quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Coxinha – uma análise sociológica


Um fenômeno se espalha com rapidez pela megalópole paulistana: os “coxinhas”. É um fenômeno grandioso, que proporciona uma infindável discussão. A relevância do mesmo já faz com que linguistas famosos se esforcem em entender a dinâmica do dialeto usado por esse grupo, inclusive.
Afinal, quem são os coxinhas, o que eles querem, como esse fenômeno se originou?
O que eles são?
“Coxinha”, sociologicamente falando, é um grupo social específico, que compartilha determinados valores. Dentre eles está o individualismo exacerbado, e dezenas de coisas que derivam disso: a necessidade de diferenciação em relação ao restante da sociedade, a forte priorização da segurança em sua vida cotidiana, como elemento de “não-mistura” com o restante da sociedade, aliadas com uma forte necessidade parecer engraçado ou bom moço.
Os coxinhas, basicamente, são pessoas que querem ostentar um status superior, com códigos próprios. Até algum tempo atrás, eles não tinham essa necessidade de diferenciação. A diferenciação se dava naturalmente, com a absurda desigualdade social das metrópoles brasileiras. Hoje, com cada vez mais gente ganhando melhor e consumindo, esse grupo social busca outras formas de afirmar sua diferenciação.
Para isso, muitas vezes andam engomados, se vestem de uma maneira específica, são “politicamente corretos”, dentro de sua noção deturpada de política, e nutrem uma arrogância quase intragável, com pouquíssima tolerância a qualquer crítica.
A Origem
Existem muita controvérsia a respeito do tema. Já foram feitas reportagens para elucidar o mistério, sem sucesso, mas é hora de finalmente  revelar a verdade a respeito do termo.
 A origem do termo “coxinha”, como referência a esse grupo diferenciado, não tem nada de nobre. O termo é utilizado, ao menos desde a década de 80, para se referir aos policiais civis ou militares que, mal remunerados, recebiam também vales-alimentação irrisórios, também conhecidos como “vales-coxinha” (os professores também recebem, mas não herdaram o apelido). Com o tempo, a própria classe policial passou a ser designada, de forma pejorativa, como “coxinhas”. Não apenas por causa do vale, mas por conta da frequência com que muitos policiais em ronda, especialmente nas periferias das grandes cidades, acabam se alimentando em lanchonetes, com salgados ou lanches rápidos, por conta do caráter de seu serviço.
Reação da coxinha, o salgado injustiçado, ao ver seu nome associado ao grupo social
Os policiais, apesar de mal remunerados, são historicamente associados à parcela mais conservadora da sociedade, por atuarem na repressão aos crimes, frequentemente com truculência. Com o a popularização de programas policialescos como Aqui Agora, Cidade Alerta e Brasil Urgente, o adjetivo coxinha passou a designar também toda a parcela de cidadãos que priorizam a segurança antes de qualquer outra coisa. Para designar essa parcela que necessita de “diferenciação” e é individualista ao extremo, foi um pulo.
Expoentes
Não cabe citar socialites ou coisa do tipo. São pessoas que vivem em um mundo paralelo essas daí. Mas vou citar três criadores de tendências no universo coxinha:
1) O “engraçado”: Tiago Leifert
Um exemplo do que o Tiago Leifert trouxe pro jornalístico Globo Esporte: apostas
babacas envolvendo a seleção da Argentina
Uma característica importante do coxinha padrão é tentar ser descolado, descontraído e não levar as coisas a sério. E nisso o maior exemplo é esse figurão da foto acima. Filho de um diretor da Globo, cavou espaço na emissora para introduzir o jornalismo coxinha na grade de esportes da Globo. Jogos de futebol valem menos do que as piadas sem graça sobre os jogos, metade do Globo Esporte é sempre sobre vídeo-game ou sobre a dancinha nova do Neymar, e TUDO vira entretenimento, não esporte.
Prova disso são declarações do próprio, como a declaração em que ele diz que não leva o esporte a sério, ou quando fala que o Brasil não é o país do futebol, é o país da novela. Isso revela duas características do coxinha default: ele não aceita críticas (e isso fica claro pelo número imenso de usuários bloqueados no Twitter pelo Tiago Leifert – incluindo este que vos escreve) e ele não tem conteúdo, provocando polêmicas para aparecer. Tudo partindo, obviamente, da necessidade quase patológica de diferenciação.
