Carmen Hein de Campos
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Correio Braziliense - 03/10/2011
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Coordenadora nacional do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem/Brasil)
A
propaganda brasileira precisa mudar. As agências de publicidade
responsáveis pela elaboração de propagandas precisam amadurecer e
aprender a respeitar as mulheres. As supostas "brincadeiras"
publicitárias que utilizam o corpo feminino para vender produtos, como
na recente propaganda da Hope, reforçam estereótipos de que as mulheres
brasileiras são tão infantis que precisam ser "ensinadas" a lidar com
questões cotidianas desagradáveis e a forma de lidar com isso é "tirando
a roupa".
A
mesmice ofensiva da propaganda brasileira às mulheres, recentemente,
recebeu repúdio internacional. A agência brasileira Moma, que ganhou o
Leão de Prata em Cannes (30/6) com uma propaganda sobre o ar
condicionado dual zone de automóveis fabricados pela Kia Motors, foi
considerada pedófila por profissionais do ramo e veículos de comunicação
estrangeiros. Na propaganda, em que duas peças criadas são colocadas
lado a lado, há um diálogo entre um professor e uma aluna, aparentemente
cursando o ensino fundamental. "Professor, obrigada por ficar até mais
tarde comigo hoje", diz a garota. Na outra peça, a menina dá lugar a uma
garota mais velha e atraente e o professor, folgando a gravata,
responde: "Que isso...é um prazer". Após a garotinha oferecer uma maçã, o
professor (na primeira peça) morde a fruta exclamando "hmmm...que
delícia...como é suculenta". A propaganda termina com o professor
sugerindo começarem a lição, enquanto do lado direito a mulher diz "que
tal...anatomia?". A reação à peça publicitária foi tão forte que a Kia
Motors distribuiu nota dizendo que a propaganda não seria veiculada
porque não expressava a opinião da Kia Motors. Críticos disseram que a
propaganda só venceu porque o júri era formado exclusivamente por
homens.
Na
sexista propaganda da Hope, uma mulher infantilizada e dependente
(representada por Gisele Bündchen) é "ensinada" que, para tratar com
marido sobre o fato de ter batido o carro, ou excedido o cartão de
crédito, a melhor forma é ficar de calcinha e sutiã.
A
agência de publicidade Giovanni+Draftfcb talvez não esteja informada de
que as mulheres representam hoje mais de 30% das chefias de famílias,
são trabalhadoras, profissionais liberais, empresárias e servidoras
públicas etc, que pagam suas contas, criam seus filhos e têm
estabelecido relações domésticas cada vez mais igualitárias e solidárias
com seus companheiros.
Retirar
do ar a propaganda é uma demonstração de respeito às mulheres e o
reconhecimento de que não mais suportamos ser tratadas como objetos ou
estereotipadas em comerciais. As mulheres brasileiras elegeram a
primeira presidenta do país, que fez história ao abrir, pela primeira
vez, uma reunião das Nações Unidas discursando sobre a igualdade de
gênero e questões sérias vivenciadas pelos povos no mundo.
As
agências publicitárias precisam crescer e aprender com o exemplo de
maturidade e cidadania que as mulheres brasileiras vêm oferecendo ao
país. E tudo isso, sem precisar tirar a roupa como pretende "ensinar" a
Hope.
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Também do Blog O TERROR DO NORDESTE.
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