sexta-feira, 28 de junho de 2013

Paulo Teixeira: precisamos que mais jovens façam política




Por Assis Ribeiro
Do Viomundo
Carta aos jovens

por Paulo Teixeira

Os avanços do Brasil foram construídos pelas diversas juventudes que tomaram as ruas em momentos fundamentais da nossa história. Vocês agora estão escrevendo mais um capítulo dessa narrativa.
Quero parabenizá-los pelas vitórias. Vocês conquistaram não apenas a redução das tarifas de transporte público em várias cidades. Vocês reconquistaram as praças, ruas, avenidas e sonhos.
Vocês nos ensinaram muito. A principal lição é a de que nós – os partidos políticos, sobretudo de esquerda – não podemos nos acomodar ao que já foi feito. Avançamos muito nos últimos dez anos, com os governos Lula e Dilma. Vencemos a fome, reduzimos desigualdades sociais e regionais históricas. Distribuímos renda, crescemos com inclusão social. Geramos 20 milhões de empregos com carteira assinada, conquistamos uma das menores taxas de desemprego do mundo. Democratizamos o acesso ao ensino técnico e à universidade.
Hoje, os filhos de trabalhadores humildes, antes condenados ao destino de seus pais e avós, estão chegando à universidade por meio da expansão da rede pública de ensino superior, das bolsas do ProUni, das cotas sociais e raciais.
Muitos jovens como vocês, outrora excluídos da cidadania, conquistaram o direito de estar nas ruas, exigindo mudanças mais profundas. Não tenho dúvidas de que vocês – porque forjados na luta – saberão encarar o mundo de maneira solidária, humanista, com outros valores que não o vale-tudo, esse cada-um-por-si que a unidade do movimento da juventude acaba de derrotar nas ruas.
Mas vocês sabem que o Brasil não está pronto, que ainda está longe de ser o país que sonhamos. Precisamos avançar ainda mais, aprofundar as mudanças, intensificar o combate às desigualdades, implantar a segunda geração dessa verdadeira revolução democrática iniciada em 2003.
É preciso gerar mais e melhores empregos, aumentar os investimentos em educação, melhorar a qualidade da saúde pública, investir em transportes públicos de qualidade, acelerar as reformas agrária e urbana. Criar um imposto sobre as grandes fortunas.  Jamais perder de vista que os movimentos que iniciaram as atuais manifestações nasceram da luta contra a mercantilização dos serviços públicos. A boa notícia é que a Câmara dos Deputados, fruto das mobilizações populares, aprovou a destinação de 25% dos recursos dos royalties de petróleo para a saúde e 75% para a educação.
O Brasil requer um novo ciclo de lutas democráticas. E este ciclo de lutas não pode prescindir das centrais sindicais, das entidades estudantis, dos coletivos políticos e culturais da periferia, dos movimentos dos oprimidos e das minorias, dos que sonham e trabalham por um país cada vez mais justo.
Dilma soube entender e dar à voz das ruas respostas rápidas e precisas. Propôs cinco pactos nacionais: por responsabilidade fiscal, saúde, transporte, educação e um plebiscito pela reforma política. Essa é uma decisão histórica porque tem o poder de devolver ao povo o que é do povo. É um passo decisivo para, como enfatizou a presidenta, construirmos uma sociedade em que o cidadão, e não o poder econômico, esteja em primeiro lugar.
Mais uma vez, será necessário que as vozes das ruas gritem, agora na defesa de um plebiscito que escute o povo e nos ajude a fazer as perguntas necessárias para alcançarmos mais democracia participativa e direta, na construção da reforma política.
A reforma política é uma das muitas lutas que nos unem. É preciso garantir que novos atores sejam incorporados à cena democrática, em substituição ao poder econômico que impede a participação do cidadão comum. A captura das instâncias políticas pelos grandes financiadores de campanhas eleitorais é o que leva à atual composição conservadora do Parlamento.
Os setores conservadores querem que a luta de vocês seja contra os partidos políticos. Eles sonham com uma grande mobilização apolítica, quando o que vocês fazem é exatamente o contrário – é política na veia!
Não precisamos de menos política. O que precisamos é de que cada vez mais jovens façam política: por meio dos partidos – que devem ser oxigenados para estabelecer diálogo permanente com as ruas -, das entidades estudantis, dos movimentos sociais, como o do passe livre, ou de forma independente, ocupando as ruas, como vocês têm feito.
Pessoas novas, com ideias novas, dispostas a mudar as velhas regras do jogo. Que compreendam a democracia como a real expressão da soberania popular, hoje ameaçada pela crescente mercantilização das eleições.
Sabemos que a atuação política se dá cada vez mais por meio das redes sociais. O cidadão está online, exigindo transparência, querendo debater, apresentar propostas e fiscalizar a execução de políticas públicas de seu interesse.
Além da mudança na legislação eleitoral, temos, portanto, que ampliar os mecanismos de democracia participativa, criar as ferramentas digitais que possibilitem o pleno exercício dessa nova cidadania.
É preciso também questionar o papel da mídia tradicional, como as ruas estão fazendo. De anos e anos de manipulação midiática nasceu todo esse caldo cultural de ódio aos partidos e aos movimentos sociais organizados, de criminalização generalizada da política.
Daí nasceu também a tentativa de fazer crer que o Brasil está dominado pela corrupção, quando acontece exatamente o contrário: uma luta sem tréguas, tanto do governo quanto da sociedade, pelo aperfeiçoamento dos mecanismos de combate ao mau uso dos recursos públicos.
Tais atitudes demonstram a urgência tanto da democratização dos meios de comunicação quanto da popularização do acesso à banda larga, para que os mais diversos setores da sociedade possam se expressar livremente, derrotando a tentativa de imposição do pensamento único.
Nas recentes manifestações, a classe média sentiu na pele a repressão que aterroriza diariamente a juventude pobre e negra das periferias. O gás lacrimogêneo, o spray de pimenta e as balas de borracha demonstram o despreparo e a truculência da Polícia Militar de São Paulo, que reviveu os tempos da ditadura, agredindo e ferindo indistintamente manifestantes, jornalistas e quem passasse por perto.
Querem vender a ideia de que a juventude que foi às ruas é nossa inimiga, quando na verdade vocês são nossos aliados, porque apontam nossos erros, corrigem nossos desvios de rota, não nos deixam jamais esquecer as razões pelas quais lutamos.
Em todos esses momentos, batalhamos para implementar os ideais de justiça e igualdade que impulsionam as lutas da esquerda ao longo do tempo. Não poderíamos, portanto, ficar alheios à importância de vocês, que são parte de uma construção histórica comum.
Suas bandeiras são as nossas, nosso palco são as ruas. Nossas armas, a utopia e o desejo de mudança dos que nunca fogem à luta.
Paulo Teixeira é deputado Federal (PT-SP).

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