9 de junho de 2013
A estreia mostrou que é necessário arejar a revista com urgência.
A vantagem de uma jornalista bem colocada sobre os demais brasileiros é que ela tem um imediato direito de resposta quando é vítima de um erro.
Não depende da justiça.
Isso levou a um fato notável na mídia brasileira: a jornalista Mônica Bérgamo, colunista social da Folha, obteve instantaneamente um pedido de desculpas do jornalista Otavio Cabral, da Veja.
Numa biografia de Zé Dirceu que está chegando às livrarias e que foi capa da Veja, Cabral errou ao situar o excelente texto de MB que narrava o preparativo de Dirceu, no final do ano, para enfrentar o que parecia ser a prisão iminente.
MB disse que o caso estava “completamente errado”. Dirceu, segundo o livro, a convidou para o que se prenunciava como uma espécie de última ceia.
Foi ela que o procurou, veio a retificação.
No Twitter, MB apontou o equívoco e, depois, informou que o autor e a editora tinham concordado em repará-lo. E deu o assunto por encerrado para ela.
Talvez para ela, mas para os demais brasileiros não. O caso merece ampla discussão pelo que revela além do erro.
Primeiro, o descompromisso com os fatos, sobretudo se eles são contra os suspeitos de sempre.
Ora, se o texto de MB foi tão importante para merecer citação no livro, por que não conversar com ela?
Segundo o Twitter, Cabral é casado com Vera Magalhães, editora do Painel da Folha. Se é verdade, ele não teria sequer que procurar MB. Bastaria pedir que sua mulher checasse o caso com a colega.
Os brasileiros não têm o privilégio da reparação de erro que MB tem. Isso por causa de Ayres Britto, autor do prefácio do livro precocemente morto de Merval Pereira sobre o Mensalão.
Ayres Britto, no STF, desativou a Lei de Imprensa da ditadura militar, mas fez um serviço tão ruim que deixou as coisas bem piores do que eram.
Ele não cuidou que fosse preservado o direito de resposta. Segundo a recapitulação dos fatos, ele até pensou nisso, mas teria decidido tratar de outras coisas depois que a Folha publicou uma reportagem em que seu genro aparecia numa situação constrangedora.
Eis a nossa mídia, eis o nosso Supremo.
Você não precisa ler o livro de Cabral para saber que é uma paulada em Dirceu. Basta saber que ele trabalha na Veja.
E isso mitiga a força de qualquer ataque, porque ele tenderá a ser calcado em razões que vão muito além do jornalismo e da preocupação com os brasileiros.
Do mesmo modo, qualquer elogio que a Veja faça a Joaquim Barbosa será enfraquecido pela sua enorme vontade em fazer dele o que não é: um ex-menino pobre que mudou o Brasil.
A perda de influência da revista ao se tornar tão previsível nos afagos e chutes está estampada no último Datafolha.
Joaquim Barbosa. Numa simulação como candidato em 2014, teve 8% das intenções de voto. O alvo predileto da Veja, Lula, teve 55%, o que lhe daria vitória no primeiro turno.
A relativa surpresa da capa é que na primeira edição sob nova gestão o tom seja o mesmo.
Desde a morte do pai, o caçula Titi Civita comanda oficialmente o Conselho Editorial da Abril. Isso quer dizer que ele é o responsável pela voz da Veja.
A visão de Roberto Civita do governo e do Brasil contemporâneo – em suas coisas boas e ruins — já estava completamente comprometida por conta de uma guerra pessoal travada contra Lula.
Dada a popularidade de Lula, e a fragilidade de quase todas as acusações feitas contra ele nos últimos dez anos, Roberto Civita e a Veja se tornaram objeto de repulsa de muitos brasileiros.
Em seu obituário, a Forbes classificou a Veja como uma das publicações “mais detestadas do Brasil”.
Era de esperar que sob Titi, mais jovem, na casa dos 40, a revista se tornasse mais arejada e menos raivosa, condições essenciais para que se faça bom jornalismo.
O primeiro sinal é ruim. A revista que está nas bancas parece ter 150 anos de idade, e tomada dos preconceitos da senectude. Você vai ao site e vê Reinaldo Azevedo pedir cadeia para os jovens do Movimento Passe Livre.
Não há por onde escapar.
Considerada a dimensão da repulsa à linha da revista, abrir a janela é urgente – caso se entenda que a receita que vinha sendo seguida não traz bons resultados.
Os italianos têm a palavra perfeita para isso: aggiornamento. Modernização.
Me chamou a atenção, ao escrever sobre a morte de RC, o grau de ódio em tantos manifestantes.
Permanecendo as coisas como estão, Titi Civita logo atrairá para si a herança da rejeição que marcou os últimos anos de seu pai.
