Os insultos dos primeiros dias sumiram.
No DCM
A revista Veja parece estar sob nova administração, poucas semanas depois da morte do proprietário e editor Roberto Civita.
A capa de José Dirceu parece ter sido a última de uma era em que a revista foi, quase sempre, detestável.
O sinal de mudança está na cobertura dos protestos, primeiro no papel e depois na internet.
Na internet, nos primeiros dias, a revista pareceu seguir
inercialmente a orientação anterior de reacionarismo inflamado e
desconectado da realidade.
O blogueiro Reinaldo Azevedo comandou a cobertura inicialmente, e
logo foi seguido por seus colegas Augusto Nunes e Ricardo Setti, como o
Diário notou anteriormente.
Azevedo chamou os manifestantes de vagabundos, celerados, remelentos, terroristas e vândalos.
Ele parecia ecoar o promotor Rogério Zagallo, que pedira à Tropa de
Choque que atirasse nos “bugios” porque eles estavam provocando um
congestionamento no local em que ele estava com seu carro.
Nunes seguiu na mesma linha. Setti também. Ele chegou a republicar um
artigo do publicitário aposentado Neil Ferreira no qual este, como
Zagallo, sugerir passar fogo nos manifestantes, parte de uma “guerra
suja”.
Parece claro que Azevedo e companheiros, como Zagallo, cometeram um erro de avaliação monumental: associaram o MPL ao PT.
A mudança veio na edição impressa.
A Veja, para surpresa de muita gente, não rosnou como seus blogueiros. Os jovens nas ruas já não eram vagabundos.
O que ocorreu?
Provavelmente, uma conversa. Não mais que isso.
Os herdeiros de Roberto Civita, Gianca (área administrativa) e Titi
(conselho editorial) devem ter dito que não estavam de acordo com aquela
visão que vinha se propagando no site. A reputação da revista já tinha
problemas antigos. Mas a deles ainda não.
Quem conhece as cúpulas das empresas jornalísticas sabe bem que
quinze minutos de conversas são suficientes para conversões profundas em
editores que pareciam fanáticos.
O que se viu, depois que a Veja da semana passada chegou às bancas, foi uma mudança de tom veloz nos blogueiros.
O momento mais icônico – e divertido – foi um texto em que Setti
dizia, do nada, que sabia que tinha “exagerado” ao chamar os
manifestantes de baderneiros.
Augusto Nunes mudou de assunto por algum tempo, e ao voltar estava
bem diferente. Pelo que entendi, parecia interessado em entender o
significado dos protestos.
Não quer dizer, é claro, que a revista se tornará libertária. Mas é
previsível que ela vá buscar um tom de conservadorismo civilizado, como a
The Economist, para ficar num bom caso.
Na Globo, uma conversão súbita parecida ocorreu com Arnaldo Jabor.
Dias depois de fazer um pronunciamento histérico contra os protestos,
tomado como se fosse Feliciano, ele se desculpou abjetamente.
Quem acredita que ele não recebeu uma instrução para se desdizer acredita em tudo, para usar a máxima de Wellington.
As palavras odiosas de Jabor circularam amplamente na internet e
cobraram seu preço. Sempre que os manifestantes encontravam um repórter
da Globo, a hostilidade era imediata.
Caco Barcellos, tido como uma voz destoante no ultraconservadorismo
da Globo, levou um sopapo e foi expulso vergonhosamente de uma
manifestação.
Num gesto de desespero e de automutilação, a Globo tirou a marca dos
microfones de seus jornalistas, para preservar sua integridade física.
Caco apanhou por Jabor, pode-se dizer.
Nos últimos dias, o tom bem mais baixo, Reinaldo Azevedo tem repetido
que seu blog bate incessantemente recordes de audiência. (Pode-se
imaginar a qualidade do público atraída pela pregação de ódio obtuso de
Azevedo.)
Os anúncios autocongratulatórios de recorde podem ser um sinal de que
ele está sentindo que os ares mudaram na Veja, sob a nova geração de
Civitas.
Paulo NogueiraNo DCM
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