Barroso indica um reforço dos que se aplicam em preservar a coerência pessoal e a isenção do STF
A franqueza prevaleceu sobre a habilidade conveniente, no que
transpareceu das respostas de Luís Roberto Barroso aos senadores que o
sabatinaram como indicado de Dilma Rousseff para a vaga existente no
Supremo Tribunal Federal. A atitude não foi propriamente inovadora, mas,
no mínimo, junta-se à muito pequena minoria dos que fugiram à praxe. E
prenuncia transformações importantes na essência mesma do atual Supremo.
Uma ponderação ilustrativa de Luís Roberto Barroso, sobre o chamado
julgamento do mensalão: "O Supremo foi mais duro do que em julgamentos
anteriores".
Um tribunal pode fazer justiça se é menos ou mais duro a depender do que
ou a quem julga? A observação do jurista faz a esperançosa indicação de
um reforço dos que se aplicam, no Supremo, em preservar a coerência
pessoal e a isenção do tribunal. Isenção que é, ou seria, a alma da
ideia de justiça.
Também com inegável componente crítico ao Supremo dos anos recentes,
outra observação de Barroso promete acentuar o debate sobre o que no
Congresso se chama de judicialização da política, a propósito das
frequentes incursões do Judiciário, leia-se o Supremo, em assuntos do
Legislativo.
Agora mesmo está suspensa a tramitação de um projeto, por ter o ministro
Gilberto Mendes se pretendido com o direito e o poder de fazê-lo
(suspensão que o próprio e o procurador-geral da República estendem com
ares de franca provocação). Barroso é dos que só admitem ação
equivalente à legislativa, por parte do Supremo, quando o Congresso não
atenda à necessidade de definição. A exemplo da pesquisa com
células-tronco. Ou nos casos, claro, de dúvida sobre
constitucionalidade, que para isso é o Supremo.
Esse debate é de importância fundamental. O princípio da divisão de
Poderes está jogado no triturador que é a degradação política, moral e
intelectual. O Congresso se diz perturbado pelo excesso de medidas
provisórias emitidas pelo governo; o governo recorre a medidas
provisórias porque o Congresso não trabalha, cada projeto dependendo de
tempo infinito para chegar à votação, se chegar; e o Supremo imiscui-se
nos outros poderes. O Estado de Direito se dissolve.
A tendência, neste momento dos meios de comunicação brasileiros, é ver
Luís Roberto Barroso pela ótica do restante julgamento do mensalão. No
estado em que está o Supremo, sua presença promete ir muito além do
mensalão. É preciso que vá.
Janio de FreitasNo fAlha
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