A vantagem de uma jornalista bem colocada sobre os demais brasileiros é que ela tem um imediato direito de resposta quando é vítima de um erro.
Não depende da justiça.
Isso levou a um fato notável na mídia brasileira: a jornalista Mônica Bérgamo, colunista social da Folha, obteve instantaneamente um pedido de desculpas do jornalista Otavio Cabral, da Veja.
Numa biografia de Zé Dirceu que está chegando às livrarias e que foi capa da Veja, Cabral errou ao situar o excelente texto de MB que narrava o preparativo de Dirceu, no final do ano, para enfrentar o que parecia ser a prisão iminente.
MB disse que o caso estava “completamente errado”. Dirceu, segundo o livro, a convidou para o que se prenunciava como uma espécie de última ceia.
Foi ela que o procurou, veio a retificação.
No Twitter, MB apontou o equívoco e, depois, informou que o autor e a editora tinham concordado em repará-lo. E deu o assunto por encerrado para ela.
Talvez para ela, mas para os demais brasileiros não. O caso merece ampla discussão pelo que revela além do erro.
Primeiro, o descompromisso com os fatos, sobretudo se eles são contra os suspeitos de sempre.
Ora, se o texto de MB foi tão importante para merecer citação no livro, por que não conversar com ela?
Segundo o Twitter, Cabral é casado com Vera Magalhães, editora do Painel da Folha. Se é verdade, ele não teria sequer que procurar MB. Bastaria pedir que sua mulher checasse o caso com a colega.
Os brasileiros não têm o privilégio da reparação de erro que MB tem. Isso por causa de Ayres Britto, autor do prefácio do livro precocemente morto de Merval Pereira sobre o Mensalão.
Ayres Britto, no STF, desativou a Lei de Imprensa da ditadura militar, mas fez um serviço tão ruim que deixou as coisas bem piores do que eram.
Ele não cuidou que fosse preservado o direito de resposta. Segundo a recapitulação dos fatos, ele até pensou nisso, mas teria decidido tratar de outras coisas depois que a Folha publicou uma reportagem em que seu genro aparecia numa situação constrangedora.
Eis a nossa mídia, eis o nosso Supremo.
Você não precisa ler o livro de Cabral para saber que é uma paulada em Dirceu. Basta saber que ele trabalha na Veja.
E isso mitiga a força de qualquer ataque, porque ele tenderá a ser calcado em razões que vão muito além do jornalismo e da preocupação com os brasileiros.
Do mesmo modo, qualquer elogio que a Veja faça a Joaquim Barbosa será enfraquecido pela sua enorme vontade em fazer dele o que não é: um ex-menino pobre que mudou o Brasil.
A perda de influência da revista ao se tornar tão previsível nos afagos e chutes está estampada no último Datafolha.
Joaquim Barbosa. Numa simulação como candidato em 2014, teve 8% das intenções de voto. O alvo predileto da Veja, Lula, teve 55%, o que lhe daria vitória no primeiro turno.
A relativa surpresa da capa é que na primeira edição sob nova gestão o tom seja o mesmo.
Desde a morte do pai, o caçula Titi Civita comanda oficialmente o Conselho Editorial da Abril. Isso quer dizer que ele é o responsável pela voz da Veja.
A visão de Roberto Civita do governo e do Brasil contemporâneo – em suas coisas boas e ruins — já estava completamente comprometida por conta de uma guerra pessoal travada contra Lula.
Dada a popularidade de Lula, e a fragilidade de quase todas as acusações feitas contra ele nos últimos dez anos, Roberto Civita e a Veja se tornaram objeto de repulsa de muitos brasileiros.
Em seu obituário, a Forbes classificou a Veja como uma das publicações “mais detestadas do Brasil”.
Era de esperar que sob Titi, mais jovem, na casa dos 40, a revista se tornasse mais arejada e menos raivosa, condições essenciais para que se faça bom jornalismo.
O primeiro sinal é ruim. A revista que está nas bancas parece ter 150 anos de idade, e tomada dos preconceitos da senectude. Você vai ao site e vê Reinaldo Azevedo pedir cadeia para os jovens do Movimento Passe Livre.
Não há por onde escapar.
Considerada a dimensão da repulsa à linha da revista, abrir a janela é urgente – caso se entenda que a receita que vinha sendo seguida não traz bons resultados.
Os italianos têm a palavra perfeita para isso: aggiornamento. Modernização.
Me chamou a atenção, ao escrever sobre a morte de RC, o grau de ódio em tantos manifestantes.
Permanecendo as coisas como estão, Titi Civita logo atrairá para si a herança da rejeição que marcou os últimos anos de seu pai.
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