Por Davis Sena Filho
O que mais chamou a atenção até agora nos protestos de
estudantes liderados pelo Movimento Passe Livre (MPL) em várias capitais do
País, notadamente em São
Paulo, não foi a infiltração de grupos de extrema direita nas
manifestações e muito menos a participação da esquerda que faz oposição ao
governo trabalhista, por intermédio das siglas PSTU e PSOL, ao tempo em que
compõe com os interesses da direita, como no caso do senador Randolfe Rodrigues
(PSOL/AP) que foi pessoalmente dar apoio ao juiz Gilmar Mendes no episódio em
que o magistrado, equivocadamente e ditatorialmente, impediu que o Congresso
legislasse sobre o projeto de lei que trata das novas regras sobre criação de
partidos políticos.
Randolfe Rodrigues e outros senadores, a exemplo de
Cristóvam Buarque e Rodrigo Rollemberg, comportam-se como verdadeiros quinta
colunas, e, por se conduzirem politicamente dessa forma, insurgiram-se,
vergonhosamente, contra a instituição da qual são membros, o Senado, além de
“rasgarem” a Constituição, que não deixa dúvida alguma quanto ao papel dos Três
Poderes da República. Comportaram-se dessa maneira para atender os seus
interesses e os da senhora Marina Silva, que precisa, urgentemente, regularizar
o seu partido Rede Sustentabilidade, que é apenas mais uma agremiação
conservadora, com verniz progressista, como o é o PSOL, que em Minas Gerais por
pouco não ficou nas mãos da direita.
Contudo, o que me chamou a atenção realmente foi a PM
paulista, conhecida historicamente por sua violência, pois tradicionalmente
sempre se comportou como uma guarda pretoriana de defesa dos interesses de
classe e do patrimônio da burguesia paulista. Juntamente com a Polícia Civil, a
PM paulista se tornou emblemática no País, por sua atuação assassina na
repressão a militantes de grupos de esquerda no decorrer de 21 anos de ditadura
militar.
É sintomática a participação da PM no que tange à repressão
exagerada tão a gosto dos políticos do PSDB, que, no poder, sempre se valeram
das corporações policiais para reprimir os movimentos sociais e populares,
tanto no campo quanto na cidade, a exemplo dos massacres de Pinheirinho e de
Eldorado dos Carajás. Dois acontecimentos que são os símbolos maiores das
inúmeras repressões promovidas por mandatários do PSDB, partido divorciado do
povo brasileiro, porque simplesmente se distanciou dos interesses da população
e hoje se conduz como agremiação política conservadora cujos políticos são
vistos como testas de ferro do establishment.
Afirmo ainda que há uma certa estranheza no ar no que
concerne aos líderes do MPL e das lideranças estudantis, muitos deles
vinculados a partidos políticos, o que é legítimo e natural, recusarem-se a
dialogar com a Prefeitura, conforme informou hoje o prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad, à “grande” imprensa. Haddad disse que o aumento de R$ 0,20 já
era anunciado desde o ano passado e por isso não pegou ninguém de surpresa. O
mandatário petista afirmou ainda que o aumento da tarifa de ônibus “é muito
abaixo da inflação”, sendo que o menor dos últimos três anos. O prefeito disse
também que a majoração da passagem em apenas R$ 0,20 somente foi possível porque a
Prefeitura subsidiou a tarifa com recursos orçamentários da ordem de R$ 600
milhões, além de deixar claro que está aberto ao diálogo.
Entretanto, lembro ao leitor que o MPL questiona e realiza
movimentos desde os tempos do prefeito Gilberto Kassab (PSD), político que foi
aliado dos tucanos e que atualmente é importante aliado do governo trabalhista
da presidenta petista Dilma Rousseff. Não esqueçamos, porém, que o PSD faz
parte da base política e partidária do governo federal, além de ser a terceira
maior bancada do Congresso, menor apenas que as do PT e do PMDB.
Mesmo a encerrar a parceria com os tucanos e ser considerado
traidor pelos barões da imprensa e seus jornalistas porta-vozes de interesses
patronais, Kassab nunca foi atacado com ênfase e agressividade como os áulicos
da imprensa corporativa dedicam aos políticos do PT. Esse comportamento é
devido à esperança de que algum dia Kassab retorne às hostes da direita, apesar
de ser um político conservador. Por isto e por causa disto, a imprensa de
negócios privados nunca atacou com violência exagerada o ex-prefeito e o
“protegeu” ao esconder das principais manchetes de seus jornais o Movimento
Passe Livre (MPL), o que, evidentemente, não ocorre na administração de
Fernando Haddad, político do PT.
Essa realidade é visível e transparente como as águas do mar
sem poluição. Somente não enxerga quem não quer, por motivos políticos e
ideológicos ou por alienação. Todavia, asseguro que considero o MPL um
movimento legítimo e que o protesto, a manifestação e as críticas são partes
integrantes da democracia e, consequentemente, do estado democrático de
direito, que permite a liberdade de expressão e a de reivindicar. Por seu
turno, acho que o PT precisava de uma sacudida, a fim de perceber que as
reformas econômicas e sociais têm de ser realizadas e concretizadas com mais
rapidez, menos burocracia e maior vontade política para resolver as questões e
os conflitos sociais.
