Do Tijolaço - 10 de Jun de 2013 | 14:03
O jornalista Breno Altman, editor do ótimo
Opera Mundi e ele próprio um dos entrevistados utilizados como fonte por
Otávio Cabral em seu livro sobre José Dirceu – “A biografia” – desmonta
a publicação como uma “encomenda” da Revista Veja a um de seus
editores.
Leia alguns trechos (a íntegra aqui, no Brasil 247):
“Fundamental mesmo é que o livro não passa de uma fraude, da primeira à última linha. Uma enganação. Um desrespeito ao leitor e ao código de defesa do consumidor. O que a revista anuncia e o escritor promete não passam de propaganda enganosa e abusiva. Ambos sonegam informações relevantes, conduzem ao erro e prejudicam o conhecimento da verdade.” (…)
O autor fala em 63 pessoas com quem teria encontrado na fase de pesquisas. Pouquíssimas são citadas nas notas de rodapé.(…)
“A jornalista Mônica Bergamo, em post no Facebook, já desmentiu relato no qual se viu citada. Certamente não será a única. Fernando Morais, que não foi ouvido pelo autor, também repele como falsos os momentos nos quais é referido. Eu mesmo fui tratado, em determinada passagem, como “porta-voz de Dirceu para momentos delicados, como o sequestro de Abílio Diniz”. Não apenas é uma deslavada mentira, como Cabral, por quem aceitei ser entrevistado, jamais me perguntou a esse respeito.” (…)
Não vacila em agir com este despudor sequer ao recorrer a arquivos da ditadura militar. Documento assinado pelo delegado Alcides Cintra Bueno Filho, torturador de carteira registrada no DOPS paulista, relata que Dirceu teria sequestrado, em 1968, estudantes ligados ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC). No texto sofrível de Cabral, é o que basta para ser apresentado como fato líquido e certo.(…)
(…)o autor conta que Dirceu teria participado de uma ação, em 1972, que resultaria no assassinato de um sargento da Polícia Militar. A fonte? Relatórios do II Exército, que se referem a uma testemunha identificando o líder petista em um cartaz de procurados. A ditadura não abriu inquérito, a partir de prova tão frágil, mesmo José Dirceu sendo um homem marcado para morrer, mas o escrevinhador mandou bala.(…)
Sobre o chamado “mensalão”, então, Cabral faz um prato caprichado. Uma colada básica no relatório de Joaquim Barbosa, e está liquidada a fatura. Nem mesmo aproveita a loquacidade do advogado José Luiz de Oliveira e Lima, costumeiramente disponível a contar sobre bastidores de seu cliente, para investigar contraprovas da defesa ou analisar mais a fundo tanto os
acontecimentos entre 2003-2005 quanto o julgamento de 2012. Preguiçosa e interesseiramente, adota sem pestanejar o ponto de vista de quem lhe assina o cheque de cada mês.(…)
Os únicos leitores com os quais Cabral parece ter compromisso, a bem da verdade, são seus chefes na Veja. A estes entregou a mercadoria prometida: mais um libelo contra José Dirceu. Feito nas coxas, seguindo o manual para linchamento de reputações que faz sucesso entre seus pares, mandando às favas qualquer critério jornalístico ou rigor de pesquisa.(…)
O livrinho é um estelionato editorial que lança mais luz sobre o autor e seus patrocinadores que sobre o biografado. Um bom caso para o Procon.
Demolidor, não é preciso dizer mais.
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