Em 1.961, o recém-eleito Presidente da República Jânio
Quadros renunciou a seu mandato após sete meses no cargo. Em sua
carta-renúncia, alegou crer que “não manteria a própria paz pública”. Este
gesto desencadeou o golpe militar de 64 e o mergulho num tempo obscuro da vida
política nacional. Até hoje há quem diga que a estratégia de Jânio foi o
chamamento para voltar aclamado nos braços do povo.
A QUEM INTERESSA ESTA OPINIÃO? |
Em 2.003, ao tomar posse no Palácio do Planalto, Luis Inácio
Lula da Silva iniciou uma revolução silenciosa no Brasil. Com carisma e forte
apelo popular, foi capaz de inserir na agenda política brasileira a
transformação social.
No comando de uma Nação capitalista, soube usar as
ferramentas disponíveis para começar, de uma vez por todas, a inserir o
brasileiro na cidadania: através do emprego e da geração de renda, com crédito
barato, projetos sociais de amplo alcance, investimento em educação e saúde
para o mais pobre dos cidadãos.
Até mesmo a oposição, partidária e midiática, não é capaz de
citar qualquer outro mandatário que retirou tanta gente da pobreza e da
miséria; nunca antes na história deste
país tivemos tantas pessoas na classe média como hoje. Quem negar isto, não
conhece o Brasil.
Sua origem operária lhe serviu de referência assim como seus
confrontos com o empresariado, enquanto líder sindical, para montar um discurso
moderado, mas progressista. Não deixou de atender aos maiores grupos
econômicos, que o olhavam com desconfiança, cumprindo os contratos e pagando a
dívida pública pontualmente ao mesmo tempo que engajava parte do patrimônio
financeiro do Brasil em obras de combate à miséria e à fome.
A OPÇÃO DA CLASSE MÉDIA |
Este novo foco rendeu-lhe a reeleição em 2.006, apesar do
bombardeio originado na CPI dos Correios, um ano antes, contra todos os simpatizantes
do Partido dos Trabalhadores. E a sequência dos atos de seu governo levou Dilma
Rousseff a derrotar, pela terceira vez consecutiva, os candidatos preferidos da
parte mais conservadora da sociedade.
Passados dez anos desde o start para um novo modelo de desenvolvimento
do Brasil, faço um mea culpa.
Este blog, por inúmeras ocasiões, postou em concordância com membros do PT que
acreditavam mais nas pesquisas de sondagem de opinião que no poder de
convencimento dos apeados do poder.
Lula errou e levou algumas dezenas de milhões de pessoas a
não se dar conta de que a direita não aceitaria os novos rumos, a inclusão, sem
reagir.
Sou obrigado a reconhecer que fomos avisados. Outros
blogueiros alertavam desde há muito tempo que era preciso assumir postura mais
direta com a opinião pública; a mídia fundamentalista nunca deixou de atacar,
nunca repercutiu as virtudes deste governo, pelo contrário, empenharam-se todos
os maiores veículos de comunicação, como uma organização criminosa, na
tentativa de desqualificar Lula, Dilma e o PT como o mais corruptos dos
governos da história.
Foram vários os episódios explorados pela velha imprensa. O
mais simbólico de todos foi o “mensalão”. Este blog sempre acreditou que a contrainformação,
através das novas mídias sociais, seria capaz de levar o outro lado ao leitor. Bobagem! Os “blogs sujos” se perderam ao acreditar que a via democrática, a eleição
através do voto, seria suficiente para manter em evidência o progresso
econômico e social que vivemos, a despeito da grave crise que varre o mundo dito
desenvolvido.
Não reagimos no momento oportuno. Lula não reagiu e Dilma,
também. A postura do Planalto foi ineficiente em sua comunicação; manteve
alocação de recursos públicos nas redes de TV que mais os ofendiam, permitiu
ataques baixos e caluniosos sem oferecer resistência; deixou-se desqualificar
sem provas, não respondeu às capas de revistas que estampavam mentiras e
ofensas pessoais, como no caso de uma revista semanal que publicou uma imagem
de Lula com a marca de um pé em seu traseiro. Não houve, sequer, registro
formal junto aos editores. Muitos disseram que a oposição partidária sumira e a mídia tomara seu lugar. Era verdade.
Estamos próximos a um ponto de ruptura institucional que
poderá custar caro à democracia.
É possível que ainda haja tempo para reagir, mas talvez seja
tarde.
A cobertura das manifestações, impressa, virtual e televisiva
da maior parte da imprensa, trabalha unida no objetivo de uma década atrás: a
retomada do poder. Está sendo eficiente ao esconder os protestos contra a
própria mídia e capitaliza as imagens apoiando as “manifestações pacíficas”,
colocando no ar opiniões de analistas alinhados a seus anseios; está obtendo
êxito ao jogar a massa contra o Governo Federal mesmo quando as “urgentes
necessidades do povo” sejam apenas de âmbito municipal!
O RECADO INVISÍVEL DAS RUAS |
O avanço da retomada de poder se dará pela forma
inconstitucional até o confronto. A força trabalhadora, os sindicatos, as uniões
estudantis, os movimentos camponeses e urbanos em geral, ainda estão fora das
ruas. Mas haverão, em certo momento, de se integrar às passeatas. De modo
organizado e com claras reivindicações, como sempre foi. E então se dará o
enfrentamento: os discursos serão diferentes aos que estamos assistindo e
levará a mensagem de que não abrirão mão dos direitos conquistados, muitos
deles contrários ao desejo dos reacionários: emprego, distribuição de renda,
acesso aos bens de consumo, inclusão social, direito ao voto e à defesa de suas
famílias.
Só então, quando toda a sociedade estiver engajada, o
processo será concluído. Se de forma legal ou ilegal, só saberemos depois.
Mas que fique clara a lição desde já. Ou reagimos para dizer
o que se passa de verdade, ou seremos cúmplices de um golpe anunciado em 2.005.
***
A propósito de Jânio Quadros, não houve manifestações
populares para seu retorno. Seu Vice, João Goulart, estava em missão oficial na
China e voltou às pressas. Assumiu e foi deposto por um golpe militar financiado,
hoje se sabe, pelos EUA e pelo poder econômico brasileiro por ser “comunista”.
Jango, como era conhecido, foi assassinado anos mais tarde
por ordem direta da cúpula militar que se mantinha no poder pela força.
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