ter, 18/06/2013 - 20:34
- Atualizado em 19/06/2013 - 12:32
Um a um, os principais agentes políticos do velho modelo curvaram-se à voz das ruas, da moçada do Movimento Passe Livre (MPL).Primeiro, os grandes órgãos de mídia. De “baderneiros”, “guerrilheiros urbanos”, tornaram-se, não mais que de repente, jovens idealistas, a voz da classe média etc.
Depois, os governantes. Das declarações taxativas contra o que reputavam “baderna” para declarações afáveis e a garantia de que os protestos poderiam continuar.
Do meio do alarido desconexo, surgiram duas vozes referenciais do velho modelo – os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula – avalizando os protestos. Seguiram-se as declarações da presidente Dilma Rousseff, de consideração pelo movimento.
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Há um corre-corre febril de interpretação das manifestações, cada qual pretendendo puxar a brasa para a sua sardinha.
Mas, inegavelmente, o movimento foi contra toda a estrutura de poder existente – do Executivo aos grandes grupos de mídia, do Congresso aos grandes partidos políticos e também aos pequenos (manifestantes queimaram bandeiras do PSTU e PSOL). Sobrou até para a UNE (União Nacional dos Estudantes), que desapareceu.
Na última manifestação, na segunda-feira passada, os jovens não estavam mais sozinhos. Muitos pais, profissionais liberais, funcionários públicos, trabalhadores, pessoas há décadas enferrujadas das manifestações de rua, aderiram ao movimento.
Afinal, contra o quê é o movimento? É contra tudo. E não se considere que esse “tudo” signifique um anarquismo inconsequente. Significa que a moldura institucional do país não cabe mais no organismo social brasileiro.
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É algo cíclico, agora turbinado pelo fenômeno das redes sociais.
Logo após Franco Montoro eleito governador de São Paulo, houve explosões populares no centro e na frente do próprio Palácio dos Bandeirantes. Democrata exemplar, Montoro levou balas perdidas resultado da impaciência de quem não aguentava mais o quadro institucional anterior.
Algum tempo depois, aquela impaciência resultou na campanha das “diretas, já”.
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O segundo movimento foi na campanha dos “caras pintadas”, que resultou na queda de Fernando Collor. A explosão ocorreria de qualquer maneira. Havia uma nova geração em campo, uma rapaziada que não participara das lutas contra a ditadura, mas sedenta por participação.
Embora até o último momento Collor mantivesse respeito pela Constituição, seu porte arrogante calou fundo na jovem classe média que se formava.
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Agora, vê-se o terceiro movimento.
Nos últimos anos, a disputa PT x PSDB esgotou a paciência do último cristão. Do lado do PT, um pragmatismo excessivo, de compor com setores retrógrados, com fisiologistas da pior espécie. Do lado do PSDB, a terceirização da oposição a uma mídia sem limites, beirando o golpismo. Do lado da mídia, essa manipulação de ressuscitar fantasmas da guerra fria.
Nas redes sociais, de ambos os lados uma virulência sem limites, com ataques pessoais, assassinatos de reputação, ações orquestradas.
E a rapaziada apartidária – mas não apolítica – observando tudo, trocando impressões entre si e gradativamente formando a sua própria opinião. E sua opinião explodiu na forma de condenação geral ao modelo de poder.
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