2) O “bom moço”: Luciano Huck
A aparência de bom moço – só aparência
O apresentador, que revelou beldades como a Tiazinha e a Feiticeira na Band, na década de 1990, virou, na Globo, símbolo do bom-mocismo coxinha. Faz um programa repleto de “boas ações”, que, no fundo, são apenas uma afirmação de superioridade, da mesma forma que a filantropia dos Rockfellers no início do século XX. Puro marketing.
Quando você reforma um carro velho ou uma casa, além de fazer uma boa ação, você se autopromove. Capitaliza com o drama alheio mostra que, além de “bondoso”, você é diferente daquele que você está ajudando. Como preza a cartilha do bom coxinha.
Além disso, Luciano Huck é a representação da família bem sucedida e feliz. Casado com outra apresentadora da Globo, Angélica, forma um dos “casais felizes” da emissora. Praticamente uma cartilha de como montar uma família coxinha. “Case-se com alguém bem sucedido, tenha dois ou três filhos, e leve eles para festinhas infantis junto com outros filhos de famosos”.
Para se mostrar engajado e bom moço, Huck deu até palestra sobre sustentabilidade na Rio+20. Irônico, pra quem foi condenado por crime ambiental, em Angra dos Reis. Ele fez  uma praia particular sem autorização. Diferenciação, novamente. Isolamento. Características típicas do coxinha default. Assim como “ter twitter”. Mas o twitter dele é praticamente um bot, só serve pra afagar seus amigos famosos e mandar mensagens bonitinhas.
3) A “Coxinha Política”: Soninha Francine
Soninha, em evento do PPS: “onde foi que eu me enfiei?”
O terceiro e último (graças a Deus) exemplo de coxinha é a figura da imagem acima. Soninha Francine deve ser o maior caso de metamorfose política do Brasil. Até 2006 era petista convicta, mas o vírus da COXINHICE já afetava seu cérebro, a ponto dela sair na capa da Época em 2001 falando “eu fumo maconha”, provavelmente por um brilhareco.
Daí ela saiu do PT, entrou no PPS, caiu nos braços de José Serra e do PSDB paulista e se encontrou. Tenta conciliar a fama de “descolada”, adquirida nos anos como VJ da MTV, com uma postura política típica de um coxinha padrão: individualista e conservadora. E, pra variar, manifesta tais posturas via… Twitter. Emblemático foi o dia em que Metrôs BATERAM na Linha Vermelha e ela, afogada em seu individualismo, disse que não encarou nenhum problema e que o Metrô estava “sussa”. Assim como a acusação de “sabotagem” do Metrô às vésperas da eleição de 2010.
Soninha ajuda a definir o estereótipo do coxinha default. O coxinha tenta de forma desesperada parecer um cara legal, descolado e antenado com os problemas do mundo. Mas não consegue disfarçar seu individualismo e sua necessidade de diferenciação. Não consegue disfarçar seu rancor quando os outros passam a ter as mesmas oportunidades e desfrutar dos mesmos serviços que ele.
Conclusão
O coxinha é um fenômeno sociológico disseminado em vários lugares, mas, por enquanto, só “assumido” em São Paulo (em outras cidades, os coxinhas ainda devem ter outros nomes). Não por acaso, tendo em vista que São Paulo é um dos ambientes mais individualistas do Brasil.
São Paulo é uma das cidades mais segregadas do país. É uma cidade de grande adensamento no centro, com as regiões ricas isoladas da periferia. A exclusão é uma opção dos mais ricos. Eles não querem  se misturar com o restante da população. E, nos últimos anos, isso ficou mais difícil: não dá mais pra excluir meramente pelo poder econômico. Daí, é necessário expor um personagem, torná-lo um padrão, pra disseminar essa mentalidade individualista e conservadora: é aí que surge o coxinha.
E isso é bom. Porque o coxinha, hoje, é exposto ao ridículo pelo restante da sociedade. Até algum tempo atrás, ele era apenas um personagem latente. Ele não aparecia, portanto, não podia ser criticado ou ridicularizado. No final, o surgimento dos coxinhas só reflete a mudança do nosso perfil social. E, por incrível que pareça, o amadurecimento de nossa sociedade.
Leo Rossato

