Por Mariana Viel, no sítio Vermelho:
A plenária ocorre em meio a uma onda de manifestações populares que
tomaram as ruas de todo o país, mas que nos últimos dias foram
infiltradas por forças reacionárias e grupos de vândalos que tentam se
apropriar e desvirtuar o caráter democrático dos protestos.
A reunião teve a participação de 76 entidades que representam os
movimentos sindicais e sociais brasileiros, entre eles, o Movimento Sem
Terra (MST), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União da Juventude
Socialista (UJS), a Marcha Mundial de Mulheres, o Levante Popular da
Juventude, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a
Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central Geral dos
Trabalhadores do Brasil (CGTB). Também integraram as discussões
representantes do PT, PCdoB, PSTU, Psol, PCO, PCB, PSB e PPL.
O encontro foi marcado pela necessidade de os movimentos sociais e de os
partidos progressistas – legítimos representantes do povo brasileiro –
politizarem as discussões e levarem para as ruas as reais agendas da
classe trabalhadora. Para o vereador paulistano e presidente do PCdoB no
estado de São Paulo, Orlando Silva, as novas formas de mobilizações e
iniciativas da juventude reafirmam que só há conquistas com lutas.
“Creio que foi importante a iniciativa do prefeito de SP, Fernando
Haddad, de recuar e rever o reajuste da tarifa do transporte e creio que
a unificação de um programa de luta comum pode ser importante para
impulsionar avanços nos vários movimentos do Brasil, a começar pelo
governo da presidenta Dilma. Se houve um levante, uma rebelião, uma
revolta da dimensão que o Brasil viu é porque valeram muito as
conquistas até aqui, mas o povo, os trabalhadores e a juventude querem
mais.”
O
dirigente comunista disse que assim como a pauta da melhoria do
transporte, as forças progressistas e os movimentos organizados devem
abordar também a questão da moradia, da reforma urbana, da necessidade
de se avançar no ritmo da reforma agrária, do financiamento público de
campanhas eleitorais e a reivindicação de 10% do PIB do país para a
educação. “Creio que uma primeira tarefa é fechar uma agenda comum. Em
segundo lugar é replicar nos estados plenárias como estas que podem
agrupar e articular para que possamos ter consequência, mobilização nata
e novas conquistas.”
Em sua intervenção, o presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que
independentemente dos matizes ideológicos de cada entidade ou partido é
necessário buscar os pontos que identificam todos com as lutas do povo
nas ruas. O dirigente do PSTU, José Maria de Almeida, defendeu os
movimentos que estão nas ruas, mas lembrou que esse processo deve ser
dirigido pela classe trabalhadora e suas pautas. “Vamos cobrar nossas
reivindicações dos governos municipais, estaduais e do governo
federal.”
Em entrevista ao Vermelho, Ricardo Gebrim, da Consulta Popular, falou
que as forças de esquerda devem assumir um calendário conjunto de ações
que os coloquem como o verdadeiro protagonista dessas insatisfações, já
que elas têm forte acúmulo em relação a essas lutas e demandas
populares. João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST e da Via
Campesina, disse que os movimentos e partidos devem continuar orientando
suas bases para que elas participem das mobilizações.
“Devemos pautar o que são os nossos 20 centavos. Devemos continuar
estimulando que a nossa turma vá para a rua, que é um espaço de
democracia, mas levando as nossas bandeiras. O problema que está
deixando todo mundo atônito é que as massas que estão na rua agora são
majoritariamente formadas por uma juventude desorganizada, sem direção
política e que não tem claro o que quer e, evidentemente, que os setores
direitistas organizados também fazem análise de conjuntura e estão
fazendo essa mesma leitura.”
A coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil, Nalu Faria,
avaliou que vivemos inegavelmente uma década com ganhos da classe
trabalhadora, mas disse que as conquistas são insuficientes e que o
governo iria entrar em um processo de crise se não conseguisse avançar
nas mudanças estruturais. “O que está nas ruas é um sentimento de
mudança de modelo. Acho que é o momento de nós realmente disputarmos
essas mudanças de modelo e para isso a importância de recompor uma ampla
articulação da classe trabalhadora e nossas bandeiras unitárias.”
