Em São Paulo, jovens fazem saudação nazista na manifestação da
quinta-feira 20. No Rio de Janeiro, agressões a quem portava uma
bandeira de partido político ou movimento social
Na última quarta-feira 19, deputados federais do Rio de Janeiro
divulgaram uma carta aberta aos manifestantes sobre os atos que tomaram
as ruas de várias cidades do Estado:
Nós, deputados federais do Rio de Janeiro, sentimo-nos estimulados e
saudavelmente cobrados por essas manifestações que tomam as ruas das
nossas cidades. Aos milhares que, mobilizados pela internet, saem para
as passeatas, transitando do virtual para o presencial, dizemos: VOCÊS NOS REPRESENTAM! Inclusive quando questionam o padrão rebaixado da política movida a interesses menores e também distante de ideias e causas.
Temos orgulho de nossos mandatos políticos e queremos colocá-los à
disposição das justas demandas por transportes públicos eficientes,
redução das tarifas, educação e saúde pública de qualidade, ética na
política, transparência e prioridade social nos orçamentos públicos. As
grandes lutas sociais de nossa história, que alcançaram vitórias
concretas, tiveram a participação de organizações partidárias
vinculadas ao povo.
Entre os signatários, a deputada Jandira Feghali, do PCdoB, que me concedeu esta entrevista.
Viomundo – Na quinta-feira 20, houve atos de violência e depredações
em alguns pontos da cidade do Rio de Janeiro. Os manifestantes
continuam representando- a?
Jandira Feghali – Mantenho a mesma posição de apoio, pois a
grande maioria da manifestação não tem nada a ver com a confusão que
aconteceu. Majoritariamente ela continua agindo de maneira democrática,
com bandeiras justas pela educação, saúde, mobilidade urbana, contra o
fundamentalismo em relação à diversidade.
Viomundo – E a destruição de patrimônios históricos do Rio?
Jandira Feghali – Aí está o problema. Existem dois grupos
minoritários, que estão quebrando, destruindo, partindo para a
violência, que nós não apoiamos. Acredito que também a sociedade e os
manifestantes também não os apoiam.
Viomundo – Quais seriam?
Jandira Feghali – Um é o anarco-punk, que desde o início
sabíamos que existe e está presente em vários lugares. Seus integrantes
acham que os símbolos do capital e do poder tem de ser depredados,
destruídos. Daí os ataques a bancos, assembleias legislativas,
patrimônios históricos. Eles acham que uma revolução se faz assim.
Existe outro grupo que, no Rio de Janeiro, só ficou mais explícito na
manifestação da última quinta-feira. É um grupo fascista, de direita,
que atacou não apenas as poucas bandeiras de partidos e entidades,
tocando-lhes fogo, rasgando-as, mas que jogou bombas nos próprios
manifestantes, machucando muitos. Eles são nitidamente pagos e
organizados. Isso é grave e nos preocupa, pois podem partir para
agressões mais pesadas e gerar uma tragédia.
Viomundo – Como a senhora sabe que são grupos pagos?
Jandira Feghali – Eles foram identificados por pessoas de
entidades democráticas. Eram caras que usavam jaqueta e gravata, davam
ordem para agredir aqui, ali, acolá. Não jogaram bombas em bancos,
prédios, polícia. Jogaram no carro de som da manifestação, diretamente
nas lideranças, nos ativistas, que estavam celebrando. Eles acabaram
produzindo uma série de confusões para dentro da passeata.
São típicos grupos de fascistas. São pagos para gerar confusão entre os
manifestantes e gerar uma mídia antipartidária, antidemocrática.
Repito: acho isso muito grave e tem de ser denunciado abertamente por
nós, pois fere o estado democrático de direito, a livre liberdade de
manifestação.
Viomundo – O que acha de bandeiras de partidos e movimentos sociais terem sido destruídas e militantes de partidos agredidos?
Jandira Feghali – Nós não estamos na época da ditadura em que as
pessoas eram proibidas de se manifestar. Os partidos são parte da luta
democrática. Aliás, essa liberdade de estarmos nas ruas como hoje é
também consequência da luta dos partidos, que perderam militantes na
ditadura e lutaram para que houvesse essa liberdade de manifestação.
Portanto, os partidos são parte do processo. Ninguém quer tutelar nada.
Eu acho que não tem de ter a tutela de absolutamente ninguém. E o
movimento tem que ser amplo, suprapartidário mesmo, com os movimentos
sociais.
Nós queremos que essas manifestações legítimas de desejos tenham
vitórias, conquistas concretas, nas bandeiras importantes. Mas não
queremos que isso seja confundido com bandeiras da direita, atrasadas,
contra a liberdade de expressão e de manifestação de partidos políticos,
de LGTB, do movimento negro ou de uma juventude que não milita em
partido.
Viomundo – O que fazer agora?
Jandira Feghali – Nós não podemos admitir que atos fascistas,
provocatórios, que se expressam através de movimentos organizados e
pagos, possam gerar alguma tragédia, algum mártir. Ou confundir o
processo que está se dando nas ruas. Nós temos de denunciar isso.
Também temos de excluir esse esse comportamento fascista para que a
beleza do que foi para as ruas movimento possa avançar de maneira
democrática.
Os jovens têm que ficar antenados para se definir de forma ampla.
Precisam aprender que a liberdade e a democracia são os maiores bens da
sociedade brasileira.
Conceição LemesNo Viomundo
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