domingo, 23 de junho de 2013

Quem não sabe brincar não brinca


Os fatos  que estão movimentando o cenário político do país só contribuem para robustecer  a convicção  de que a rua é do povo, livre para manifestar suas ideias e reivindicações. E merecem, é claro, muitas reflexões.
Comecemos pela  vaia no Mané Garrincha.   Penso  que muitos equívocos estão sendo cometidos a propósito da Copa do Mundo no Brasil. Ela poderia , sim, ser uma festa para o povo brasileiro se, efetivamente, estivesse voltada para o povo, mas não do jeito que é concebida, segundo o malfadado “padrão FIFA”.  Dilma recebeu a vaia classe “A” das elites embranquecidas presentes à “festa” na inauguração da Copa das Confederações porque aquela não era nem jamais poderia ser a sua gente, que, aliás,  não foi convidada para a festa. Simples assim:  vaiaram Dilma aqueles que não votaram nela e que insistem em desconsiderar o resultado das urnas.
Já as manifestações de rua  têm  uma complexidade maior. É impossível deixar de reconhecer sua expressividade como movimento de jovens  idealistas da classe média, embora se possa  enxergar que,  em meio a um mar de reivindicações díspares, grande parte deles não saberia explicar em profundidade por que estão nas ruas...
É claro, porém,  que o movimento não surgiu do nada.  Tenho muitos alunos de postura consciente,  que dele participam ou a ele são simpáticos . Por outro lado, há também    uma difusa manifestação tribal em que internet, aliada à natural tendência contestatória dos jovens, propiciou os encontros e as palavras de ordem que se espalharam pelo país.  Palavras, aliás, que a mídia manipulou, selecionou, editou e divulgou ao seu bel prazer, ou melhor, segundo suas conveniências, fazendo um jornalismo traiçoeiro, como sempre, provavelmente optando por tomadas aéreas para evitar o dissabor de ter que divulgar o que não interessava....  
Não cabe  censurar os jovens, mesmo  que, talvez, estejam embarcando em algumas canoas furadas. É bem melhor essa  sua manifestação do que o habitual cultivo dos seus umbigos. Muitos deles, seguramente, aprenderão nas ruas a verdadeira cidadania.  Cidadania que nada tem a ver com os depredadores  – horda que engloba  fascistas , marginais, histéricos e ladrões – cujas ações falam por si , mas que  também não saíram do nada. No caso, quem pariu Mateus que os crie.. 
O pessoal do passe livre, que obteve sucesso em suas reivindicações, agora denuncia a presença da direita no movimento e declara sua retirada das ruas. Mas não nos iludamos: continuarão em ação, agora, os golpistas de sempre que, com o apoio de mídia conhecida, apostam claramente   todas as suas fichas no caos, indiferente aos males que poderão advir para o país em termos globais.
Alguns jornalistas e “especialistas” de plantão, não sei se intelectualmente incompetentes ou deliberadamente mistificadores, agem e falam  como se vivêssemos aqui as crises do Egito, da Turquia, da Espanha e de tantos outros desastres econômicos ou sociais. Atuam no interesse de seus patrões e  no sentido do “quanto pior melhor”, insinuando, sempre que possível, que o movimento se volta contra o Governo federal.  Alguém, em sã consciência, acredita que o povo brasileiro, no geral,  repudie um Governo  que, dois dias antes, tinha aprovação da maioria?   
Tem havido uma tentativa permanente - crápula, mentirosa  - de transformar  a realidade brasileira em um caos fictício, que envolve uma falaciosa luta contra a inflação (no fundo ardentemente desejada) e uma falsa defesa da economia (que querem ver arrasada), como forma de recuperar o poder para o pessoal da classe que vaiou Dilma. Essa turma vê,  no aproveitamento das manifestações de rua, a possibilidade de um golpe branco, partindo, como sempre, de um  combate à corrupção,  que historicamente tem servido à direita como palavra de ordem que sabemos hipócrita, pois só se volta para os adversários e, convenientemente,  esquece as falcatruas dos seus próprios componentes.    
Mas quem não sabe brincar não devia brincar. Anselmo Gois talvez esteja antevendo isso quando diz, em sua coluna que “o perigo é transformar uma limonada em um limão”. Resta  saber perigo para quem...
Dilma Roussef  fez, a meu ver, um convincente discurso de estadista sobre o assunto. Ao abrir o diálogo com os manifestantes, repudiar o vandalismo e  convocar  toda a classe política para um pacto que envolva compromissos concretos com a pauta social, assume as posturas que se esperam de quem detém o apoio popular. E Dilma – não se enganem -   não é Fernando Collor. É óbvio que, a continuar a coisa como está, estarão nas ruas outros atores importantes. E eles virão, se houver radicalizações golpistas, para expressar a manutenção de  suas conquistas e contra o golpe. E para fazer outras reivindicações, que talvez não agradem aos homens da mídia. Dilma– que, aliás, possui nas ruas o seu DNA  -  não tem por que fugir das praças, mas incorporá-las como espaço de grandes manifestações, reivindicações e mesmo decisões. Isso se chama democracia participativa, em muitos casos mais efetiva que a representativa, quando esta tem como móvel o fisiologismo político.  É muito melhor estar no meio do povo do que ir às festas da elite para ouvir vaias ou alimentar os golpistas com polpudas verbas de publicidade...