Afinal, o PT é um partido reformista, e, seguramente, não é
revolucionário, como muitos de seus integrantes o são, mas que, no momento, não
têm voz ativa e cargos importantes para que se pudesse agilizar e, quiçá,
efetivar as reformas tão necessárias para o desenvolvimento do povo brasileiro,
a exemplo das reformas agrária, tributária e política. Esses processos são,
historicamente, combatidos, por aqueles que controlam os meios de produção, e
que têm ainda muita força e influência no Congresso, no STF, na PGR, nos
Ministérios Públicos, nas confederações e federações empresariais rurais e
urbanas e no próprio Palácio do Planalto, que forma um governo de coalizão.
Somente os lorpas e os pascácios, como diria o conservador e
genial Nelson Rodrigues, confundem o programa de governo e o projeto de Pais
dos governos trabalhistas do PT com as alianças sacramentadas que tem o
propósito de viabilizar a governabilidade, o que seria impossível em um País como o Brasil, de
tamanho continental, e características e interesses políticos regionais e
estaduais. A verdade é que essas pessoas não conhecem os bastidores e se
comportam como amadores, no sentido de não perceberem que as alianças são
necessárias para governar, sem que, obviamente, o partido e o governante que
conquistou o poder não rasgue o programa de governo apresentado à população,
bem como não esqueça do seu passado, como aconteceu com o ex-presidente tucano,
Fernando Henrique Cardoso, conhecido também como o Neoliberal I.
Por isso que pessoas como Marina Silva, Cristóvam Buarque,
Rodrigo Rollemberg, Eduado Campos, Heloísa Helena, Alfredo Sirkis, Fernando
Gabeira, Randolfe Rodrigues, Pedro Simon, além de Pedro Taques e Álvaro Dias,
os dois últimos políticos midiáticos e replicadores contumazes das manchetes
oposicionistas e golpistas da imprensa burguesa e alienígena, não têm
credibilidade perante o povo, e, por conseguinte, suas figuras ficam restritas
ao mundo da classe média tradicional, como já afirmei mais de mil vezes,
conservadora, reacionária, preconceituosa e portadora dos valores e dos
princípios dos ricos, que estão cansados de usá-la para seus interesses
políticos e de consumo, bem como igualmente cansados de barrar tal classe
despolitizada na porta de seus bailes à black tie e regados à champanhe.
Para finalizar, digo que o PT e o governo petista liderado
pela presidenta Dilma Rousseff abram os olhos, caminhem nas ruas e voltem a
fazer o que sempre fizeram: apertar a mão do povo e ver de perto a sua
realidade. O PT e o governo trabalhista de Dilma Rousseff não deve jamais
titubear, vacilar e muito menos perder a disposição quando se trata de
distribuir renda e riqueza para que o povo brasileiro possa se emancipar e
nunca mais ficar á mercê dos herdeiros da casa grande, que escravizaram seres
humanos no decorrer de quatro séculos ou mais. O PT é reformador, apesar de
ter, volto a repetir, em seus quadros e em seus diversos grupos políticos
militantes revolucionários.
Abrir mão das reformas para compor com as “elites”
nababescas, perdulárias, colonizadas e entreguistas e dessa forma evitar ser
alvo de ataques e campanhas negativas são erros políticos e estratégicos
graves. Quem conquista o poder tem de ser incomodado, mas também tem o dever de
incomodar os que sempre puderam mais e que estão a controlar os meios de
produção e as terras improdutivas rurais e urbanas. O Brasil tem muito dinheiro
e pode melhorar a vida dos brasileiros. As desigualdades envergonham o povo
brasileiro, que é o maior grupo social, o mais importante, o melhor, o que
trabalha e o que quer mudanças e reformas para se livrar da miséria, da
pobreza, e, por sua vez, da violência.
O MPL tem razão, mas deve dialogar e não ficar à mercê de
grupelhos fascistas, como ocorreu nas manifestações. O PT é um partido
orgânico, inserido nos principais segmentos e setores da sociedade. O governo
do PT e dos seus aliados efetivam há 11 anos uma política econômica e social de
distribuição de renda e de riqueza, que é combatida diuturnamente e ferozmente
pelo patronato brasileiro, pelos partidos que os representam (PSDB, DEM, PPS e
PSOL) e fundamentalmente pela imprensa golpista.
Os barões midiáticos que desde 1930, quando o trabalhista e
estadista Getúlio Vargas assumiu o poder, boicotam, sabotam e se acumpliciam
até com as forças estrangeiras para derrubar os políticos do campo do
trabalhismo e do socialismo, realidade esta que aconteceu em 1964 quando deram
um golpe de estado e derrubaram o trabalhista João Goulart — o Jango. O PT tem
de cumprir totalmente o seu programa de governo e para isso precisa agilizar as
reformas. A presidenta Dilma Rousseff tem força para política para aprová-las.
Se a imprensa mercadológica e os grupos reacionários querem realmente criticar
e fazer oposição sistemática ao governo trabalhista, que eles pelo menos tenham
uma razão concreta e palpável. O PT tem de pisar no acelerador e deixar para o
PSDB o perfume da massa cheirosa. Esses tucanos leram sobre revoluções, mas não
compreendem o que é revolução.
É isso aí.
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