quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O silêncio de Aécio nos ataques ao Nordeste



Desde a apuração dos votos no domingo, a internet foi inundada por uma série interminável de posts preconceituosos em relação aos nordestinos pela votação maciça obtida na região por Dilma.


O sentimento xenofóbico de parte da população do Sul e Sudeste contra os nordestinos não é nenhuma novidade. Tanto que há poucas semanas a nova Miss Brasil também foi xingada nas redes sociais pelo simples fato de ser cearense.


O fato novo é que desta vez a discriminação vem associada a um movimento político de claro apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves, e que foi potencializada pela fala do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que desqualificou o voto dado em Dilma como tendo vindo de uma parcela ignorante da sociedade.


Ainda assim, passados três dias do recrudescimento da demofobia do Sul maravilha, Aécio não fez um mísero pronunciamento repudiando o preconceito contra cidadãos dos quais ele pretende ser o líder daqui a menos de três meses.


O acirramento dos ânimos, natural tendo em vista a quarta disputa consecutiva em segundo turno entre petistas e tucanos, não pode ser o sinal verde para atitudes tão vis. Na França, por exemplo, a demora do Partido Socialista em rebater o ultranacionalismo racista de Jean-Marie Le Pen fez crescer o ódio aos imigrantes.


Ao não se posicionar claramente contra o preconceito antinordestino, Aécio abre espaço para que este pensamento ganhe força e coloca em risco, ao fim e ao cabo, nossa democracia, ainda tão jovem e conquistada a duras penas por mulheres e homens de todos os cantos do país.


Mais: ao calar, o senador, como diria o ditado, parece consentir com o ódio aos nordestinos. Pode-se inferir que o tucano, ciente de que não vai obter melhora significativa de sua votação nos estados da região, quer mais é alimentar o exacerbamento do antipetismo entre o eleitorado das metrópoles do Sul-Sudeste visando a conseguir vantagem sobre Dilma em colégios eleitorais de peso como São Paulo e Rio de Janeiro para aplacar a grande derrota que a presidenta deve lhe impor no restante do país. Aécio vai sujar as mãos desta maneira em troca de uma eleição?


Se a fala de Levy Fidelix incitando a perseguição de homossexuais no debate da Record foi um choque para os brasileiros, o silêncio de Aécio sobre os ataques sofridos pelos nordestinos tem potencial para nos envergonhar muito mais.

Pedro Muxfeldt Oliveira
No DCM

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