21 de Jun de 2013 | 08:50
O governo brasileiro parece, é inevitável dizer, ter uma crise de bulimia política.
Não age, apenas reage.
E, assim mesmo, tardia e timidamente.
Parece ter vergonha de dizer a verdade, porque a verdade não é agradável a seu convívio – necessário – com as forças conservadoras.
Assim, perde a hora, a cada hora.
O que mais está enfraquecendo o poder legítimo e escolhido pela população nas ruas não é a manipulação da mídia, a ação – cada vez menos encoberta – da direita e o já indisfarçável golpismo que tira carona num movimento que, agora, virou um “anticorrupção” genérico.
O que mais nos imobiliza e fragiliza é a incapacidade – ou melhor, o temor – em se comunicar com a população, em se mostrar como é, o que está fazendo, porque está fazendo e a quem está defendendo e, por conseguinte, a quem está contrariando.
Desde quando podemos temer falar com clareza ao povo que nos levou ao Governo e em nome do qual estamos lá? Desde quando podemos ter receio de falar aos que estão na rua e aos que não estão e, de casa, assistem “36 horas por dia” as imagens, ao mesmo tempo convidativas e apavorantes de um Brasil em caos?
Sem polêmica, não vou cansar de falar, só a direita faz política.
Ela, se precisar, tanto baixa o cassetete nos manifestantes quanto leva uma garrafa de gasolina para ajudar a incendiar carros. Não tem escrúpulos nem pruridos em derrubar um governo eleito, que dirá com essas “quinquilharias”.
Nós, ao contrário ,parecemos estar centrando nosso pensamento em em nos comportarmos como “ladies and gentlemens”, usando roupas de veludo e luvas de pelica em meio aos confrontos.
Não vamos sair dessa esperando, esperando, esperando e tentando agradar todo mundo.
Isso está longe, muito longe de dizer que a saída é com bordoada ou tropa de choque. Foram estes métodos que, por ação de homens da direita, como Alckmin e Cabral, transformaram um movimento pequeno e legítimo como tantos outros já aconteceram em manifestações imensas, atraindo uma geração à qual dissemos que não era mais preciso ir às ruas, porque estávamos no Governo.
O relógio está correndo mais rápido que o tempo convencional. Inútil dizer que é perigoso haver precipitação. Porque não é a precipitação, mas a procrastinação o que está criando, mais que riscos, uma ameaça concreta de golpismo.
Se não precisamos de governo, de congresso, de organizações sociais, de bandeiras políticas, para que respeitar os resultados de uma eleição e de uma escolha do povo brasileiro?
As ruas revogaram a eleição, dirá a mídia, quando lhe convier.
E, talvez, aponte uma saída “democrática”, como fez com as 24 horas de poder de Ranieri Mazzili, o presidente da Câmara em 1964, “limpando” democratica e institucionalmente a cadeira presidencial para que nelas se sentassem os militares.
Aliás, a própria mídia já construiu um pretendente e “paladino da moralidade” para o papel.
De outra forma, como estariam sendo tão lenientes com os mascarados que incendeiam ou transformando em “massas” qualquer grupinho que se disponda a fechar uma estrada ou depredar um prédio?
“Ah, é excesso, mas isso é a revolta popular”…
Não, a direita, o golpismo, o seu desejo autoritário de recobrar o poder que as urnas, há mais de uma década, lhe negam não acabaram.
As senhoras da Marcha com Deus, pela Família também era muito simpáticas e civilizadas.
Por detrás delas, vieram os cães da repressão, os assassinos, os tiranos e a noite que sufocou o povo brasileiro.
Ou alguém acha que a gurizada que está nas ruas tem um projeto de “poder popular” e “moralização da política”. Podem até, difusamente, ter este desejo, mas não um projeto de poder.
Seremos, mais do que fracos, como fomos em 64, covardes, se não dissermos que este é um jogo de poder que nada tem a ver com os sentimentos respeitáveis de seus figurantes.
Temos de falar, e falar logo, Com altivez, com energia, sem deixar de lado o espírito democrático e rebelde que sempre nos animou.
Falar com as vozes que nos representam e simbolizam perante o povo brasileiro.
Falar com a força cortante da verdade, porque só a verdade nos fará fortes.
Falar, como quem respira e enche os pulmões de ar.
E que, por isso, não será sufocado.
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