Um comentário:

Jbmartins-Contra o Golpe disse...

Carta aberta à presidenta Dilma
Do sítio da Adital:

São Paulo, 19 de junho de 2013

Cara Presidenta,

O Brasil presenciou nesta semana mobilizações que ocorreram em 15 capitais e centenas cidades. Concordamos com suas declarações que afirmam a importância para a democracia brasileira dessas mobilizações, cientes que as mudanças necessárias ao país passarão pela mobilização popular.


Mais que um fenômeno conjuntural, as recentes mobilizações demonstram a gradativa retomada da capacidade de luta popular. É essa resistência popular que possibilitou os resultados eleitorais de 2002, 2006 e 2010. Nosso povo insatisfeito com as medidas neoliberais votou a favor de um outro projeto. Para sua implementação esse outro projeto enfrentou grande resistência principalmente do capital rentista e setores neoliberais que seguem com muita força na sociedade.

Mas enfrentou também os limites impostos pelos aliados de última hora, uma burguesia interna que na disputa das políticas de governo impede a realização das reformas estruturais como é o caso da reforma urbana e do transporte público.

A crise internacional tem bloqueado o crescimento e com ele a continuidade do projeto que permitiu essa grande frente que até o momento sustentou o governo.

As recentes mobilizações são protagonizadas por um amplo leque da juventude que participa pela primeira vez de mobilizações. Esse processo educa aos participantes permitindo-lhes perceber a necessidade de enfrentar aos que impedem que o Brasil avance no processo de democratização da riqueza, do acesso a saúde, a educação, a terra, a cultura, a participação política, aos meios de comunicação.

Setores conservadores da sociedade buscam disputar o sentido dessas manifestações. Os meios de comunicação buscam caracterizar o movimento como anti Dilma, contra a corrupção dos políticos, contra a gastança pública e outras pautas que imponham o retorno do neoliberalismo. Acreditamos que as pautas são muitas, como também são as opiniões e visões de mundo presentes na sociedade. Trata-se de um grito de indignação de um povo historicamente excluído da vida política nacional e acostumado a enxergar a política como algo danoso à sociedade.

Diante do exposto nos dirigimos a V. Ex. a para manifestar nosso pleito em defesa de políticas que garantam a redução das passagens do transporte público com redução dos lucros das grandes empresas. Somos contra a política de desoneração de impostos dessas empresas.

O momento é propício para que o governo faça avançar as pautas democráticas e populares, e estimule a participação e a politização da sociedade. Nos comprometemos em promover todo tipo de debates em torno desses temas e nos colocamos à disposição para debater também com o poder público.

Propomos a realização com urgência de uma reunião nacional, que envolva os governos estaduais, os prefeitos das principais capitais, e os representantes de todos os movimentos sociais. De nossa parte estamos abertos ao diálogo, e achamos que essa reunião é a única forma de encontrar saídas para enfrentar a grave crise urbana que atinge nossas grandes cidades.

O momento é favorável. São as maiores manifestações que a atual geração vivenciou e outras maiores virão. Esperamos que o atual governo escolha governar com o povo e não contra ele.

Assinam:

ADERE-MG
Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG)
AP - Assembleia Popular
Barão de Itararé
CIMI
CMP-MMC/SP
CMS
Coletivo Intervozes
CONEN
Consulta Popular
CTB
CUT
Fetraf
Fórum Ecumênico ACT Brasil
FNDC - Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
FUP
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço
Levante Popular da Juventude
MAB
MAM
MCP
MMM
Movimentos da Via Campesina
MPA
MST
Quilombo
Rede Ecumênica de Juventude (REJU)
SENGE/PR
Sindipetro – SP
SINPAF
UBES
UBM
UJS
UNE
UNEGRO