Como o reacionarismo ululante de Villa deu a ele os holofotes da mídia apesar dos erros constantes.
No DCM
Não tenho grandes expectativas em relação à academia brasileira, mas
mesmo assim me surpreendi ao ler um artigo sem nexo na Folha, nas
eleições de 2010, e ver que o autor era professor da Universidade
Federal de São Carlos.
Pobres alunos, na hora pensei.
Não conhecia o professor Marco Antonio Villa, historiador não sei de
que obras. No artigo, depois de ter entrado na mente de Lula, ele
contava aos brasileiros que a escolha de Dilma se dera apenas para que
em 2014 Lula voltasse ao poder, nos braços da “oligarquia financeira”.
Villa, com as asas de suas teorias conspiratórias, voara até 2014 para
prestar um serviço à Folha e seus leitores.
Não sei se Villa conhece a história inglesa, mas deveria ler uma frase
de Wellington, o general de Waterloo: “Quem acredita nisso, acredita em
tudo”.
Minha surpresa não pararia ali. Saberia depois que, graças a seu
direitismo estridente e embalado numa prosa com as vírgulas no lugar,
Villa virou presença frequente em programas de televisão cujo objetivo
era ajudar Serra, notadamente na Globonews sob William Waack.
Mais recentemente, ele participou de animadas mesas redondas no site
da Veja sobre o Mensalão. Vá ao YouTube e veja quantas pessoas vêem as
espetaculares discussões de que Villa participa ao lado de Augusto Nunes
e Reinaldo Azevedo. O recorde de Psy pode ser batido antes do que
imaginamos.
Soube também que ele lançou um livro sobre o Mensalão. Abominei sem ler. Zero estrela de um a cinco.
No site da Veja, ele é presença frequente, para infortúnio de leitores
que se desinformam espetacularmente com suas opiniões. Vale a pena
reproduzir aqui a visão convicta de Villa sobre o MPL nos primeiros
dias de protesto. O blogueiro Augusto Nunes fez questão de publicá-la
em, acredite, dezesseis pontos que estavam errados do primeiro ao
último.
Alguns deles:
1. não é o que pode ser chamado de movimento social, sociologicamente falando;
2. é um ajuntamento de pequenos grupos ultra-esquerdistas sem qualquer importância política;
3. tem uma prática típica de grupos fascistas, são eleitoralmente inexpressivos;
4. a passagem de ônibus virou um eficaz instrumento para as
lideranças desses grupelhos dar satisfação às suas inquietas “bases”,
cansadas de ouvir discursos revolucionários, negadores da democracia
(chamada depreciativamente de “burguesa”), sem que tivessem o que chamam
de prática revolucionária;
5. para estes grupelhos, o vandalismo é um excelente instrumento de
propaganda. Eles se alimentam do saque, da violência e da destruição do
patrimônio público e privado;
6. o poder público não sabe agir dentro da lei para conter os
fascistas. Ou se omite, ou age como eles (ou da forma como eles querem);
7. agir com energia, dentro dos limites legais, é a forma correta de conter os fascistas;
9. é evidente a tentativa de emparedar o governador do estado. O prefeito – sempre omisso – não está na linha de fogo;
10. O “movimento” está desesperadamente procurando um cadáver;
11. E como bem disse um comentário, este movimento não vale vinte centavos.
Este é Villa, na sua essência. Este o comentarista que a grande mídia usa incessantemente para deseducar o público.
Passados alguns dias, quando ele percebeu que os que lhe pagam estavam
gostando do MPL por supostamente emparedar o governo, ele desmentiu
tudo o que tinha categoricamente afirmado. Mais uma vez Augusto Nunes
lhe deu microfone em seu blog.
Este movimento tem características que, sinceramente, não encontro paralelo no que li e estudei.
Ora, ele não estudou os protestos de 68 na França? Ou os do Ocupe Wall
St? Você pode ver a estatura de Villa ao confrontar suas observações
rasas, erradas e giratórias com as do filósofo Renato Janine Ribeiro,
num artigo que o Diário publicou hoje.
Villa confunde com seu desconhecimento. Janine aclara com seu conhecimento.
Minha única surpresa em relação a Villa derivou de uma chancela importante de Elio Gaspari, um dos melhores jornalistas (sic)
que vi em ação como diretor adjunto da Veja nos anos 1980. Ele fez
parte da equipe de Elio na elaboração de seu livro “A Ditadura
Derrotada”.
Villa, conta Elio, “conferiu cada citação de livro ou documento. Foi um
leitor atento e pesquisador obsessivo. Villa tem uma prodigiosa
capacidade de lembrar de um fato e de saber onde está o documento que
comprova sua afirmação. Ajuda como a dele é motivo de tranqüilidade para
quem tem o prazer de recebê-la. Além disso, dá a impressão de saber de
memória todos os resultados de jogos de futebol”. Foi o que escreveu
Elio.
Uau.
Villa trabalhou com Elio, portanto. Não aprendeu nada?
Não parece. Elio tem uma independência intelectual perante os partidos e os políticos (sic)
que passa completamente ao largo de Villa e congêneres. Isso lhe dá
autoridade para criticar e elogiar situação e oposição, e credibilidade
para ser levado a sério.
Villa, em compensação, é fruto de uma circunstância em que se procura
desesperadamente dar legimitidade acadêmica a um direitismo malufista.
Em outros tempos, Villa – caso acredite mesmo nas coisas que escreve e
fala — seria um extravagante, um bizarro, imerso num mundo que é só só
seu. Você poderia imaginá-lo jogando dardos num pôster de Lula.
Nestes dias de confronto, é um símbolo de como alguém pode chegar aos
holofotes e virar “referência” falando apenas o que interesses
poderosos querem ouvir.
As “referências” gozam de impunidade torrencial. Podem, como Villa,
errar sempre que não serão cobrados. Continuarão a ser procurados para
espalhar sua ignorância cínica — comprada pelo 1% como vil mercadoria.
Paulo NogueiraNo DCM
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