22 comentários:

BAUM disse...

Perfeito, simplesmente perfeito.
Desejo-lhe cada dia mais sabedoria.

Luiz disse...

Perfeita definição e exemplo de coxinhas, mas o mais legal é como eles são ridicularizados, como naquele Movimento Cansei!

Unknown disse...

O individualismo é o preço da modernidade, não é um pecado. Em suma, é só ficar rico e a pessoa se torna "coxinha".

Unknown disse...

O mais legal de tudo é que, pessoas como eu que embora assistisse rede globo, lia veja (muito raramente por causa de suas capas ridículas dos últimos 15 anos), folha, e toda mídia "imparcial" votei em Dilma, agora se afastou definitivamente destas mídias. Qualquer notícia dada pelo JN,Veja,foha, etc, me pergunto:
Qual é a verdade?
Estamos rodeados de coxinhas e é preciso olhar de Lince para detectá-los. São exatamente tais quais no texto...

sbello disse...

muito bom alias perfeito. Parabens

BANDEIRAS NEGRAS MOTO CLUBE disse...

Muito boa sua análise !!! Perfeita ...

Unknown disse...

Não sei o que dizer sobre o seu texto, só sentir < 3 ahushaushau perfeito!

Unknown disse...

Q bosta de texto.

Unknown disse...

Q merda de texto.

Unknown disse...

quero ver publicar o mesmo texto nos tempos atuais com o cenário que vivemos, ótima definição de coxinhas kkkkk prefiro ser chamado de coxinha do que ter cara de pastel por ter votado em uma mentirosa e incompetente no poder.

Edson Marchi disse...

Parabéns, Dr. Saraiva, pelo lúcido texto. Claro que esta exposição irritou profundamente os coxinhas de plantão, o que acarretou e acarretará comentários irritadiços e grosseiros, característica inata dos coxinhas, cuja frustração é crescente. Forte abraço...

Unknown disse...

Eu vejo reações semelhantes de ambos os lados. Sou metalúrgico desde sempre e o PT e a CUT sempre foram da mesma forma individualista. Se você não concordasse com a greve, era agredido. Essa coisa de etiquetar as pessoas é ridículo. Democracia é pra todos, durante anos a esquerda e o PT se fizeram ser ouvidos via manifestação. Se a direita quer se manifestar na Paulista, tem o mesmo direito. A Dilma é legítima Presidente eleita democraticamente, e assim deve ser respeitada. Mas a liberdade de ninguém pode ser calada, seja ele coxinha, kibe ou esfiha.

Unknown disse...

Eu vejo reações semelhantes de ambos os lados. Sou metalúrgico desde sempre e o PT e a CUT sempre foram da mesma forma individualista. Se você não concordasse com a greve, era agredido. Essa coisa de etiquetar as pessoas é ridículo. Democracia é pra todos, durante anos a esquerda e o PT se fizeram ser ouvidos via manifestação. Se a direita quer se manifestar na Paulista, tem o mesmo direito. A Dilma é legítima Presidente eleita democraticamente, e assim deve ser respeitada. Mas a liberdade de ninguém pode ser calada, seja ele coxinha, kibe ou esfiha.

Unknown disse...

