política feita nos tribunais, pautada pela mídia.
Quando as ruas gritam, a repressão policial que se vê é de deixar os
generais da ditadura corados de inveja nos túmulos para onde foram
impunes.
Nem eles ousaram dizer que uma
aglomeração de “sujeitos da esquina”, lutando por muito mais do que 20
centavos, era “formação de quadrilha”. E há quem diga que “essa
juventude não tem mais o que fazer”. Essa juventude está fazendo
política. E é nas ruas que ela tem que ser feita.
Quem compara as manifestações pelo Passe
Livre que levaram milhares às ruas nessa última semana à “Marcha com
Deus pela família e pela liberdade”, achando que pode ser o prenúncio de
um novo golpe, deveria ler os jornais da época. Lá, também se estava
fazendo política, mas, segundo o JB de 19 de Março de 64, a banda tocava
de outra forma.
“A Marcha saiu da Praça da República ao
som dos clarinetes dos Dragões da Força Pública, e chegou à Praça da Sé
com os sinos de todas as igrejas repicando simultaneamente, enquanto a
banda da Guarda Civil executava Paris Belfort, o hino da Revolução
constitucionalista de 1932.”, registrou o saudoso jornal.
Não houve repressão policial. Muito ao
contrário, os militares apoiaram a marcha. E, se puxarmos para os dias
atuais, cabe perguntar: alguém viu protestos contra a “corrupção” (que
sempre foram protestos unicamente contra o PT) colocarem muita gente na
rua? Alguém viu eles serem reprimidos pela polícia?
Infiltrados, mal intencionados e
oportunistas existiram em toda a história da humanidade. Vão existir
sempre. Mas o direito à manifestação é inalienável e é urgente que as
pessoas percebam o abismo que há entre lutar por melhores condições de
vida e lutar para derrubar quem quer que seja.
*Ana Helena Tavares, jornalista, editora do “Quem tem medo da democracia?“.
Do Blog Quem tem medo da democracia?
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