O colapso da mídia conservadora chegou antes da falência do país,
vaticinada há mais de uma década pelo seu jornalismo. Estadão, Abril,
Folha, Valor lideram a deriva de uma frota experiente na arte de
sentenciar vereditos inapeláveis sobre o rumo da Nação, enquanto o seu
próprio vai à pique. De bagres a pavões, cabeças experimentam o fio
gelado da guilhotina dos custos.
As corporações que fazem água nesse momento não são entes genéricos; não
praticam qualquer jornalismo; não reportam qualquer país, tampouco
adernam num ambiente atemporal. Uma singularidade precisa ser reposta: o
jornalismo dominante virou as costas ao país. Se a tecnologia
envelheceu o suporte, o conservadorismo esférico mumificou a pauta. A
saturação da narrativa antecedeu o esgotamento do meio.
Ao ocupar diariamente suas páginas com a reprodução da mesma matéria,
as corporações contraíram um vírus fatal ao seu negócio: o bacilo da
previsibilidade. Há quanto tempo as manchetes, colunas e reportagens
disparadas do bunker dos Frias deixaram de surpreender o leitor? Existe
algum motivo para ler amanhã um jornal que hoje tem a frase seguinte
antecipada na anterior? E na anterior da anterior e assim
sucessivamente?
O golpe de misericórdia tecnológico,no caso brasileiro, talvez seja
apenas isso. Uma gota d'água adicional em um galeão perfurado de morte
pelos próprios artefatos. O naufrágio serve também de alerta à
comunicação progressista.

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