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Na semana passada, após anúncios de aumentos da taxa Selic e de 3% no preço da gasolina, lideranças do PSDB e os jornais de sempre qualificaram a medida como “estelionato eleitoral” que teria sido praticado pela presidente Dilma Rousseff porque, durante a campanha de sua reeleição, teria negado que o governo fosse aumentar juros e combustíveis.
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Em primeiro lugar, há que dizer que é mentira. Dilma nunca disse que deixaria de fazer política monetária. Aliás, até abril deste ano o governo dela aumentou a taxa Selic NOVE vezes consecutivas. Quanto à gasolina, o último aumento foi de 4% e ocorreu em novembro do ano passado. E a presidente jamais disse, durante a campanha deste ano, que não haveria aumento.
Detalhe: a inflação do ano passado e deste girou em torno de 6%, bem maior que os aumentos dos combustíveis.
O mais curioso, porém, é ver o jornal Folha de São Paulo publicar, em sua última edição dominical (9/11), editorial em que chama de “estelionato eleitoral” os aumentos de juros e combustíveis – que já estavam previstos –, a divulgação da oscilação do percentual de miseráveis no país e um aumento do desmatamento.
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Por que é “curioso”? Porque esse jornal nunca chamou assim o que foi o maior estelionato eleitoral da história recente do país: a desvalorização do real a partir de 14 de janeiro de 1999, três meses e dez dias após Fernando Henrique Cardoso ter sido reeleito presidente da República com 53,06% dos votos válidos, em primeiro turno.
Por que foi estelionato eleitoral? Porque FHC passou a campanha eleitoral daquele ano acusando o principal adversário, Lula, de pretender desvalorizar o real caso se elegesse e, ao fim, quem desvalorizou a moeda foi quem acusou o petista, segundo reportagem da mesma Folha publicada em 25 de junho de 1998.
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Foi um legítimo estelionato eleitoral o que FHC fez. Em 1998, o país estava à beira da bancarrota, mas a propaganda eleitoral tucana vendia outro mundo ao eleitor e garantia que estava tudo bem.
Nenhum grande veículo de comunicação fez o que fizeram Folha, Estadão, Globo e Veja neste ano, que anunciaram o fim do mundo após o fim da campanha eleitoral. Pelo contrário: todos esses veículos compactuaram com o acobertamento dos problemas do país.
Eis que em 14 de janeiro de 1999, 3 meses e 10 dias após a reeleição de FHC e duas semanas após ter iniciado seu segundo mandato, o país foi surpreendido por uma mudança na economia que, nos anos seguintes, jogaria o país no buraco, com explosão de inflação, desemprego, racionamento de energia elétrica etc., etc., etc.
Passada a eleição e materializado o desastre, finalmente sai um texto na grande mídia criticando FHC, mas sem chamar o estelionato eleitoral tucano pelo nome.
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Os mais jovens certamente não se lembram de quanto o país sofreu. Em 1999, mais de 26 mil empresas pediram falência. Só para comparar, no ano passado apenas 1,7 mil empresas faliram.
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Tucanos e jornais que nunca falaram em “estelionato eleitoral” mesmo após o governo de 8 anos do PSDB ter promovido o mais descarado estelionato eleitoral da história não é apenas vergonhoso, é uma bofetada no rosto da nação. Sobretudo porque, à diferença da época de FHC, o Brasil, hoje, é outro país.
Com quase 400 bilhões de dólares de reservas cambiais, com a inflação estabilizada dentro da meta, com a mais baixa taxa de desemprego da história, com os salários se valorizando ano a ano, à diferença de 1999 o povo brasileiro sabe muito bem por que reelegeu Dilma Rousseff. Mas nunca descobriu como pôde ser tão burro ao reeleger FHC.
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