Postado em 31 jul 2014
por : Paulo Nogueira
Dama de Ferro
O terrorismo econômico está aí.
Essencialmente, o que os conservadores estão dizendo é que a
política econômica descarrilhou sob Dilma.
Só Aécio salva, é a mensagem.
O que a direita quer para a economia é, numa palavra, a
receita thatcheriana.
Os pilares da doutrina consagrada nos anos 1980 por Margaret
Thatcher podem ser resumidos assim: privatizar, desregulamentar e reduzir ao
máximo as despesas sociais.
A busca, em suma, do Estado mínimo.
É o que o “mercado” quer por razões óbvias: as empresas,
nacionais e internacionais, ganham barbaramente com isso.
Como em todo jogo alguém perde, os trabalhadores pagam a
conta. A Inglaterra sob Thatcher regressou a níveis de desigualdade próximos do
abismo que existia na era vitoriana.
Esqueça, por um momento, questões como ideologia ou mesmo
justiça. A questão é: a receita funciona?
Ou sob outro ângulo: se o Brasil adotar os preceitos
thatcherianos reivindicados pelos conservadores a economia vai deslanchar?
A resposta, se você olha a história, é: não.
Os mandamentos de Thatcher são bons apenas para o chamado
1%. Para os demais 99%, não.
Para o país como um todo, para a saúde da sociedade, menos
ainda. Seguir Thatcher é uma calamidade nacional.
O thatcherismo está na raiz da crise econômica que castiga o
mundo desde 2008.
Sob Reagan, os Estados Unidos abraçaram o thatcherismo. O
mercado financeiro foi desregulamentado, para dar liberdade aos bancos e assim,
alegadamente, promover a economia.
Depois de alguns anos, veio a hecatombe.
Na busca de lucros exorbitantes, os bancos americanos –
livres de regulamentação – afrouxaram todos os controles para quem pedia
empréstimo para comprar casa.
Até que começou a inadimplência.
Milhares, milhões de tomadores de empréstimo não tinham
condições de honras as dívidas.
Os calotes se multiplicaram. Grandes bancos quebraram. E a
crise econômica se espalhou rapidamente pelo mundo.
Nunca mais a economia mundial se recuperou. A locomotiva
dela, os Estados Unidos, vem se arrastando desde então.
Em breve, graças à estagnação americana, a China deve se
converter na maior economia do mundo.
Também a Inglaterra de Thatcher ainda hoje enfrenta as
consequências econômicas e sociais da falsa revolução da Dama de Ferro.
A ressaca do thatcherismo tornou Thatcher tão detestada que
os ingleses fizeram celebrações em praças públicas quando ela morreu.
Não existe uma única estátua dela na Inglaterra, sequer em
sua cidade natal: ela seria derrubada em dias, talvez horas.
É esta mesma receita que os conservadores querem para o
Brasil agora.
Suponha que ela seja adotada pela próxima presidência.
Rapidamente, os suspeitos de sempre lucrarão – a plutocracia, ou o 1%.
Num país cujo maior desafio é mitigar a desigualdade social,
seria uma tragédia.
O país avançou socialmente nos últimos anos. Menos do que
poderia e deveria, é verdade. Mas avançou.
O thatcherismo faria o Brasil retroceder várias casas na
questão social em pouco tempo.
Num momento de franqueza desconcertante, Aécio prometeu a
empresários “medidas impopulares” caso se eleja.
Seu guru econômico, Armínio Fraga, um fundamentalista do
thatcherismo, falou que o salário mínimo cresceu muito nos últimos anos.
Avisos do que vem por aí caso o thatcherismo seja posto em
ação no Brasil não faltam, portanto.
Os thatcheristas prometem a você o paraíso. Mas entregam o
inferno. Paraíso, só para eles mesmos.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial
do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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