Aécio foi o único presidenciável que é ou já foi financiados por empresas ligadas a exploração de trabalhado escravos |
São Paulo – O candidato Aécio Neves, do PSDB, ainda não se pronunciou
sobre a carta-compromisso contra o trabalho escravo contemporâneo,
documento idealizado pela Comissão Nacional para a Erradicação do
Trabalho Escravo (Conatrae), vinculada à Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência da República, que visa a que os futuros governantes
assumam como prioridade a questão.
Tema fundamental para a promoção dos direitos humanos no Brasil, o
compromisso de combater o trabalho escravo foi firmado durante a
campanha do primeiro turno por boa parte dos presidenciáveis – Dilma
Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Luciana Genro (Psol) e Eduardo Jorge
(PV).
Na carta, o candidato assume 12 compromissos, entre os quais o de não
permitir influências de qualquer tipo em decisões que levem a aprovação
de leis ou à implementação de ações necessárias para erradicar o
trabalho escravo, a de efetivar ações presentes no 2º Plano Nacional
para a Erradicação do Trabalho Escravo e nos Planos Estaduais para a
Erradicação do Trabalho Escravo (onde eles existirem) e o de não
promover empreendimentos e empresas, dentro ou fora do país, que tenham
utilizado mão de obra escrava ou infantil.
Um dos itens centrais, devido ao contexto do Legislativo, é o de
reconhecer e defender a definição de trabalho análogo ao de escravo
presente no artigo 149 do Código Penal (caracterizado por trabalho
forçado, servidão por dívida, condições degradantes ou jornada
exaustiva), tema que é essencial para a bancada de representantes do
agronegócio.
Como signatário de convenções da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) sobre trabalho escravo, o Brasil pode ser submetido ao sistema
internacional de justiça caso descumpra medidas no setor.
Em 1995, no primeiro ano do governo de Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), a escravidão moderna foi reconhecida no país e, desde então, tem
se buscado aprimorar os instrumentos de repressão ao trabalho
escravo. Para planejar as ações nesse sentido, o então presidente
instituiu o Grupo Especial de Fiscalização Móvel e o Grupo Executivo de
Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf). Este último acabou
substituído pela Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho
Escravo (Conatrae) em 2003, o primeiro ano do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), que também estabeleceu o Plano Nacional para
Erradicação do Trabalho Escravo.
Na opinião de frei Xavier Plassat, coordenador da campanha contra o
trabalho escravo da Comissão Pastoral da Terra (CPT), não há qualquer
surpresa em que o candidato Aécio Neves não tenha ainda se manifestado
sobre o documento contra o trabalho escravo contemporâneo. “É uma falha
muito grave, na minha opinião, de não ter se comprometido com isso,
provavelmente para angariar mais votos da parte mais reacionária,
pode-se dizer, do patronato e empresariado brasileiro”, lamenta.
Radicado no Brasil desde 1989, o frade dominicano francês iniciou a luta
contra o trabalho escravo oito anos mais tarde. Em 2008, ele foi
agraciado tanto pela ONG estadunidense Free the Slaves como pela
Presidência da República do Brasil, no governo Lula, com o Prêmio
Nacional de Direitos Humanos.
“É uma representação bem cabal do que representa a sua candidatura.
Minas Gerais é um estado que não se pode alegar que não está sabendo
dessa questão. Em 2014, é o estado que lidera os casos de trabalho
escravo e de trabalhadores libertados”, diz, citando que já houve mais
de dez casos envolvendo trabalhadores rurais ou na construção civil em
terras mineiras.
Na avaliação do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura (Contag), Alberto Broch, a demora e/ou a recusa do
candidato Aécio Neves em assinar a carta-compromisso da Conatrae
demonstra “as dificuldades que ele tem de se comprometer" com essa
causa. “Ele mostra que não tem compromisso com essa causa, que é dos
trabalhadores e de todos os movimentos que lutam pelo fim daquilo que
ainda muito nos envergonha no Brasil, que é o trabalho escravo”,
avalia.
Durante as eleições de 2010, a carta da Conatrae foi assinada pela
então candidata Dilma Rousseff, mas não pelo principal adversário da
oposição, o tucano José Serra.
Procurada pela RBA sobre a posição do presidenciável Aécio
Neves, a assessoria de campanha do candidato tucano não apresentou
resposta até o fechamento desta reportagem.
Controvérsias
De acordo com um levantamento divulgado pela ONG Transparência Brasil
no último dia 2, Aécio Neves foi um dos 61 candidatos – e o único
presidenciável – que é ou já foi financiados por empresas ou pessoas
ligadas a exploração de trabalhadores em condições análogas às de
escravos, tendo recebido R$ 127.209,00 de quatro doadores de campanhas
de 2002 e 2006 para o governo de Minas Gerais.
Em outra ponta, o PSDB, partido de Aécio Neves, é favorável à PEC 215,
que tira da Presidência da República e transfere para o Congresso
Nacional o poder de definir sobre a demarcação de novas terras
indígenas, uma demanda encabeçada por parlamentares da bancada
ruralista.
Em maio passado, após 15 anos de tramitação no Congresso, o Senado aprovou a Proposta de Emenda Constitucional do Trabalho Escravo,
a PEC 57A/1999, que prevê a expropriação de terras para fins de reforma
agrária e programas de habitação popular onde for observada a prática
do trabalho escravo, sem qualquer tipo de indenização aos proprietários.
No entanto a aplicação integral do previsto pela emenda acabou
condicionada a projeto de lei (PLS 432/2013) que é objeto de polêmica
entre proprietários rurais e defensores de um combate mais duro ao
trabalho escravo. Atual candidato à vice-presidência na chapa de Aécio
Neves, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), relator da PEC, acolheu uma
emenda de redação no Senado, sugerida pelo senador Romero Juca
(PMDB-RR), que obriga a deixar mais claro o teor da legislação sobre o
que é trabalho escravo.
Os defensores da emenda exigiram uma definição em lei, alegando que, se
não houver um conceito mais claro, os proprietários rurais ficam ao
arbítrio de uma fiscalização que pode ser excessivamente rigorosa e que
abriria margem a que uma eventual infração trabalhista fosse
interpretada como prática de trabalho escravo. Dessa forma, haverá uma
tramitação paralela à PEC com um projeto de lei que regulamente a
matéria a fim de evitar o risco, de acordo com representantes da
bancada ruralista, de haver interpretações equivocadas.
Para o frei Xavier Plassat, a necessidade de uma nova definição para
trabalho escravo representa um retrocesso, pois o conceito já consta do
artigo 149 do Código Penal, que tipifica o crime de "reduzir alguém a
condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados
ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de
trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão
de dívida contraída com o empregador ou preposto."
“Ultimamente, há muitas tentativas de retroceder e reduzir os
instrumentos disponíveis para combate ao trabalho escravo, inclusive com
o cúmulo de se rever a própria definição do que é trabalho escravo,
uma bandeira da bancada ruralista de rever a definição do artigo 149 do
Código Penal”, alerta o frei.
Renato BrandãoNo RBA
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
2 comentários:
Tem capivara nesse brejo. Não é possivel que um ser que se apresenta para governar um país não se defina no primeiro momento à respeito da maior infâmia possivel , o trabalho escravo.
É capivara de rabo.
Carlos Serafim, o Aécio além de não ter caráter e ligado aos poderosos.
Eu morava no Leme e agora moro no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro e aqui todos sabem que ele é cheirador, cachaceiro e ainda bate em mulher.
Tenha uma ótima noite.
Abraços,
Saraiva
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