'PSDB cutuca a fera e descobre que ela está tão viva quanto sempre; ao questionar resultado das eleições, como fez o deputado Carlos Sampaio, dizer que presidente reeleita Dilma Rousseff não tem condições de governar, a exemplo do que escreveu o vice-presidente do partido, Alberto Goldman, no tuíte-lembrança do golpismo de Carlos Lacerda, emitido por secretário José Aníbal, e no sonoro "não ao diálogo" expressado pelo ex-candidato a vice Aloysio Nunes tucanos estimulam radicalização; na esteira do microclima golpista, Reinaldo Tabosa Azevedo esbraveja pelo impeachment em horário nobre e estrelas cadentes como Lobão quebram promessa de sair do País para ver o circo pegar fogo; triste, lamentável e muito perigoso; no sábado 1, em plena avenida Paulista, a fera foi dar uma voltinha para tomar sol; passarinhos voaram; unidade com Jair Bolsonaro, é o que eles constróem
Marco Damiani, Brasil 247
Cutucaram o monstro – e ele deu sinal de vida. O primeiro a chegar perto da fera foi o ex-governador Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB. Em artigo, logo após a contagem dos votos de primeiro turno, Goldman insinuou que a presidente Dilma Rousseff, caso vencesse a segunda volta – o que acabou acontecendo, pela diferença de quase 3,5 milhões de votos sobre o tucano Aécio Neves – não teria condições de governar o País.
Também às vésperas do segundo turno, foi a vez do deputado licenciado José Aníbal disparar uma sequência de tuítes enviesados, que assim se encerrava:
Lacerda dizia de Getúlio:"Não pode ser candidato.Se for,não pode ser eleito.Se eleito,não pode tomar posse.Se tomar posse,não pode governar.
José Aníbal @jose_anibal Seguir
Lacerda dizia de Getúlio:"Não pode ser
candidato.Se for,não pode ser eleito.Se eleito,não pode tomar posse.Se
tomar posse,não pode governar.
Para despistar, colocou a pensata como se fosse o ex-presidente Lula, mas o monstro gostou da reverberação causada pela mensagem.
No day after da árdua e legítima vitória de Dilma, o ex-candidato a vice-presidente na chapa tucana Aloysio Nunes Ferreira espumou: "Não tem diálogo nenhum", orientou ele para quem nele acredita. Com as responsabilidades assumidas em campanha, Alô sabe o peso de cada uma de suas palavras. Foi, sim, uma senha para isolar, ou muito mais que isso, a presidente eleita.
Na semana passada, quem testou a anomalia foi o coordenador jurídico do PSDB, Carlos Sampaio, ao entrar com pedido no TSE para auditoria nos resultados eleitorais. Detalhe: sem apontar um caso concreto para colocar em suspeição a democracia brasileira. Dele se encarregou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerando a iniciativa como feita para "comprometer a credibilidade do sistema eleitoral deste País".
Mas sempre há quem goste dos discursos de quebra da ordem, e sobre eles esfregue, ainda que grosseiramente, verniz jurídico. De plantão para situações como essa, coberto pela toga do privilégio, Gilmar Mendes, ministro do STF, foi o primeirão entre seus pares a buscar a mídia para mostrar todo o seu medo de que o Supremo se transforme, sabe-se lá por que, numa corte bolivariana. Deu na Folha. Na onda da grande festa democrática, Mendes agiu como uns tantos estraga prazeres que circulam por aí, querendo se juntar.
A esta altura, como um imenso crocodilo imóvel, o monstro já abria e fechava lentamente seus olhos lubrificados. Sim, mostrou que está vivo. E já balança o rabo, em sinal de aprovação, a cada vez que escuta o tucano de quatro costados Reinaldo Tabosa Pessoa, quer dizer, Azevedo, cornetear pelo impeachment da presidente recém eleita, ao microfone de uma concessão pública chamada rádio Jovem Pan, em São Paulo.
Lenildo, ou seja, Reinaldo, que de fato em muito se parece com o antigo colunista do Jornal da Tarde, na década de 1970, ligado ao movimento Tradição Família e Propriedade (TFP) e ao estamento militar, tem entre seu fãs o ex-roqueiro Lobão, que prometeu, em vão, mudar de País em caso de vitória de Dilma. Ainda está por aqui, disse que não vai mais, mas a fera enjaulada, que parecia morta, deu a ele uma piscadinha de conivência.
Com tantos incentivos, alguém tomou para si a chave do cárcere do monstro e o levou para dar uma voltinha no sábado 1, pela avenida Paulista, numa passeata de derrotados pelas urnas. Lá estavam as faixas que pediam a volta do poder militar no Brasil, a quebra da segura rotina democrática, a aposta na volta ao passado de exceção, exclusão e dor.
Solto agora, até que novamente fique preso e esquecido, como merece, não há tucano que, o tendo cutucado – como fizeram, efetivamente, Goldman, Aníbal, Sampaio e outros - assuma o feito. Para todos os efeitos, eles com seu ar superior defendem a ordem democrática, mas essa atitude é absolutamente paradoxal frente as provocações que eles próprios, na condição de líderes, dispararam em texto, tuite, declaração e peça jurídica. Queriam o que? Que não houvesse repercussão positiva a suas lamentações? Pois estão colhendo o que semearam.
Melhor do que voar como passarinhos assustados fez o deputado tucano Xico Graziano, que pediu para que deixem o PSDB os filiados que investem na alternativa da ruptura da ordem. Como paga, ele vai aguentando críticas e xingamentos. Mais um pouco e ele próprio terá de sair.
Enquanto o PSDB, como partido político, não se manifestar claramente a favor da democracia e contra qualquer insinuação golpista, o monstro sabe que ali está cheio de amigos. Para, quando puder, também triturá-los."
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