Também em entrevista ao Vermelho, o presidente nacional do PT, Rui
Falcão, alertou que o Brasil já conhece experiências anteriores em que a
direita tenta se apossar de movimentos populares e transformá-los em um
movimento contra as instituições democráticas. “Para mim, o que reúne
hoje tantas tendências de opiniões com concepções e pautas diferentes é a
defesa da democracia brasileira e o direito de livre manifestação e
expressão – que está comprometido à medida que as pessoas vão para as
ruas e sofrem ameaças físicas e agressões. Acho importante que nesse
momento a gente faça uma defesa da democracia brasileira.”
Pronunciamento
As
discussões da plenária foram interrompidas para o pronunciamento, em
cadeia de rádio e televisão, da presidenta Dilma Rousseff, que conclamou
governadores, prefeitos, movimentos sociais e líderes das manifestações
para produzirem mais mudanças que beneficiem, segundo ela, melhor e
mais rápido, todos os brasileiros e brasileiras.
A mandatária legitimou o movimento pacífico por propor e exigir
mudanças. “As manifestações desta semana trouxeram importantes lições.
As tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade
nacional. Temos que aproveitar o vigor das manifestações para produzir
mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.”
Dilma foi aplaudida por todos os representantes de movimentos e partidos
presentes no encontro quando reafirmou a importância de seu projeto que
destina 100% dos royalties do petróleo na aplicação, exclusiva, à
educação, e na vinda de médicos estrangeiros para atuarem na saúde do
país.
A presidenta da UNE, Vic Barros, ressaltou a identificação das pautas
que unificam o conjunto da população brasileira. “Temos hoje a
possibilidade de unificar uma agenda de lutas, de unificar uma extensa
pauta de todos aqui presentes seja na luta por reformas democráticas que
possibilitem uma nova arrancada de desenvolvimento para o nosso país,
uma reforma política que garanta o financiamento público de campanha e
mais participação popular nos espaços democráticos de decisão. Também é o
momento de erguer pautas como a reforma urbana, como um sistema
nacional de transporte que contemple a necessidade do povo da periferia e
da juventude e também é o momento de escancarar a necessidade de
democratizar os meios de comunicação de massas em nosso país, sabendo
que o que a gente quer é radicalizar a liberdade de expressão no
Brasil.”
O secretário nacional sindical do PCdoB e membro da direção nacional da
CTB, Nivaldo Santana, avaliou que o encontro foi plural, amplo e
bastante representativo. Ele pontuou que uma das preocupações mais
importantes da plenária foi valorizar a mobilização dos estudantes e
manifestantes e a condenação de grupos de extrema direita que procuraram
instrumentalizar essas manifestações com violência contra o patrimônio
público e privado, que descaracterizam a natureza pacífica das
mobilizações.
“Foi reforçada a necessidade das forças políticas democráticas e
progressistas manterem a unidade e defenderem que os partidos políticos e
entidades organizadas tenham o direito de participar das mobilizações.
Os próximos passos do movimento serão debatidos pelas diferentes
entidades.”
Ele explicou que na próxima terça (25) as centrais sindicais irão se
reunir para procurar construir um documento base de reivindicações,
sintonizadas com o movimento de rua, e definir um plano de ação para o
próximo período.
A plenária marcou uma nova reunião para a próxima terça (25), às 19
horas, no Sindicato dos Químicos de SP. João Paulo Rodrigues, da
coordenação do MST, disse que a análise das forças políticas das mais de
70 entidades que participaram da plenária avançou na necessidade da
classe trabalhadora integrar as mobilizações e unificar as agendas de
cada entidade e partido para a construção de uma pauta mais unitária.
“Houve um esforço de cada organização ir para dentro das suas entidades,
fazer uma reflexão política e tentar na próxima semana construir uma
agenda que nos dê unidade e um calendário de mobilizações pelo país
afora.”
Postado há 24 minutes ago por Blog Justiceira de Esquerda
Do Blog Justiceira de Esquerda.
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