Por Altamiro Borges
De Paris, onde se encontrava em missão institucional, o governador
tucano Geraldo Alckmin deu a ordem: protesto "é caso de polícia". No
final da tarde de ontem (13), a PM seguiu à risca a determinação e
baixou a porrada nos manifestantes que ocuparam as ruas centrais de São
Paulo para exigir a redução da tarifa do transporte público. Antes mesmo
do início do protesto, cerca de 40 pessoas foram detidas
arbitrariamente e levadas ao 78º Distrito Policial. Quatro horas depois,
enquanto os ativistas gritavam "sem violência", a tropa de choque
disparava balas de borracha, lançava centenas de bombas de gás e prendia
outras 180 pessoas.
A manifestação pública, a quarta da série na capital paulista, reuniu
mais de 15 mil pessoas, superando as expectativas mais otimistas dos
organizadores. Fora alguns atos isolados de vandalismo, que podem até
ter sido praticados por provocadores infiltrados, ela transcorreu de
forma pacífica na maior parte do tempo. A ação truculenta da PM,
orientada por um governador simpático ao Opus Dei e cercado de notórios
fascistas no Palácio dos Bandeirantes - um dos seus assessores é líder
da seita Endireita Brasil -, acirrou os ânimos e foi a principal culpada
pelas cenas de guerra na cidade, que resultou em mais de 200 pessoas
feridas.
Até colunistas que não podem ser acusados de anti-tucanos avaliam que a
PM está descontrolada. "Arruaça policial", registrou Janio de Freitas,
para descrever a "estupidez inútil da violência armada" nos últimos
dias. Elio Gaspari, que acompanhou o protesto de ontem, não vacilou em
afirmar que "o distúrbio em São Paulo começou com a Tropa de Choque". A
própria mídia tucana, que antes exigia o endurecimento no trato com os
manifestantes - da mesma forma como fez na sua cruzada pelo golpe
militar de 1964 contra o "perigo comunista" - agora reconhece que a PM
tucana está exagerando na dose, beirando a barbárie.
Para que acompanha a trajetória elitista e autoritária do tucanato, as
cenas de violência desta terça-feira não surpreendem. Logo que tomou
posse como presidente da República, em 1995, FHC acionou as tropas do
exército contra a greve dos petroleiros. Refinarias foram ocupadas e a
repressão foi brutal, visando "quebrar a espinha dorsal" do
sindicalismo, segundo confessou na época um assessor presidencial. No
seu reinado, o MST foi alvo de inúmeras ações violentas. Já em São
Paulo, a repressão desmedida da PM tucana já virou rotina. Os próprios
policiais civis foram vítimas dela num famoso ato em frente ao Palácio
dos Bandeirantes. O "modo tucano de governar" já inclui a porrada, a
violência, o desrespeito às lutas sociais!
Bombas com validade vencida
Por Altamiro Borges
Passada a crônica fúria midiática contra qualquer manifestação popular,
começam a surgir dados gritantes sobre a brutalidade da PM tucana nos
protestos dos últimos dias. A jornalista Fabiana Maranhão, do UOL,
revela hoje que as bombas de gás lacrimogêneo usadas pela polícia nesta
quinta-feira (13) estavam com a validade vencida. "A fotografia de um
dos artefatos divulgada nas redes sociais mostra que o prazo para uso do
material terminou em dezembro de 2010. Na embalagem do produto, uma
mensagem alerta: 'Atenção: oferece perigo se utilizado após o prazo de
validade'".
Segundo a repórter, a denúncia foi feita por manifestantes e moradores
do centro da capital. "O ator Rafael Queiroga, 30, foi um dos que
encontrou os artefatos na rua onde mora, no bairro dos Jardins, depois
que policiais militares dispararam bombas contra os manifestantes. Ele
conta que não estava participando do protesto, mas desceu para ver o que
estava acontecendo. 'Havia várias dessas na rua. Peguei uma. Quando
cheguei em casa, fui alertado por uma pessoa sobre a validade da bomba',
lembra. A constatação causou revolta no ator. 'Isso é negligência.
Estão colocando em risco a vida das pessoas'", desabafa".
O comando da PM ainda não se pronunciou sobre a grave denúncia. Na
prática, o governo Alckmin tenta sabotar qualquer tipo de informação e
inibir a investigação dos jornalistas. No início da tarde de hoje, a
polícia divulgou um "balanço oficial" dos confrontos de ontem. Ele
registra que 12 pessoas ficaram feridas na ação - todas, porém, soldados
da própria PM. O documento não contabiliza as centenas de ativistas e
de simples transeuntes que foram feridos com balas de borracha e
cassetetes - alguns com gravidade.
O balanço também informa que 222 pessoas foram detidas. Na noite
passada, porém, a delegada Victória Lobo, titular da 78º DP (Jardins),
relatou que 241 pessoas foram presas e encaminhadas para sua delegacia,
para o 1º DP (Liberdade) e para o 4º DP (Consolação). Destas, cinco
foram indiciadas por "formação de quadrilha" e danos ao patrimônio -
considerados crimes inafiançáveis.
Postado há 2 hours ago por Blog Justiceira de Esquerda
Também do Blog Justiceira de Esquerda.
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