Oi Saraiva
Parabéns pela publicação.
Gostei das explicações; até o momento não tinha conseguido fazer o link do termo utilizado com o comestível.
Lembrando que os coxinhas também berram nos congestionamentos mas não se enxergam como co-autores do problema nem estão dispostos a sair dos seus carrinhos ( afinal pagam IPVA) e encarar o transporte público. Não são eles os "diferenciados" que protestaram contra a instalação de uma estação de Metrô em Moema?
EHHHH coxinhas !!!! Evite consumir. Faz mal ao colesterol e a minha paciência.

Nalini disse...

Preferido ser chamado de "coxinha" do que de corrupto e ladrão. O Brasil é um país muito caro ao coração do mestre Jesus e sabe quando irá virar um país comunista? NUNCA! O Alto não há de permitir. Escreva o que eu estou dizendo. O reinado do PT está muito próximo do fim. E quando esse dia chegar eu vou dar tanta risada, mas tanta risada dessas caras horrendas, incultas, atrasadas, coléricas, barbudas, que semeiam a discórdia. Vai ser muito bom.

Lu Mazza disse...

Porcaria de texto. FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORA PT LIXO!

Unknown disse...

Vivendo e aprendendo!

Unknown disse...

Vivendo e aprendendo!

Unknown disse...

Pelo que eu entendi não basta ser rico. Tem que ser rico e individualista. Mas pode ser classe média metido a.besta tb. Eu e meu umbigo. Aí é coxinha. Tipo: vv sabe com quem vc está falando? Nariz empinado e olhar por cima! Isso é coxinha!

Unknown disse...

Parece que o ponto central do conceito apresentado é a necessidade de diferenciação. Qual o problema? As pessoas não são iguais. Devem ter direitos iguais, mas não porque sejam iguais. Quem não tem capacidade deve se esforçar mais. Quem não tem capacidade, nem quer se esforçar mais, que fique para trás. Ou vira socialista é pregue que o Estado tem que dar assistência. Caro, Saraiva, tenho a direita como ideologia forte, muito mais do que está apresentado nesse texto, e posso dizer que preconceito e intolerância existe dos dois lados.

Cas disse...

Texto típico de quem não tem muito o que dizer e tem que inventar essas mer... de teorias da conspiração. Tenta desqualificar as pessoas e até mesmo uma classe inteira com base em invencionices, pois não aceita pontos de vista e posturas divergentes e não tem algo realmente
concreto para falar. Essa estória de que as pessoas são contrárias na política porque não aceitam que os outros possam desfrutar do mesmo status é o cúmulo de se jogar uns contra os outros. É não poder encontrar argumentos reais e partir para apelos sentimentais e como disse antes teorias da conspiração. Infelizmente as pessoas menos esclarecidas caem nessas conversas, pois algumas também são fãs dessas manias de perseguição que infelizmente, muitas pessoas querem ter para tentar justificar coisas injustificáveis. Só falta lançar um filme agora: A Invasão dos Coxinhas. Humildade justamente é o que está faltando para quem tem que inventar essas coisas para se justificar.

Wendel disse...

ENTENDO.
Eu não sabia o que significava coxinha até agora. Você diz que o termo foi primeiramente criado de forma pejorativa para ser associados aos policiais desde a década de 80, por eles serem mais conservadores e atuarem na repreensão dos crimes. E que esse adjetivo passou a designar a parcela da população que prioriza a segurança acima de qualquer outra coisa.
Entretanto você também afirma freneticamente, e sem dar mais detalhes, que eles são “individualistas ao extremo” e que por isso merecem essa diferenciação. Que na verdade é apenas uma forma de procurar um padrão onde não existe.
Ora, se um coxinha é mais conservador e prioriza a segurança acima de qualquer coisa, como é que ele seria “individualistas ao extremo”? São características inversamente proporcionais. Além disso usar um termo que foi usado de forma pejorativa, eu não sei bem o contexto, mas usar esse termo que era usado contra a policia é meio suspeito. Já que os únicos que fariam isso são os quem tem raiva da policia, e no meu entender quem tem raiva da policia é bandido.